Web3. Mais do que apenas três letras e um número, o termo resume o que promete ser uma nova revolução na internet, baseada na descentralização e no controle dos dados nas mãos dos usuários, em detrimento das chamadas big techs.
Não à toa, gigantes como a Meta, a dona do Facebook, já estão apostando boa parte das suas fichas nesse novo mundo, expresso em conceitos como blockchain, criptomoedas, NFTs e metaverso. A atenção a esse cenário não está restrita, no entanto, a Mark Zuckerberg e seus pares nessa indústria.
No Brasil, já há também exemplos de figuras com um currículo de peso no ecossistema de empreendedorismo, tecnologia e startups dispostos a ingressar e a fazer história também nessa arena. Esse é o caso da AlmaDAO, formada por empreendedores, influenciadores, profissionais de marketing, desenvolvedores e afins.
Criado há pouco mais de um mês e composto inicialmente por 28 membros, o coletivo tem entre seus integrantes nomes como Tallis Gomes (Easy Taxi, Singu, G4 Educação), Rony Meisler (Reserva e AR&Co), Rapha Avellar (Adventures), Paulo Orione (Decora), Ivan Pereira (Mind Lab e eduK), Laio Santos (Rico Investimentos) e Robson Harada (Itaú Unibanco).
“A Web3 pode construir uma internet totalmente diferente, mas ainda é um mato muito alto”, diz Paulo Orione, ao NeoFeed, que faz um paralelo com o entusiasmo dos anos de 2009 e 2010, o início do boom das startups no Brasil. “Queremos incentivar, acelerar, participar e aprender com essa revolução.”
Um dos seus “sócios” nessa empreitada, Ivan Pereira acrescenta: “Na Web3, você consome, produz e é dono. Você faz parte e tem gerência sobre aquele produto e participa da governança”, afirma. “Todos nós já temos projetos interessantes no currículo e podemos ajudar a alavancar essas ideias.”
O formato adotado pelo coletivo, de Organização Autônoma Descentralizada (DAO, na sigla em inglês), já é um exemplo dessa visão. “Somos 28 cabeças pensando juntas e colaborando. Em vez de delegar o poder a um ‘guardião’, da remuneração à participação, não há ditadores nas decisões.”
Como parte desse “consenso”, uma das primeiras iniciativas da AlmaDAO é a sua estreia no NeoFeed. O coletivo e seus membros irão assinar a coluna Web3.0, que irá tratar de inovação e Web3.
Outra prioridade da AlmaDAO já nessa largada do projeto é apostar na educação e na produção de conteúdos a respeito da Web3, com diferentes materiais sobre esse conceito e temas relacionados. Essa abordagem, já em andamento, será feita em duas frentes.
Com uma pegada de evangelização e conteúdos gratuitos, a primeira delas será focada no público em geral e na exploração de conceitos mais básicos, por meio de plataformas como Instagram, LinkedIn, TikTok e YouTube. Uma das primeiras produções será uma série sobre cibersegurança na Web3.
“Vamos atuar junto ao público mais mainstream e adotar quase um tom professoral, abordando conceitos mais básicos”, diz Robson Harada ao NeoFeed. “Não adianta nada criarmos uma DAO e trazemos empresas dentro do conceito de Web3 se não temos consumidor e demanda para isso.”
A ideia, porém, é fugir do viés que esses temas têm sido tratados. “O foco é olhar a tecnologia como um meio e não como fim”, diz Pereira. “Não vamos falar, por exemplo, de como fazer dinheiro negociando ativos digitais, mas sim de como essas e outras tecnologias podem resolver problemas mais amplos.”
A outra ponta será centrada em produções destinadas ao público que já está imerso nesse novo mundo, a partir de podcasts e outros formatos que irão abordar os temas sob uma ótica mais técnica e de maior profundidade.
A aproximação entre esses dois públicos – o mainstream e os aficionados – é mais uma questão no radar. Aqui, a visão é de que há muitos projetos de enorme potencial sendo tocados no País. Ao mesmo tempo, boa parte deles ainda dialoga apenas com o “cara ao lado”, ou seja, está restrito a esse universo.
AlmaDAO já tem laços com algumas dessas iniciativas locais de Web3. Entre elas, a Loopi Pay, carteira digital para a compra de criptoativos via Pix
Assim, o plano é usar os conhecimentos e a bagagem diversa de cada integrante do coletivo em mentorias junto a esses empreendedores. Da mesma forma, a intenção é ampliar o número de integrantes no núcleo da AlmaDAO, a fim de dar ainda mais diversidade ao coletivo.
“A Web3 não é algo isolado do restante do mundo dos negócios. Então, vamos usar a nossa vivência em questões mais amplas, como gestão, marketing e comercial”, diz Orione. “A ideia é tirar a Web3 da caverna e realmente levar esses caras ao mercado”, diz Orione.
Em contrapartida, uma outra orientação vai guiar a conexão com esses empreendedores. “Estamos chegando com uma postura de bastante humildade”, afirma Harada. “Também vamos aprender com eles. Não estamos aqui pra ditar regras sobre a Web3.”
O apoio a esses empreendedores também passará pela conexão com uma outra camada a ser formada na AlmaDAO. De olho no desafio de achar mão de obra qualificada na área, o coletivo também irá criar atalhos entre esses projetos e profissionais tarimbados em diversos segmentos.
No balanço entre apoio e aprendizado, a AlmaDAO já tem laços com algumas dessas iniciativas locais de Web3. Entre elas, a Loopi Pay, carteira digital para a compra de criptoativos via Pix, o sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central.
Em uma outra etapa, mais no médio prazo, a AlmaDAO começa a discutir um modelo para investir nesses projetos. Seja diretamente ou mesmo na ponte dessas iniciativas com outros investidores do mercado. Esse braço não estará preso aos formatos mais tradicionais, como o venture capital.
“Já fomos procurados por fundos interessados em colocar dinheiro para investirmos. Só que não necessariamente da maneira que queremos fazer”, diz Oliveira. “Mas investir está definitivamente no nosso escopo.”
Em linha com os princípios da Web3, a definição de como isso será feito, passará pelo diálogo com esse ecossistema. “Queremos entender realmente o que eles precisam para, aí sim, chegar com um formato que faça sentido para essa comunidade”, conclui Orione.