Desde que abriu o capital em fevereiro de 2021, a empresa de serviços marítimos Oceanpact, que oferece serviços e afretamento de embarcações para companhias de petróleo, vem navegando por mares turbulentos em meio a atraso de contratos e perdas trabalhistas.
Essas águas agitadas levaram o papel da companhia fundada pelo engenheiro naval Flavio Andrade a cair mais de 80% em seu pior momento. Mas, aos poucos, a empresa que tem entre seus investidores a Dynamo, Leblon Equities e HIX Capital está conseguindo voltar a navegar sem tantos solavancos que a afetaram nos últimos dois anos com a "ajuda" de um nome: Petrobras.
De um lado, a Oceanpact ganhou duas ações de indenização na Justiça da Petrobras (e tem mais três em análise) que podem adicionar até R$ 750 milhões ao seu caixa (a companhia vendeu já parte dos direitos creditórios dessas causas, no valor de R$ 100 milhões, em julho). E, por outro, a estatal brasileira está voltando a alugar embarcações para suas operações offshore com reajustes que variam de 30% a 70% do valor da diária.
“Hoje, estamos com 100% da nossa frota operacional de navios contratados”, diz Andrade, em entrevista ao NeoFeed. “Crescemos em um período no qual o mercado recuou.”
Neste ano, a ação da Oceanpact sobe 86%, elevando o valor de mercado da companhia para R$ 1 bilhão. Mas os papéis estão ainda 50% abaixo do IPO, negociados a R$ 5,43, um sinal de que os investidores estão enxergando a mudança de rota da companhia, mas ao mesmo tempo ainda seguem cautelosos em relação à sua recuperação.
Desde 2022, a Oceanpact iniciou uma reestruturação e foi buscar nomes para ajudá-la a recuperar a confiança do mercado. Um exemplo foi a chegada de Eduardo de Toledo como CFO, executivo com passagens pelo Grupo Ultra e Klabin. No board, a Dynamo indicou Fabio Schvartsman, ex-CEO da Vale e da Klabin.
Neste período, com o dinheiro do IPO (a companhia captou R$ 1,1 bilhão) e de emissão de duas debêntures, a Oceanpact investiu R$ 2 bilhões na compra de embarcações e de robôs para as suas operações marítimas.
No total, a Oceanpact conta com uma frota de 28 navios – sendo que quase 50% deles foram comprados depois do IPO (12 embarcações). “Aproveitamos um momento positivo, quando as embarcações estavam a preços baixos”, afirma Andrade.
De acordo com o CEO da Oceanpact, o Brasil tinha 500 embarcações de apoio a operações offshore em 2015. Esse número caiu para 270 em 2020. E, de lá para cá, vem subindo progressivamente. Nas contas de Andrade, são 420 embarcações operando no Brasil.
São navios contratados por empresas petroleiras – em especial a Petrobras – para fazer diversas operações de apoio à exploração de petróleo que vão desde navios que armazenam o óleo extraído até embarcações de combate a derramamento e de captura de dados oceanográficos.
A boa notícia para a Oceanpact, e para todo mundo que atua nessa área, é que com a demanda crescente por petróleo e com a falta de navios, os preços das diárias, que haviam caído muito nos últimos anos, voltou a subir. E isso tem um impacto grande no Ebitda da companhia.
“Cerca de 65% dos nossos contratos se renovam até 2026”, diz Eduardo de Toledo, o CFO da Oceanpact. “E todos os novos contratos estão sendo celebrados com a nova realidade do mercado.”
A própria Oceanpact fez um exercício que mostrou aos investidores o potencial de geração de valor caso os contratos sejam renovados. O Ebitda saíra dos atuais R$ 400 milhões para R$ 630 milhões em 2026, um avanço de 58%.
Um investidor comprado na ação da Oceanpact disse ao NeoFeed que acha improvável que os contratos não sejam renovados diante da escassez de navios e ao fato de que não há construção de novas embarcações. “Esse é o pilar central de nossa tese”, diz o investidor.
Um relatório do Itaú BBA, que voltou a fazer a cobertura da empresa em setembro deste ano com um preço-alvo de R$ 7,60, acredita que a Oceanpact está bem-posicionada para se beneficiar do crescimento da produção brasileira de petróleo e gás natural e do promissor setor de energia eólica offshore do País.
“Essas perspectivas de crescimento, combinadas com uma frota limitada de embarcações de apoio offshore no País, provavelmente continuarão a impulsionar as tarifas diárias no futuro e levarão à assinatura de novos contratos com melhores condições financeiras e maiores retornos sobre a frota atual da empresa – ganhos potenciais que, em nossa opinião, ainda não estão refletidos no preço das ações da Oceanpact”, diz um trecho do relatório do Itaú BBA.
O Bradesco BBI, que tem um preço-alvo de R$ 9 na ação da Oceanpact, defende também que a empresa deve se beneficiar da falta de oferta de navios. “Já vemos as taxas diárias de OSVs (um tipo de embarcação) em forte tendência de alta e parece que esses níveis devem ser sustentados por um tempo.”
Esse mar mais calmo já começa também a se refletir nos resultados da Oceanpact. No terceiro trimestre de 2023, o prejuízo líquido de R$ 13,9 milhões foi 61,5% menor na comparação com o mesmo período do ano anterior. O Ebitda ajustado totalizou R$ 121,4 milhões, alta de 79%. E a margem Ebitda avançou 8,6 pontos percentuais, para 30,5%.
A receita líquida, por sua vez, somou R$ 452,2 milhões, crescimento de 46,2%. E a dívida líquida da companhia, que estava em R$ 985 milhões, teve uma queda de 3,5% em comparação ao trimestre anterior.
Com isso, o endividamento foi de 1,74 vez o seu Ebitda, abaixo do limite de contratos de debêntures da Oceanpact (que é de 3x, mas que vai caindo ao longo dos anos – de 2025 em diante, por exemplo, é de 2,5x).