Em meio às dúvidas em relação à saúde da economia da China e as perspectivas de crescimento, a Vale está com uma visão otimista sobre o gigante asiático, seu principal comprador de minério de ferro.
Mesmo com a sucessão de más notícias a respeito do baixo desempenho da China ao longo do ano, a mineradora vê fatores domésticos ajudando a dar ânimo à economia do país. Combinados com a situação de mercado, de oferta mais restrita, eles devem produzir efeitos positivos para o segmento de minério de ferro.
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“Os riscos para a economia chinesa estão para o lado positivo”, disse nesta sexta-feira, o CEO da Vale, Eduardo Bartolomeo, em teleconferência para tratar dos resultados do terceiro trimestre.
Um dos motivos para a visão favorável em relação à China vem dos esforços do governo para estimular a economia. Nesta semana, as autoridades anunciaram a emissão de 1 trilhão de yuans (US$ 136,6 bilhões) em títulos de dívida, recursos que devem ser voltados para a área de infraestrutura.
Em paralelo, o presidente Xi Jinping deu sinais de que o governo não vai tolerar uma forte desaceleração do crescimento, nem dos riscos deflacionários. “Vemos um apoio dos chineses para o PIB, com uma importante mensagem vindo com o anúncio de 1 trilhão de yuans para a infraestrutura”, afirmou Gustavo Pimenta, vice-presidente executivo de finanças e relações com investidores da Vale.
Além dos estímulos, os executivos da Vale veem um movimento de transformação da indústria manufatureira chinesa, puxado pelo tema da descarbonização. Produtos nessa frente vão exigir a compra de minério de alta qualidade, que tem preços maiores, segundo Marcelo Spinelli, vice-presidente executivo de ferrosos da mineradora.
“Está surgindo uma nova plataforma de fábricas e eles precisam de aço de alta qualidade”, afirmou o executivo. “Estamos vendo uma demanda mais forte.”
As perspectivas um pouco melhores para China se juntam a um mercado com menor oferta de minério de ferro, de acordo com Spinelli, sem que nenhuma região esteja elevando sua produção de minério de ferro, pressionando, consequentemente, as cotações da commodity.
Apesar da visão positiva quanto à China, os executivos da Vale destacaram que estão buscando aumentar a exposição a outras geografias. Spinelli afirmou que, recentemente, a empresa fechou um acordo para vender cerca de 5 milhões de toneladas de minério para a Índia, mercado que vem apresentando crescimento nos últimos anos.
“Vemos um mercado apertado, equilibrado, do lado da oferta, o que pode apoiar o risco positivo mencionado”, disse o executivo.
A Vale já viu os preços maiores no terceiro trimestre ajudarem os resultados da divisão de ferrosos. No período, o Ebitda avançou 18%, em base anual, para US$ 4,46 bilhões, devido aos preços mais elevados do minério em base anual – US$ 114, versus US$ 103,3 no terceiro trimestre de 2022 – e pelos maiores volumes vendidos de finos de minério.
Quem demonstrou estar em linha com a visão otimista da Vale em relação à China foram os analistas do BTG Pactual. Ao destacarem que o resultado do terceiro trimestre foi “sem emoções”, os analistas Leonardo Correa e Caio Greiner escreveram que a companhia deve se beneficiar desse cenário para a China, o que deve ajudar a colocar para trás os diversos contratempos operacionais que a empresa apresentou nos últimos trimestres.
“A Vale permanece sendo um dos nosso nomes favoritos para exposição à reaceleração da economia chinesa, uma vez que o governo luta para atingir sua meta de crescimento de cerca de 5% neste ano, com medidas de estímulos sendo anunciadas”, diz trecho do relatório.
A Vale fechou o terceiro trimestre com lucro líquido de US$ 2,8 bilhões, queda de 36% em base anual. A receita subiu 7%, para US$ 10,6 bilhões, enquanto o Ebitda ajustado avnaçou 14%, para US$ 4,2 bilhões.
Por volta das 14h14, as ações da Vale subiam 2,71%, a R$ 67,07. No ano, elas acumulam queda de 24,5%, levando o valor de mercado a R$ 293,6 bilhões.