A BRZ, construtora mineira com foco em habitações populares do programa Minha Casa, Minha Vida, acaba de concluir uma captação de R$ 200 milhões via Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs).

Em conversa exclusiva com o NeoFeed, a companhia afirmou que todos os certificados foram adquiridos pela Kinea, gestora de ativos alternativos do Itaú Unibanco. A operação foi coordenada pela Caixa Econômica Federal, securitizada pela True Securitizadora e tem prazo de cinco anos.

Eduarda Tolentino, CEO da BRZ, informou que o valor captado será utilizado para fortalecer a estrutura de capital da companhia e para a expansão da BRZ para o interior de São Paulo, local que diz ser o “futuro da empresa”. Atualmente, a construtora atua em Minas Gerais, no Rio de Janeiro e em São Paulo. No total, já entregou 27.500 unidades em 14 anos de existência.

“Com o valor obtido, é possível aumentar a nossa liquidez, melhorar nosso fluxo de caixa, apoiar o financiamento de projetos e até mesmo acelerar a conclusão das obras já em andamento”, diz a empresária. “Porém, disso tudo, o mais importante é a melhora na nossa estrutura de capital.”

Até hoje, a empresa já realizou a captação de R$ 525 milhões por meio de três operações via CRIs. Uma delas se encontra totalmente liquidada, enquanto a segunda possui vencimento em janeiro de 2025. Nesse meio tempo, além das captações, também foi realizada uma operação de cessão de recebíveis da ordem de R$ 50 milhões.

Com esses valores em caixa, 2023 foi um ano positivo para a BRZ. A construtora familiar atingiu R$ 1 bilhão em vendas, alta de 8,8% em comparação a 2022. Os lançamentos, por sua vez, totalizaram R$ 1,1 bilhão, crescimento de 86,7% ano a ano.

Por outro lado, a receita líquida da companhia recuou 13,3% nos 12 meses, atingindo R$ 753 milhões. A dívida da BRZ atingiu R$ 52 milhões no ano, um recuo de 37,8% em relação aos R$ 84 milhões registrados em 2022.

Sobre os números, Tolentino explica que a premissa da BRZ é gastar o mínimo possível e entregar o máximo. Com isso, a construtora acumula "sócios" nos três estados que atua, já que não é dona de nenhum dos terrenos nos quais constrói, reduzindo seu investimento inicial nos projetos. A companhia prevê encerrar 2024 com 36 canteiros de obras.

Cenário da Construção Civil

A captação do CRI acontece em um cenário em que o crédito para o setor de construção civil está mais escasso e tem pouca perspectiva de melhora até o fim deste ano. Isso é o que os analistas do Bradesco BBI afirmaram em relatório divulgado no primeiro semestre de 2024.

Para as construtoras que têm como foco as moradias populares a situação não é muito diferente. Os financiamentos concedidos pela Caixa, que são provenientes do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), também parecem estar “secando” de forma mais rápida do que nos últimos anos.

De acordo com Tolentino, a Caixa informou, em 12 de julho, que está vendo sinais de falta de financiamento no FGTS. “Isso significa que vai faltar recursos no setor para a contratação de pessoas jurídicas, que apoiam a produção das construtoras.”

Segundo ela, é comum que a torneira seja fechada pela Caixa, mas normalmente isso ocorre no fim do ano, não no início do segundo semestre. “Essa notícia estremece as construtoras do lado de cá, já que a opção agora seria usar recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), que tem juros 3% superiores aos aplicados pela Caixa”, diz a CEO.

Tolentino explica, ainda, que normalmente as margens de seu segmento já são muito apertadas, o que obriga a empresa a ir ao mercado procurar por outras opções de captação. Para ela, é nesse cenário que os CRIs se tornaram uma ótima alternativa.