A Cosan deu mais um passo para reduzir o seu endividamento e melhorar a sua estrutura de capital. A companhia vendeu 0,22% de suas ações da Vale, parte dos papéis atrelados ao collar financing contratado junto ao J.P.Morgan e Citi na época em que comprou 4,9% da empresa de mineração. Com isso, quitou R$ 750 milhões que tinha de empréstimo com os bancos.

A operação foi comunicada ao mercado em uma ata do conselho de administração da empresa. O NeoFeed apurou que a Cosan, avaliada em R$ 35 bilhões, vinha se desfazendo dessas ações ao longo das duas últimas semanas e o objetivo era não ultrapassar 4,9% de participação na Vale.

“A Vale vem recomprando ações e, a partir do momento que ela passe a cancelar essas ações, a Cosan ultrapassaria a participação de 4,9% para 5,12%”, diz um profissional a par das negociações. “Foi uma medida preventiva para evitar ultrapassar os 5%.” Lembrando que a Cosan tem a opção, por meio do collar, de comprar mais 1,6% da Vale.

Desde que anunciou a compra de 4,9% da Vale, em outubro de 2022, o mercado passou a criticar a operação por acreditar que a companhia de Rubens Ometto iria se endividar muito. Na época, os executivos mostraram que haviam montado uma boa estrutura de capital para evitar o alto endividamento da Cosan.

A posição foi montada por meio da compra de 1,5% de ações da companhia no mercado à vista, com os outros 3,4% incorporados via instrumentos financeiros derivativos com proteção de downside do preço das ações da mineradora, o chamado collar. Mas isso tem prós e contras.

Na participação de 1,5% da Cosan na Vale a empresa estaria 100% exposta, mas capturaria 100% dos dividendos. Nos outros 3,4%, embutiria uma dívida e o derivativo que gera proteção, limitando as perdas e ganhos. Na prática, essa estrutura de collar, captura cerca de 80% dos dividendos que a Vale pagaria para a Cosan. Eis o preço da proteção.

A Cosan, entretanto, vem mudando esse perfil e fortalecendo sua exposição direta na Vale, hoje cotada em R$ 321 bilhões, o que mostra a confiança na companhia. Ela aumentou sua participação direta de 1,5% para 2,6%. Já a participação atrelada ao collar financing caiu de 3,4% para 2,3%. Aliado a isso, a companhia foi trocando a dívida de curto prazo para uma de longo prazo.

Neste ano, entre bond e debêntures, a Cosan captou cerca de R$ 5 bilhões e usou boa parte desse dinheiro, cerca de R$ 3,4 bilhões, para reduzir o collar financing. Com isso, além de alongar a dívida, melhorou estrutura de capital porque vai passar a receber 100% dividendos na participação de 2,6% da Vale.

Para se ter uma ideia, neste ano, a Cosan recebeu mais de R$ 700 milhões em dividendos da Vale e que entraram em seu caixa. Ao aumentar a participação direta, consegue trazer mais recursos de dividendos e, consequentemente, reduzir o endividamento.

Em um ano, na troca de dívidas de três para sete anos, o endividamento com o collar financing da operação caiu de R$ 9 bilhões para R$ 5,4 bilhões. “A Cosan é muito ativa no Brasil e no mercado internacional. Aparecendo oportunidades, a Cosan deve acessar mais capital com um custo razoável”, diz um analista que conhece bem a companhia. A alavancagem da companhia medida pela relação dívida líquida versus ebitda está em 1,7 vez.