Gigante de entregas expressas avaliada em US$ 45,8 bilhões, a americana FedEx se viu em uma encruzilhada em 2018, quando a Amazon, uma de suas grandes clientes, acelerou o projeto de internalização da sua logística. Como resposta, em 2019, a empresa encerrou o contrato com a companhia fundada por Jeff Bezos.

Guilherme Gatti acompanhou de perto essa situação. Após ingressar como estagiário no escritório local da FedEx, em 1992, ele galgou diversas posições até ser transferido, em 2004, para os Estados Unidos. E só retornou ao Brasil no início deste ano, para assumir o posto de principal executivo do grupo no País.

Agora, Gatti está usando essa bagagem para traçar novos caminhos para a FedEx Brasil, que enfrenta um contexto semelhante de concorrência. Esse trajeto passa por investimentos em frentes como capilaridade e eficiência. Mas não pegará carona nos roteiros traçados por terceiros.

“Nós já vimos isso acontecer. Os grandes marketplaces vão internalizar suas logísticas”, diz Gatti, vice-presidente de operações da FedEx no Brasil, ao NeoFeed. “Então, temos que ter cuidado para não mobilizar uma estrutura muito grande que terá que ser desativada porque o cliente virou concorrente.”

Para evitar que essa história se repita, a FedEx entregou, recentemente, um pacote de investimentos. Entre outros recursos, ele inclui duas novas unidades em Campina Grande (PB) e Petrolina (PE), equipamentos e sistemas que ampliam a automação em suas filiais e o acréscimo de destinos em sua área de transporte internacional.

Da primeira à última milha, a relação de novos rivais da FedEx no País inclui Mercado Livre, Magazine Luiza, Via, Americanas e a própria Amazon. Esses grupos têm feito investimentos orgânicos e em M&As para estruturarem suas malhas logísticas e atenderem os sellers dos seus marketplaces.

Em um dos movimentos recentes dessa corrida, a Amazon fez seu primeiro investimento inorgânico no País ao comprar, em julho, uma fatia de 9,68% da brasileira Total Express, especializada na entrega de mercadorias.

Há exemplos de aquisições das outras companhias. O Mercado Livre comprou a Kangu, também focada na última milha. O Magazine Luiza incorporou a Logbee e a GFL. No início do ano, a Via adquiriu a logtech CNT.

A FedEx está nessa estrada há mais tempo. Em 2012, a empresa comprou a pernambucana Rapidão Cometa e, em 2016, a TNT, que já mantinha uma estrutura considerável no Brasil. Com as transações, o grupo deu um salto em sua operação local composta, até então, por 500 profissionais e mais restrita ao transporte.

Hoje, são cerca de 12 mil funcionários distribuídos, entre outras estruturas, em nove grandes hubs logísticos e cerca de 100 filiais, que atendem aproximadamente 5,3 mil localidades, com o apoio de uma frota própria de 2,9 mil caminhões, carretas e vans.

Neste segundo semestre de 2022, essa malha vem sendo reforçada como parte da preparação para o calendário de fim de ano, com a Black Friday e o Natal. Mas o racional vai muito além dessa temporada.

Guilherme Gatti, vice-presidente de operações da FedEx no Brasil

“Temos uma estrutura adicional com parceiros de transporte e temporários, seguida de uma desmobilização em janeiro e fevereiro”, diz Gatti. “Mas em termos de estrutura logística, vamos sair mais fortes em março de 2023 do que entramos em setembro desse ano.”

Nessa linha, os projetos mais recentes são as novas filiais em Campina Grande (PB) e Petrolina (PE). As duas unidades têm, respectivamente, cinco mil e quatro mil metros quadrados.

Outra abertura envolveu o centro em Conde (PB), em uma área de mais de sete mil metros quadrados. Essa capacidade é 20% maior do que as duas estruturas somadas que a unidade substituiu, localizadas na mesma cidade e em João Pessoa.

A consolidação de duas filiais menores de Vitória (ES) também motivou abertura de uma estrutura em Serra (ES). Com 46 mil metros quadrados, esse é o segundo maior centro da FedEx na América Latina. O primeiro é o de Cajamar (SP), com 50 mil metros quadrados.

Rumo ao interior

Ao ampliar a capilaridade da companhia, essas unidades funcionam como pontos avançados para permitir entregas com maior velocidade. Nessa direção, o avanço em regiões como o Nordeste e o interior do País é um dos focos do grupo para se diferenciar de seus pares.

“A infraestrutura de logística no Nordeste é desafiadora”, afirma Gatti. “Mas como já temos uma presença forte na região, nosso custo por pacote é menor e acabamos sendo mais competitivos.”

Essa lógica tem ajudado a FedEx a reativar, inclusive, o relacionamento com antigos clientes. “Temos visto alguns marketplaces que interiorizaram suas malhas e que, agora, dizem que não sabem fazer e estão voltando para a nossa carteira”, diz.

Gatti observa que, no caso dos grandes marketplaces, o grupo “abre a torneira” quando tem capacidade disponível, mas não expande sua estrutura em função desses clientes. E dentro dessa postura, que classifica como mais responsável, a FedEx tem dividido sua receita em outras esteiras.

“Um foco são os e-commerces próprios de grandes marcas”, conta. Ele cita tecnologia, moda, calçados, cosméticos e eletrodomésticos como os setores de maior demanda. “E temos visto um crescimento forte nas PMEs, que não querem depender apenas dos marketplaces.”

A busca por produtividade também tem guiado outras iniciativas recentes no País. A FedEx investiu em 11 sorters - sistemas e equipamentos que automatizam a separação de pedidos conforme o destino. Eles foram instalados nas filiais de Feira de Santana (BA) e Recife, além de um sistema nos centros de Salvador, Fortaleza, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte, Goiânia e Guarulhos (SP).

A FedEx também vem dando capilaridade à malha internacional dedicada ao Brasil. O grupo já mantinha um avião B767-300, que faz 6 voos semanais diretos entre sua base no aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), e seu hub global em Memphis, nos Estados Unidos.

Recentemente, a empresa fechou acordos com companhias como Latam e Lufthansa para adicionar 19 voos semanais para locais como Europa, Colômbia, Peru, Equador e México. Em novembro, a FedEx incluiu Dubai nesse mapa e, em dezembro, será a vez de Santiago, no Chile.

“Chegando nesses locais, nós injetamos o pacote na nossa rede e reduzimos o tempo da entrega”, diz Gatti. “Dubai, por exemplo, tem sido a porta de entrada para a exportação de cosméticos brasileiros aos países árabes.”