Em junho de 2019, o executivo Rodrigo Abreu, presidente da Oi, anunciou um plano ousado de vendas de ativos que precisava de aprovação dos credores da empresa.
O plano contemplava uma ousada vendas de ativos, que incluía a área de data centers, as torres de telefonia, a Oi Móvel e uma fatia majoritária da InfraCo, a sua divisão de fibra óptica. A ideia era também negociar a dívida bilionária com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), por conta de multas aplicadas no passado.
Nesta segunda-feira, 14 de dezembro, a Oi deve concluir uma importante parte desse plano com a venda de sua operação móvel. O leilão judicial deve apontar a vitória de TIM, Vivo e Claro, segundo apurou o NeoFeed.
As três se uniram em um consórcio para fazer uma proposta conjunta de R$ 16,5 bilhões e agora vão fatiar os clientes da Oi. A Highline, empresa de torres do fundo americano Digital Colony, que fez uma proposta vinculante, não participará do leilão judicial.
“As empresas que quisessem participar do leilão precisariam se manifestar sete dias antes do edital e não nos habilitamos”, afirmou Luis Minoru Shibata, diretor de estratégia de novos da Highline ao NeoFeed. “Não fazia sentido em participar a partir do momento que vimos que as operadoras, que são nossos clientes, gostariam muito de fazer a aquisição.”
A Oi Móvel será terceira venda desde que o aditivo ao seu plano de recuperação judicial foi aprovado, em 8 de setembro deste ano. A divisão de torres foi vendida para a Highline, em um negócio de pouco mais de R$ 1 bilhão. A área de data center foi comprada pela Piemonte Holding por R$ 325 milhões. Os dois leilões judiciais aconteceram em 26 de novembro.
No fim de novembro, a Oi fechou também acordo com a Advocacia Geral da União (AGU), conseguindo um desconto de 50% em sua dívida com a Anatel, que passou de R$ 14,3 bilhões para R$ 7,2 bilhões.
Agora, os olhos do mercado se voltam para o próximo capítulo da recuperação judicial da Oi. A venda da InfraCo, a sua divisão de fibra óptica, que muitos chamam de a joia da coroa da operadora.
Trata-se de um ativo muito cobiçado no mercado. Afinal, a banda larga de alta velocidade se tornou em um bem essencial com a pandemia do novo coronavírus. Da noite para o dia, aulas passaram a ser online e a telemedicina se virou uma realidade. Milhões de pessoas começaram a trabalhar de casa e pequenos negócios foram obrigados a vender pela internet. Tudo isso depende da fibra óptica.
Durante a primeira fase, mais de 10 empresas mostraram interesse na InfraCo, um número bem superior ao da Oi Móvel, cuja briga se restringiu a apenas dois competidores.
Em 22 de janeiro, a Oi receberá as ofertas vinculantes pela InfraCo. Três grupos, segundo apurou o NeoFeed, têm bastante interesse no ativo, uma rede que conta 400 mil quilômetros de fibras ópticas e já alcança 2,2 mil cidades no País. “Essa será uma disputa muito mais acirrada”, diz uma fonte do setor de telecomunicações.
O primeiro interessado é a Highline, que já tentou comprar a Oi Móvel. Um fundo de infraestrutura gerido pelo BTG Pactual, que conta entre seus associados com Amos Genish, fundador da GVT e ex-presidente da Telefônica Brasil e da Telecom Italia, está também na disputa pela InfraCo. A empresa de energia Enel, que controla a Ufinet, uma empresa de telecomunicações, faz parte do grupo que deve também fazer ofertas vinculantes ao ativo de fibra óptica da Oi.
Ao contrário das outras vendas, na quais se desfez de 100% do ativo, a Oi vai manter uma fatia minoritária na InfraCo. A operadora colocou à venda 51% das ações ordinárias. O comprador terá de pagar um preço mínimo de R$ 6,5 bilhões, assumir dívidas de R$ 2,4 bilhões e se comprometer com um investimento de R$ 5 bilhões.
Além de sócia, a Oi será a principal cliente da InfraCo. Após a venda, a operadora vai se concentrar na comercialização de serviços aos clientes de varejo e corporativos. Quanto mais consumidores a operadora tiver, melhor para o novo dono.
Na semana passada, a tele divulgou dados sobre a sua operação de fibra óptica em uma estratégia em que muitos do mercado interpretaram como um recado aos interessados na InfraCo. Em 2020, a rede de fibra da Oi quase triplicou o número de assinantes e atingiu a marca de 2 milhões de clientes. No ano passado, tinha apenas 700 mil clientes. Em 2018, 100 mil.
A razão para mostrar o resultado de seu negócio de fibra óptica é fácil de ser compreendida. Não é só a Oi que está vendendo parte da operação de fibra para investidores. Ao longo de 2021, a busca de recursos e de sócios-investidores para essas operações será intensa. A Oi quis posicionar suas peças e mostrar que tem força nessa briga.
A Vivo e a TIM estão também vendendo uma fatia de seus negócios de fibra óptica em um modelo semelhante ao da InfraCo. Outro exemplo é o da gestora de private equity EB Capital, que captou R$ 1,5 bilhão em um fundo de investimento para a EB Fibra, dona das marcas Sumicity e Mob Telecom, para investir em pequenas empresas regionais de fibra.
Na disputa por esse mercado está ainda a Vinci Partners, que criou a Vero para comprar pequenos provedores de fibra óptica e já está presente em mais de 90 cidades. A mineira Algar, que conta com uma rede de 80 mil quilômetros em 16 estados, está também se preparando para participar dessa consolidação.
“Essa é uma área quente em que as operadoras regionais dominam”, afirma Eduardo Tude, presidente da Teleco, consultoria especializada em telecomunicações. “Esse setor passará por um grande processo de consolidação, com interesse de grandes fundos.”
Segundo a Anatel, há 14 mil empresas regionais, chamadas de competitivas, que detêm uma fatia de 40% do mercado de banda larga
Segundo a Anatel, há 14 mil empresas regionais, chamadas de competitivas, que detêm uma fatia de 40% do mercado de banda larga e contam com 14 milhões de clientes. O interesse na área aumenta com o crescimento de serviços digitais, bem como com a futura rede 5G, que promete uma revolução na velocidade de conexão e precisará de fibra em sua infraestrutura.
Um longo caminho na Oi Móvel
A venda da Oi Móvel encerrará a disputa pelo ativo, mas dará início a um longo caminho para que o negócio seja concretizado. Com a operação móvel da Oi, dona de uma fatia de 16% do mercado e de 36,5 milhões de clientes, TIM, Vivo e Claro vão concentrar a competição da telefonia celular, que ficará reduzida às três empresas.
A análise do negócio na Anatel e no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) deve ser demorada e se estender por 2021, na hipótese mais otimista, segundo fontes com quem o NeoFeed conversou. A maioria, no entanto, aposta na aprovação da transação.
A divisão dos clientes e das frequências será fundamental para reduzir as resistências ao negócio entre as autoridades reguladoras. “Será feita de forma milimétrica, de forma a evitar a criação de posições dominantes e privilegiar a rivalidade e a concorrência entre as teles”, diz uma fonte próximo ao negócio. “A divisão de espectro, por exemplo, ocorrerá no pleno respeito dos limites de detenção de frequências por grupo fixados pela regulamentação.”
Em entrevista ao NeoFeed, em outubro deste ano, Pietro Labriola, CEO da TIM Brasil, explicou como pretende fazer essa divisão. Na ocasião, ele deixou claro que a operadora controlada pela Telecom Italia vai levar a maior fatia de clientes – o que deve significar também que ficará com o maior valor do cheque de R$ 16,5 bilhões.
“O que estamos sugerindo é que em cada área nós vamos olhar qual operadora tem um nível de market share menor e ela vai pegar o cliente da Oi”, afirmou Labriola. “Se olhar a distribuição de market share para cada DDD, você consegue enxergar rapidamente que é bastante provável, sem quebrar nenhum sigilo, que a TIM poderia ter uma quantidade de clientes maior do que os outros dois (Vivo e Claro) por conta desse assunto.”
A demora da aprovação pelas autoridades reguladoras parece preocupar os investidores. Nem mesmo o tempo que deve demorar a venda da InfraCo, cujo leilão judicial deve acontecer no primeiro trimestre de 2021. As ações ordinárias (OIBR3) saltaram 174% neste ano. As preferencias (OIBR4) seguiram na mesma toada avançando 170%.
Uma forma de avaliar a maneira como o mercado está encarando o plano da Oi é observar o seu valor na B3. Em 2018, a operadora fechou o ano valendo R$ 2,9 bilhões. Em 2019, atingiu R$ 5,2 bilhões. Agora, chegou a R$ 14,4 bilhões. É bem menos, é verdade, do que Vivo (R$ 79,5 bilhões) e a TIM (R$ 35,2 bilhões). Mas há dois anos, a diferença com suas rivais era muito maior.