Em movimento amplamente aguardado pelo mundo cripto, a Securities and Exchange Commission (SEC), a CVM dos Estados Unidos, anunciou nesta quarta-feira, dia 10 de janeiro, a lista dos primeiros fundos de índices (ETFs, na sigla em inglês) de bitcoin à vista (spot) aprovados para operar no país.
Dentro do grupo de gestoras que teve aplicações aprovadas está a Hashdex. Com R$ 2,7 bilhões em ativos sob gestão, a gestora brasileira recebeu a aprovação do regulador americano para converter o fundo de índice de futuros de bitcoin que tem no país, o ETF Hashdex Bitcoin Futures (DEFI), para o modelo spot, que permite exposição direta ao criptoativo.
Listado na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE), o produto passa a se chamar Hashdex ETF Bitcoin (DEFI) e terá um fee de 0,94%.
A aprovação do ETF representa o primeiro passo da Hashdex para aumentar a sua exposição nos Estados Unidos, mercado que deve ganhar espaço dentro da companhia. “Temos um roadmap para fazer outros produtos, já temos um filing público para um ETF de ethereum, que vem na sequência”, diz Marcelo Sampaio, cofundador e CEO da Hashdex, ao NeoFeed.
Ele diz que ainda não há um prazo para que o ETF esteja disponível para negociação no mercado, uma vez que ainda há algumas pendências regulatórias a serem cumpridas. Mas que a autorização da SEC representa uma etapa significativa no plano de internacionalização da Hashdex.
Maior mercado de capitais do mundo, os Estados Unidos sempre foram um objetivo da gestora, fundada por um grupo de brasileiros no mercado americano, em 2018. A Hashdex acabou migrando as operações para o Brasil nos primeiros meses de vida diante do pouco avanço da regulação do mercado de criptomoedas por lá.
Segundo Sampaio, as autoridades americanas demonstraram por diversas vezes restrições ao produto, citando riscos de manipulação de preço e liquidez. Já o Brasil se mostrou mais aberto ao tema e avançou bastante no tema ao longo dos últimos anos, com o principal passo sendo a aprovação do marco legal das criptomoedas, no final de 2022.
A Hashdex foi a primeira a ter um ETF de criptomoedas listado na B3. Lançado em 2021, o HASH11 é atualmente o segundo fundo de índice com mais cotistas da Bolsa. No total, a gestora tem 27 produtos, dos quais nove são ETFs, com seis listados no Brasil, um na Europa e o outro nos Estados Unidos.
A posição das autoridades americanas começou a mudar em agosto do ano passado, quando a SEC perdeu um processo movido pela gestora Grayscale, que queria converter um veículo de investimento em bitcoin num ETF. Isso forçou a autarquia a rever sua postura em relação ao tema das criptomoedas.
A regulamentação dos ETFs com exposição direta ao bitcoin nos Estados Unidos é vista como o passo fundamental para a atração dos investidores institucionais e profissionais para esta modalidade de investimento, considerando que eles podem apenas investir em produtos regulados.
Outro fator que também não ajudava a atrair esse grupo de investidores era o alto carrego dos ETFs de futuros de bitcoin, no caso, o custo de estar alocado via futuros. Segundo a Hashdex, no caso do bitcoin, o custo já passou de 10% ao ano em alguns momentos, fazendo com que a rentabilidade dos futuros seja inferior ao de uma alocação semelhante via spot.
A expectativa é de que a aprovação dos primeiros ETFs de bitcoin spot nos Estados Unidos resulte numa injeção de liquidez no segmento, abrindo caminho para uma nova fase de crescimento depois do chamado “inverno cripto” que acometeu o segmento entre 2021 e 2022.
Um estudo da research de criptomoedas CryptoQuant, publicado em outubro do ano passado, aponta que o mercado cripto pode ganhar US$ 1 trilhão em valor com a aprovação dos ETFs de bitcoin spot.
A esperança a respeito da regulação desses produtos nos Estados Unidos foi um dos fatores que fizeram o bitcoin valorizar 2,5 vezes em 2023. Se aprovada, a regulação pode fazer com que a principal criptomoeda do mercado valorize cerca de 300% até o fim do ano, segundo projeção da equipe de research do banco Standard Chartered.
A espera pelo anúncio dos primeiros ETFs spot de bitcoin geraram até um incidente, com a conta da SEC no X (antigo Twitter) sendo hackeada e trazendo uma postagem falsa, na terça-feira, 9 de janeiro, sobre a aprovação dos primeiros pedidos de registro. A fake news resultou numa disparada da cotação da criptomoeda, que alcançou US$ 48 mil antes de recuar para a casa dos US$ 46 mil.
Mesmo com a aprovação da conversão do ETF e o espaço que ela cria para o lançamento de produtos, a Hashdex não deve pleitear uma licença para atuar como gestora nos Estados Unidos. Hoje, a empresa atua em parceria com a americana Tidal e, por enquanto, pretende manter esse arranjo.
“À medida que formos crescendo nos Estados Unidos é natural que a gente tenha uma presença maior, mas não estamos preocupados com isso agora”, diz Sampaio. “Os Estados Unidos são um projeto em estágio inicial para nós.”
A expectativa de Sampaio é de que o avanço da regulamentação nos Estados Unidos também possa ajudar a tese dos criptoativos a crescer pelo mundo, abrindo novos caminhos para a Hashdex.
“Tem países como Brasil que tiveram a proeminência de sair na frente, a Suíça também, mas a maioria vem segurando muito, esperando o posicionamento dos Estados Unidos”, diz. “Esse evento é um marco, que deve dar início ao framework regulatório pelo mundo nos próximos anos.”