O ano era 2014. Insatisfeita por não encontrar nenhuma casa de repouso com mais “jeito de lar” e menos de hospital para o avô, diagnosticado com Alzheimer, a médica Joyce Moraes decidiu criar sua própria opção. Nascia ali, com o apoio do economista Pedro Moraes, seu marido, a Terça da Serra.

Da primeira unidade, em Jaguariúna (SP), o negócio evoluiu para uma rede com cerca de 2,8 mil leitos, distribuídos em mais de 140 residenciais para idosos. Como parte desse percurso, em 2020, a empresa passou a abrigar a SMZTO, holding de franquias de José Carlos Semenzato, como sócia minoritária.

Após consolidar essa base, o casal está adicionando mais um componente a essa receita a partir do lançamento do hospital Revitare, em Campinas (SP). Com inauguração prevista para junho, o empreendimento dá a largada no plano de superar dez unidades da nova marca em até cinco anos.

“Nós percebemos que havia uma lacuna no atendimento quando o idoso ficava doente”, diz Joyce, ao NeoFeed. “Então, fomos estudar o que havia lá fora, trouxemos para a nossa realidade e desenhamos o modelo de hospital de transição.”

O novo projeto começou a ser pensado há cerca de dois anos. Em uma das etapas desse processo, a dupla visitou iniciativas similares nos Estados Unidos e na Europa, em particular, em Portugal.

Essa peregrinação ajudou a validar a tese do hospital de transição. O Revitare é voltado a idosos com doenças crônicas de baixa complexidade e em processo de reabilitação de alguma enfermidade, além de pacientes com doenças graves e que demandam cuidados paliativos.

“É muito oneroso para um hospital geral manter um paciente estável, mas que precisa de reabilitação”, explica Joyce. “Eu consigo fazer uma transição mais efetiva e nosso custo é menor, pois não temos centro cirúrgico, pronto-socorro e uma série de estruturas que um hospital padrão tem.”

Centrada em questões como atenção individualizada, atendimento humanizado, longa permanência e a participação dos familiares no processo de reabilitação, a execução desse conceito também passa pela mescla das características de um hospital com o conforto de um hotel ou de uma casa de repouso.

Instalada em um prédio de quatro andares, a unidade em Campinas ilustra esse modelo. São 110 leitos com armários, mesas de leitura, televisão e frigobar, entre outros equipamentos. O hospital tem uma área de 100 metros quadrados para reabilitação e, ao mesmo tempo, um salão de beleza e um cinema.

Joyce e Pedro Moraes, sócios-fundadores da Terça da Serra e da Revitare

Com o Revitare, cuja primeira unidade demandou um aporte de R$ 15 milhões, o casal também vai além do B2C, ao estender seu atendimento aos planos de saúde. Um primeiro acordo com uma operadora – de nome não revelado – já está fechado e há outras três negociações em curso.

“Os planos de saúde estão estrangulados, com sinistralidades muito altas e buscando alternativas com menor custo e mais previsibilidade”, diz Pedro. “E, além do custo mais acessível, vamos trabalhar com performance. Se não conseguirmos reabilitar o paciente no prazo, seremos penalizados.”

A partir desse modelo, o plano de chegar a 10 unidades próprias em cinco anos terá como um dos nortes os locais em que a Terça da Serra já tem presença, via franquias, bem consolidada. A primeira operação em Campinas também irá balizar o volume ideal de leitos nos demais projetos.

“Estamos olhando para o Nordeste, especialmente praças como Fortaleza, e para a região sul, em capitais como Curitiba e Florianópolis”, conta Pedro. “E existe um mercado enorme no interior de São Paulo, em cidades como Ribeirão Preto.”

É também no interior paulista que o casal está testando uma segunda vertente para ampliar esse mapa, em cidades com 200 mil a 300 mil habitantes. Trata-se do formato de franquias, já adotado na Terça da Serra. Um primeiro projeto será inaugurado em junho, em São José do Rio Preto, com 12 leitos.

“Os próprios franqueados da Terça da Serra estão demandando esse modelo mais intensivo”, diz Pedro. “Nesse formato, nossa projeção é chegar a pelo menos 50 unidades em cinco anos.”

Com capital próprio, essa primeira unidade para testar o modelo em São José do Rio Preto concentrou um aporte de aproximadamente R$ 1,5 milhão. A empresa já está buscando parceiros imobiliários e a projeção é de que o investimento para os franqueados gire em torno de R$ 300 mil.

“Os hospitais têm potencial de receita bastante superior aos residenciais”, observa Moraes. “Levando em conta apenas unidades próprias, em dois anos, devemos adicionar pelo menos entre R$ 50 milhões e R$ 60 milhões ao nosso faturamento.”

Expansão em residenciais

No novo segmento, ainda pouco difundido no Brasil, a Revitare terá pela frente concorrentes como a Placi, que atua no Rio de Janeiro e que, em 2020, atraiu um aporte de R$ 30 milhões da gestora americana de investimentos de impacto Blue Like an Orange.

Um dos principais rivais, porém, é um “velho conhecido”: a Brasil Senior Living (BSL), grupo estruturado pelo Pátria Investimentos e que tem como sócio a francesa Orpea. Em transição, a BSL atua com a marca Sainte-Marie. Já em residenciais, a operação conta com bandeiras como Cora, Península e Vivace.

Em 2022, a Terça da Serra apurou um faturamento de R$ 80 milhões e, para 2023, projeta uma receita de R$ 120 milhões. Aqui, o plano de expansão é mais agressivo, com a meta de chegar a 400 unidades em cinco anos.

Com projetos que destoam do “clima hospitalar” e contam com um apoio de uma central remota de monitoramento dos pacientes, cada franquia da marca requer um investimento a partir de R$ 700 mil, para unidades de 24 a 32 leitos. Hoje, a taxa média de ocupação na rede é de 80%.

Parte da expansão da Terça da Serra pode incluir as primeiras escalas internacionais, com boas perspectivas de estrear essa estratégia ainda esse ano, com franquias em Portugal. O próximo ponto nesse mapa, a princípio, para 2024 é a entrada no mercado colombiano.