Nos últimos anos, as roupas esportivas foram ganhando espaço no guarda roupa dos brasileiros. Além da preocupação com a saúde, que ficou ainda mais evidenciada durante a pandemia, as pessoas começaram a incorporar essas peças no vestiário do dia a dia, uma tendência que o mundo da moda batizou de athleisure, neologismo em inglês que mistura as palavras atleta e lazer.

Quem já estava vendo, e apostando, no crescimento do mercado brasileiro de roupas esportivas era a Lupo. Conhecida por fabricar meias e cuecas, a companhia de Araraquara vem, nos últimos 12 anos, investindo na fabricação de roupas esportivas próprias, de olho tanto no atleta amador como nas pessoas que buscam esse tipo de roupa.

“Vimos, mesmo antes da pandemia, que as pessoas estavam usando mais roupas esportivas”, diz Carlos Mazzeu, diretor superintendente da Lupo, ao NeoFeed. “O nosso foco é a academia, o bem estar, o passeio.”

A aposta nesse segmento vem dando resultados. A Lupo Sport, que começou a trilhar seu caminho como marca independente em 2010, se tornou a segunda maior marca do grupo em faturamento no primeiro trimestre deste ano.

Enquanto a própria marca Lupo e a TriFil tiveram queda de receita, a Lupo Sport teve um aumento de 16,3% em relação ao primeiro trimestre de 2022, para R$ 54,6 milhões. No ano passado, o segmento de esporte teve um crescimento de 59,5% da receita anual, para R$ 209 milhões. A receita consolidada do grupo somou R$ 196,2 milhões nos primeiros três meses do ano, queda de 8,8%.

Ainda que tenha visto um mercado promissor há mais de dez anos, a decisão de produzir roupas esportivas veio depois de a Lupo entender que tinha capacidade produtiva para isso.

Segundo Mazzeu, nos últimos anos, a companhia vem trabalhando com uma máquina que permite produzir roupas sem costuras, chamada Santoni. Inicialmente, a Lupo utilizou essas máquinas para produzir cuecas e lingeries.

As possibilidades criativas desse maquinário fizeram com que a companhia começasse a pensar em artigos esportivos. A criação de roupas com pontos de compressão em diversas partes do corpo e o uso de fibras modernas, pontos importantes quando se fala de artigos esportivos, foram os diferenciais. “A Lupo usou o que tem de melhor em seu DNA, que é engenharia, e chegou na roupa esportiva”, diz o diretor superintendente.

A convocação da Lupo

A Lupo Sport começou produzindo tops e calças legging, mas o sucesso foi levando a uma expansão do portfólio. A coleção começou a ser complementada nos últimos quatro anos, agregando roupas com costura. Com isso, chegaram jaquetas e coletes, além de acessórios, como mochilas, bolsas e garrafas térmicas.

Mazzeu conta que a Lupo Sport busca se inspirar na canadense Lululemon, companhia que começou produzindo roupas para a prática de ioga e que foi desenvolvendo roupas para o dia a dia. Mas, diferentemente da Lululemon, cujos produtos são voltados para um público de alta renda, a Lupo quer que sua linha esportiva esteja disponível para todas as faixas financeiras e em todas as partes do País.

Esse é um aspecto importante da estratégia da companhia para a sua unidade de esportes. Mesmo investindo na abertura de lojas próprias, terminando o primeiro trimestre com 36 unidades Lupo Sport, o dobro do apurado no mesmo período de 2022, a Lupo não pretende abrir mão do varejo multimarcas. A companhia detém uma base de 35 mil pontos de venda em todo o País, para onde 60% da produção é escoada.

“A Lupo tem uma capilaridade ímpar e temos que usar isso. Se a gente começar a segmentar muito o nosso público, a gente perde essa capilaridade, que é uma vantagem competitiva enorme da Lupo”, diz Mazzeu.

Ele destaca ainda que dificilmente a Lupo Sport produzirá materiais para atletas de alta performance. Da mesma forma, a marca não tem como proposta o patrocínio de times e esportistas, como ocorreu nos primeiros anos de vida, quando chegou a investir em 32 clubes de futebol. A exceção continua sendo a Ferroviária, de sua cidade natal, único clube que recebe o material esportivo da empresa.

Um estudo da consultoria Euromonitor projeta que o segmento deve ver uma expansão de 40% da receita entre 2022 e 2027 no Pais, para US$ 7 bilhões, puxado por marcas com tickets mais baratos, muitas delas vendidas por varejistas multimarcas como C&A, Riachuelo e Lojas Renner.