Em meio a um cenário desafiador para o varejo nacional, a Pernambucanas está mexendo na sua cadeira de CEO. A centenária companhia da família Lundgren troca Sérgio Borriello por Marcelo Labuto, conforme comunicado divulgado pela companhia na quarta-feira, 4 de outubro.
Borriello ficou sete anos na presidência da Pernambucanas e recolocou a empresa novamente na disputa entre as redes varejistas. O executivo aumentou o número de lojas de 309 em 2016 para 501 ao final de 2022, com 37 inaugurações realizadas no último ano, segundo o balanço da companhia. No mesmo período, a receita consolidada foi de R$ 3,7 bilhões para R$ 4,7 bilhões - um crescimento de quase 30%.
Os resultados da Pernambucanas mostram um cenário oposto ao de suas principais concorrentes, como Renner, Marisa e Riachuelo. Cada uma enfrenta um desafio de rentabilidade e crescimento. Então por que mexer na principal cadeira da companhia?
O NeoFeed apurou que, internamente, Borriello é elogiado por reposicionar a companhia na direção do crescimento, fazendo com que a empresa voltasse a ser uma marca forte na parte de vestuário, apesar da pandemia no meio do caminho. No entanto, a relação entre o executivo e o conselho de administração vinha em processo de desgaste nos últimos tempos.
“É como aquele relacionamento que vai rolando, mas chega um momento em que os dois lados começam a dar sinais de que chegou a hora de procurar uma coisa nova”, diz uma das fontes ouvidas pelo NeoFeed. “É uma questão de ciclo de um executivo dentro da companhia que chegou ao fim.”
A saída do ex-presidente é tratada com naturalidade e fontes ouvidas pelo NeoFeed afirmam que Borriello vai participar da transição do novo CEO por um período que está sendo definido.
No comunicado da companhia, Martin Mitteldorf, presidente do conselho da Pernambucanas, afirma: “Ao Sérgio somos muito gratos por toda sua dedicação e comprometimento, do começo ao fim, com o projeto que desenhamos há sete anos. Marcelo Labuto tem ampla experiência em diferentes negócios, em diversos estágios de maturação, com o perfil de liderança de que precisamos nesse momento.”
Além dos atritos com o board, pesou na decisão da Pernambucanas a visão de que o momento exigia trazer alguém novo e com uma visão nova para o negócio.
Labuto construiu sua carreira no Banco do Brasil, instituição financeira que chegou a presidir de outubro de 2018 a janeiro de 2019. Em 2013, ele era o presidente da BB Seguridade quando a companhia realizou a sua abertura de capital (IPO) na bolsa de valores. Em outubro de 2019, migrou para o setor privado e assumiu a diretoria de varejo do Santander, onde permaneceu até o fim de 2022.
O board da Pernambucanas procurava um novo executivo com as características de Labuto: conhecer as oportunidades do varejo para saber aproveitá-las e entender as características dos serviços financeiros para lidar com os desafios do setor.
Um dos pontos esperados de Labuto é que ele utilize a experiência adquirida no mercado financeiro para avançar o braço financeiro e fintech da Pernambucanas, a Pefisa, cuja carteira de crédito atingiu o total de R$ 3,3 bilhões, alta de 46,7% sobre o ano anterior.
Nesta frente, a missão de Labuto é levar a oferta de produtos financeiros para um número cada vez maior do público-alvo da empresa, as classes C, D e E. A Pefisa também oferece uma plataforma de Banking as a Service (BaaS) a terceiros, que deverá receber atenção.
Esta é uma aposta que deve ficar mais para o médio prazo, visto que o momento não é favorável para concessão de crédito pelas varejistas. Concorrentes da Pernambucanas sofrem atualmente com seus braços financeiros, diante dos efeitos dos juros elevados e o consequente aumento da inadimplência.
A Renner teve uma perda de R$ 53,7 milhões na Realize no segundo trimestre, revertendo o ganho do mesmo período de 2022, com as perdas em créditos, líquidas das recuperações, subiram 40,7%, para R$ 396,1 milhões. A Marisa, por sua vez, optou por transferir a gestão da operação de crédito para a Credsystem.
A Pefisa também se viu obrigada a se adaptar às circunstâncias. Em 2022, por exemplo, encerrou o ano comR$ 136,1 milhões de provisões adicionais para fazer frente ao momento complicado da economia. A provisão para perdas também subiu 44,3%, a R$ 587 milhões.
No varejo, Labuto terá a missão de consolidar os ganhos obtidos durante o período de Borriello, mantendo a posição relevante da Pernambucanas em seu público-alvo. O conselho vê oportunidades de expansão das operações, de forma orgânica ou com aquisições pontuais, segundo uma das fontes ouvidas.
Existe também a expectativa de que ele avance na estratégia "figital", que integra as plataformas digitais e físicas, que, no quarto trimestre de 2022, apresentou uma participação de 21,7% nas vendas da Pernambucanas, um aumento de 7,45 pontos percentuais em base anual.
Nesta frente, Labuto terá de lidar com um mercado em profunda transformação, que vem sentindo os efeitos da importação de produtos baratos do exterior, com alguns desses nomes instalando operações no País, caso da Shein.