Em meados de 2019, a Microsoft investiu US$ 1 bilhão em uma empresa de tecnologia que até então ganhava pouco destaque no noticiário. A investida, no caso, era a OpenAI, a companhia que posteriormente iria lançar o ChatGPT e receberia mais de US$ 10 bilhões da própria Microsoft em novos aportes.
Agora, a companhia de Redmond segue em busca de encontrar uma “nova OpenAI”. Na segunda-feira, 26 de fevereiro, a Microsoft firmou uma parceria com a Mistral, startup francesa que também atua com inteligência artificial – e que se posiciona como uma concorrente da desenvolvedora do ChatGPT.
Fundada por Arthur Mensch, Guillaume Lample e Timothée Lacroix, trio de pesquisadores com passagens por Meta e Google, a Mistral tem apenas 10 meses de existência. Neste curto período, porém, a companhia já levantou mais de US$ 500 milhões em investimentos junto à gestoras e empresas de tecnologia.
Somente na rodada seed, anunciada em junho do ano passado, a Mistral captou US$ 113 milhões (na conversão do euro para o dólar americano), de acordo com dados do Crunchbase. Em dezembro, a startup com sede em Paris recebeu mais de US$ 415 milhões e foi avaliada em US$ 2 bilhões.
Entre os apoiadores do negócio estão gestoras como Lightspeed Venture Partners, Andreessen Horowitz (a16z), General Catalyst, além de empresas de tecnologia como Nvidia e Salesforce – que vem se mostrando cada vez mais interessadas em inteligência artificial.
A parceria com a Microsoft envolve um novo aporte financeiro na operação, mas os termos não foram revelados. Segundo o Financial Times, a Microsoft apenas diz que fez um pequeno investimento na companhia, mas não detém participação.
A Mistral constrói modelos de linguagem que são utilizados por ferramentas de inteligência artificial. Esses modelos diferenciam uma ferramenta de outra em sua capacidade de gerar conteúdo de forma mais natural e assertiva. Além da Microsoft, Meta e Google também possuem seus próprios modelos.
A ideia é que a startup francesa colabore no desenvolvimento de aplicações de inteligência artificial para a Microsoft na Europa. Na prática, isso significa o desenvolvimento de modelos de linguagem para serem utilizados na Azure, a divisão de computação em nuvem da companhia.
Em 2019, quando anunciou o investimento de US$ 1 bilhão na OpenAI, a Microsoft também informou que se tratava de uma parceria para fortalecer a Azure. Posteriormente, com o lançamento do ChatGPT, a Microsoft passou a estudar novas formas de incorporar inteligência artificial em seus negócios.
No ano passado, a Microsoft integrou a ferramenta de geração de conteúdo em softwares do pacote Office, como Word, Excel e PowerPoint. O serviço de busca Bing, concorrente do Google, também passou a contar com os recursos do ChatGPT para facilitar as pesquisas.
Há dúvidas sobre como vai funcionar a relação da Microsoft com duas empresas que competem pelo mesmo mercado. De acordo com a companhia de Redmond, a empresa possui mais de 1,6 mil modelos de inteligência artificial operando em seus data centers e OpenAI e Mistral “são importantes parceiras”.
Caso passe a deter participação na companhia francesa futuramente, a Microsoft poderá ter que explicar sua situação para órgãos antitruste, que poderiam enxergar o investimento como um ato anticompetitivo.
Chips da Microsoft?
Em apresentação no Mobile World Congress, Brad Smith, presidente da Microsoft, afirmou que a companhia provavelmente irá continuar investindo em inteligência artificial. E que poderia, em determinado momento, também desenvolver seus próprios chips semicondutores voltados para inteligência artificial – mas que ainda é muito cedo para discutir isso.
Neste ramo, a Microsoft bateria de frente com a Nvidia, empresa que se tornou a queridinha de Wall Street. No último ano, as ações da Nvidia mais do que triplicaram de valor. Em seu último balanço financeiro, a companhia informou que multiplicou seu lucro por oito. A Nvidia já vale quase US$ 2 trilhões, enquanto a Microsoft tem valor de mercado superior a US$ 3 trilhões.
A OpenAI, investida pela Microsoft, também está de olho neste setor. Sam Altman, o CEO da companhia, quer captar até US$ 7 trilhões para reinventar a indústria. O Softbank é outro interessado no setor.