No começo de 2023, a distribuidora de produtos de tecnologia Allied deu início a sua operação internacional em Miami, centrada na América Latina. O objetivo era faturar R$ 600 milhões.

Em março, a Allied revisou, pela primeira vez, sua meta para R$ 1,2 bilhão. Ao longo do ano passado teve de refazer o guidance outra vez. Agora, estima que a receita do ano passado tenha ficado entre R$ 1,6 bilhão e R$ 2 bilhões, mais de três vezes o que imaginava.

Para se ter uma ideia, quando era um projeto-piloto, em 2022, representou 9% do faturamento da Allied, empresa que abriu o capital em 2021, mas é controlada pelo fundo de private equity Advent, dono de 65,4% do capital social. Nos nove primeiro meses de 2023, já atingiu 32%, uma receita líquida de R$ 1,4 bilhão. Só fica atrás, atualmente, da distribuição no Brasil, que movimentou 48% do faturamento da empresa.

E, ao que tudo indica, a operação internacional da Allied vai ser um dos pilares de expansão da Allied ao longo deste ano. Atualmente, conta com acordos com 22 distribuidores em 16 países da América Latina para vender inicialmente produtos de Apple, Google e cartões de memória.

“Estamos negociando com outros fabricantes, para termos outras marcas em nosso portfólio”, diz Silvio Stagni, CEO da Allied, ao NeoFeed. “Temos o resto da América Latina ainda para entrar.”

O desempenho surpreendente da operação da Allied está fazendo com que a companhia aumente ainda mais suas fichas nesta estratégia. Stagni diz que tem conversas em andamento com os principais distribuidores da região, à exceção da Argentina.

A Allied pretende expandir o portfólio de produtos da operação de Miami e está avaliando crescer em celulares, computadores e videogames. “Para nós, é mais importante a ampliação do escopo de produtos”, afirma Stagni. “Já estamos nos principais países da América Latina."

A operação de Miami também visa a atender o mercado brasileiro em produtos que não são vendidos diretamente no País, como as chamadas câmeras de ação, a exemplo das GoPro. “Esse é um nicho que nem começamos a explorar”, diz o CEO da Allied.

Depois de duas revisões de guidance em 2023, a Allied diz que não pretende fazer projeções sobre o resultado internacional neste ano.  “A curva de crescimento de um novo negócio é sempre exponencial até certo ponto e atinge um patamar”, diz Stagni. “O que a operação internacional vai ser em 2024? Ela vai continuar crescendo.”

Outros motores

A operação internacional é uma das apostas da Allied para 2024, numa estratégia de diversificar a atuação e fortalecer outras áreas com serviços complementares.

Uma frente que a empresa quer também acelerar em 2024 é a parte de aparelhos celulares seminovos ou recertificados, um mercado que deve movimentar R$ 5 bilhões no Brasil em 2024, segundo pesquisa da consultoria IDC.

A Allied vai também fortalecer sua operação nos mercados corporativos e governamentais. Embora seja um dos maiores distribuidores B2B2C do País, ela ainda tem pouca participação na parte B2B, que representaram apenas 9% da receita da parte de distribuição.

A distribuidora da Advent está montando uma equipe comercial especializada em B2B, de olho num mercado endereçável de quase R$ 10 bilhões. No caso das compras governamentais, a Allied está de olho em editais para atender a demanda das secretarias de educação por equipamentos baratos.

O quarto alicerce da Allied deve ser o seu braço financeiro, a Soudi, que concede crédito utilizando o celular adquirido como garantia. A Allied desenvolveu um software em que, caso os pagamentos atrasem, o aparelho é bloqueado, permitindo apenas fazer ligação para um número da Soudi para renegociar o débito

A solução é voltada para aparelhos Samsung vendidos nas 126 lojas operadas pela Allied e outras empresas. Mas a companhia também quer começar a vender celulares de outras marcas com a solução da Soudi em seu próprio site, o MobCom. Stagni diz ainda que a Allied planeja “monetizar” esta solução tecnológica, oferecendo a solução para outros varejistas.

No terceiro trimestre de 2023, a Soudi registrou uma carteira de crédito de R$ 66,3 milhões, aumento 40,4% em relação ao mesmo período de 2022. O NPL (non-performing loan) de 60 dias atingiu 9,7%, abaixo dos 10,7% apurados no primeiro e segundo trimestre.

Puxada pelas operações de Miami, a Allied registrou um lucro líquido ajustado de R$ 55 milhões no acumulado de 2023 até setembro, alta de 4% A receita subiu 17,5%, para R$ 4,4 bilhões, enquanto o Ebitda recuou 7%, para R$ 195 milhões.

Para Gabriel Gusan, analista do Citi, as iniciativas são positivas para a tese de investimento da Allied, ao reduzir a exposição da companhia à ciclicidade do mercado de eletrônicos.

“Não apenas estes iniciativas devem resultar em receita incremental, elas também retiram risco da empresa, reduzindo a correlação entre o desempenho da companhia e os altos e baixos da demanda por bens de tecnologia”, diz Gusan, em relatório.

As ações da Allied fecharam 2023 com alta acumulada de 25,6% e registram queda de 4,4% em 2024. O valor de mercado da empresa soma R$ 668,4 milhões.