Só nos dois últimos pregões, os papéis da Casas Bahia avançaram 50%, sendo 25,73% na sexta-feira, 29 de agosto, e mais 19,77% na segunda-feira, 1º de setembro, quando fecharam cotadas a R$ 5,15. Em cinco dias, as ações saltaram 65%.

O avanço, em uma primeira análise, é resultado de um movimento técnico, chamado de short squeeze, com gestoras que vinham apostando na queda da ação BHIA3 sendo forçadas a zerar suas posições diante da disparada do papel, em uma tentativa de limitar os prejuízos.

Até o início da semana passada, cerca de 27,23 milhões de ações da Casas Bahia estavam alugadas, volume que representa pouco menos de 5% do total emitido, mas equivale a aproximadamente 37% dos papéis em livre circulação porque se exclui dessa conta a participação dos acionistas relevantes da companhia.

Com a escassez de papéis disponíveis e a alta demanda pelo aluguel, os investidores que apostaram na queda (short sellers) foram forçados a cobrir suas posições, resultando em uma pressão adicional de compra. A taxa de tomador das ações da companhia, paga para alugar o ativo e montar a posição vendida, vinha sendo negociada acima de 130% ao ano.

Mas há outros fatores por trás desse movimento. Um deles é a perspectiva de queda de juros, que favorece papéis de empresas varejistas. A outra é a reestruturação da dívida da companhia, que culminou com a entrada de um novo acionista controlador na companhia: a Mapa Capital.

“A alta recente das nossas ações reflete não só os avanços consistentes do Plano de Transformação, mas também a melhora do cenário macroeconômico e um movimento técnico de short squeeze que potencializou os impactos”, afirma Renato Franklin, CEO da Casas Bahia, em entrevista ao NeoFeed.

Há dois anos, a rede varejista anunciou ao mercado um planejamento para dar solidez financeira à companhia, com o reequilíbrio das dívidas bancárias e o resgate da rentabilidade do negócio.

Em meio a esse processo, um cabo de guerra começou a se formar entre os investidores comprados (aqueles que acreditavam na conclusão e no sucesso da companhia no longo prazo) e os vendidos (que não enxergavam a possibilidade de recuperação).

As posições vendidas começaram a ser montadas de forma mais consistente a partir do início de junho, quando a companhia anunciou o plano de transformação da sua estrutura de capital, segundo dados do TradeMap.

Desde então, as apostas contrárias às ações mais do que dobraram. Foi em agosto, porém, que o short em Casas Bahia atingiu seu ápice, com a taxa de tomador saltando de cerca de 8% para 135% ao ano — o maior patamar de toda a B3.

O NeoFeed apurou que o movimento de short vinha sendo liderado, principalmente, por gestores do Rio de Janeiro, que apostavam em uma venda expressiva de ações por parte da Mapa Capital — algo que não se concretizou.

No início de agosto deste ano, a Mapa converteu a totalidade das debêntures em ações ordinárias da Casas Bahia e passou a deter 85,5% do capital da varejista, tornando-se o seu principal acionista. Com a operação, a alavancagem medida pela relação dívida líquida/Ebitda da Casas Bahia caiu de 1,8 vez para 1,1 vez no segundo trimestre de 2025.

O valor das debêntures era de R$ 1,5 bilhão e pertencia ao Bradesco e Banco do Brasil — a gestora fechou um entendimento com os dois bancos para fazer a compra. Com a conversão da dívida a R$ 2,95 por ação, esses antigos credores já ganharam cerca de R$ 1,2 bilhão com a valorização dos papéis.

Mesmo com a primeira fatia já liberada para venda, a Mapa não apenas manteve sua posição após a conversão das debêntures, como o cenário macroeconômico também ajudou a impulsionar ainda mais o preço dos papéis. Com a expectativa de corte de juros ganhando força, investidores passaram a buscar ações que se beneficiariam desse novo ambiente — e encontraram na Casas Bahia essas características.

“Existe uma busca por mais beta”, resumiu um gestor, lembrando que outra ação semelhante, a da Magazine Luiza, subiu cerca de 20% desde a semana passada.

A diferença, no entanto, é que as posições vendidas em Casas Bahia eram proporcionalmente muito maiores em relação ao seu free float, o que intensificou a corrida pela zeragem e resultou em uma alta ainda mais acentuada dos papéis.

A aposta em ações de beta alto (mais voláteis, portanto, com maior risco) tem sido uma das estratégias mais bem-sucedidas no mercado brasileiro em 2025.

Um estudo do Itaú BBA, que organiza as companhias listadas na B3 em diferentes teses de investimento, mostra que esse grupo acumulava até agosto uma performance de 65%. O segundo melhor desempenho foi o das chamadas bond proxies — empresas vistas como alternativas à renda fixa — com retorno de 35% no mesmo período.

Apesar do bom momento e de considerar a conversão das ações como um passo positivo para a companhia, Caroline Sanchez, analista da Levante Inside Corp, pondera que os reais efeitos dessa transformação só deverão ser sentidos ao longo dos próximos trimestres.

Confiante no processo de transformação da companhia, Franklin reconhece que ainda há muito trabalho pela frente, mas reforça que a Casas Bahia está no caminho certo. “O mais importante é que seguimos firmes na execução”, afirma o executivo.

Embora expressivo, não foi a primeira vez que as ações da Casas Bahia passaram por um movimento semelhante. Ainda em março, os papéis chegaram a disparar mais de 200%, impulsionados pelas compras do investidor Rafael Ferri.

Assim como agora, a companhia registrava grandes posições vendidas, e a alta acelerada forçou a recompra para zerar as apostas, inflando ainda mais o preço da ação. Em meados de abril, o investidor saiu do corpo de acionistas relevantes.

Naquela ocasião, as ações da Casas Bahia chegaram a superar R$ 11, mas não se mantiveram por muito tempo nesse patamar. Ao longo de abril, já bem abaixo da máxima do ano, a forte demanda pelo aluguel dos papéis levou a taxa de tomador a se aproximar de 300%. O mês terminou com uma desvalorização de 39,5%.

Em maio, os papéis recuaram mais 27% e acumularam nova queda de 21,6% em junho. No ano, no entanto, o saldo é positivo, com as ações estão em alta de 78,2%.