Uma das pioneiras entre as companhias independentes de petróleo e gás do País, a Enauta vem se preparando para dar um salto produtivo. No começo de 2022, a companhia aprovou um investimento de US$ 1,2 bilhão no campo de Atlanta, seu principal ativo, para elevar sua capacidade de 30 mil barris de óleo por dia para 50 mil em 2024.

Mas crescer organicamente não será suficiente para o longo prazo. Com 20 anos de história, a antiga Queiroz Galvão Exploração e Produção (QGEP) vê um novo momento no mercado, em que a falta de ativos e projetos considerados interessantes e viáveis vai levar a uma onda de fusões e aquisições entre as produtoras independentes.

E, neste movimento, a companhia tem planos para estar na ponta consolidadora, aguçando bem suas antenas em busca de oportunidades. “Estamos sempre olhando oportunidades de diversificação de portfólio e aquisição de algum ativo”, diz Décio Oddone, CEO da Enauta, ao NeoFeed. “Estamos numa fase de transição de portfólio, visando expandi-lo.”

Além de Atlanta, campo que fica em águas profundas na Bacia de Santos, a 185 quilômetros da costa do Rio de Janeiro, a Enauta possui participação de 45% no campo de Manati, de gás natural, na Bacia de Camamu, a dez quilômetros da costa da Bahia.

Os dois campos contribuem com uma produção média entre 15 mil e 20 mil barris de óleo equivalente ao dia e apresentam reservas provadas de 166 milhões de barris de óleo equivalente.

O interesse da Enauta, de acordo com Oddone, é por ativos que estão em produção e que já tem geração de caixa para colaborar no curto prazo. A companhia não considera a possibilidade de entrar em uma nova área, principalmente no que se trata de energia limpa.

“Não temos preferência, pode ser onshore ou offshore, desde que faça sentido e que a gente consiga, ao entrar, gerar valor”, diz Oddone. “Não temos apetite por atividade exploratória.”

O movimento de consolidação ensaiado pela Enauta vem em um momento em que a Petrobras informou que vai revisar os processos de desinvestimentos não assinados, em linha com um pedido do governo. Desde 2015, a estatal vinha vendendo ativos maduros e que tinha pouco interesse para focar no pré-sal.

O movimento foi o principal catalisador para o crescimento das chamadas junior oils nos últimos anos, que conta também com nomes como 3R Petroleum, Prio (antiga PetroRio) e PetroReconcavo.

Segundo a Associação Brasileira de Produtores Independentes de Petróleo e Gás (ABPIP), as empresas independentes de óleo e gás natural operam atualmente 179 campos, a maior parte em terra, ganhando forte impulso por conta dos desinvestimentos da Petrobras.

Décio Oddone, CEO da Enauta
Décio Oddone, CEO da Enauta

Ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis entre 2016 e 2020, período em que a Petrobras imprimiu um ritmo acelerado no processo de venda de ativos, Oddone entende que, agora, com esta mudança de cenário, as empresas independentes possuem dois caminhos para crescer.

O primeiro é tentar organicamente a partir para a exploração de novas regiões. O problema para uma empresa pequena é que isto implica em riscos elevados, uma vez que é preciso investir muito para saber se aquele ativo é, de fato, viável, inviabilizando o modelo de negócios de muitas delas, que compram ativos maduros para tentar recuperar petróleo e gás.

Com isto, o que resta para ter um crescimento de longo prazo é o caminho do M&A. “As companhias que não têm portfólio exploratório, que estão apenas em campos maduros, ou começam a correr riscos de exploração, ou compram, ou se fundem”, afirma. “A questão da consolidação está dada, é inexorável.”

O movimento de consolidação ainda é tímido, mas começa a ser visto. No final de 2022, a PetroReconcavo pagou cerca de R$ 1 bilhão por ativos no Brasil da sueca Maha Energy em regiões próximas às suas operações, na Bacia do Recôncavo, na Bahia. A Prio fechou em outubro de 2022 a incorporação da Dommo Energia, a antiga OGX, de Eike Batista.

Oddone entende que a companhia está preparada para ser juntar ao grupo e ser uma consolidadora, considerando seu balanço robusto. A Enauta fechou 2022 com caixa líquido de R$ 1 bilhão, com alavancagem financeira negativa de 0,8 vez.

Caçadora ou caça?

Mas, se a Enauta se considera uma consolidadora, no mercado se fala que ela pode ser, na verdade, um alvo. Em 12 de abril deste ano, o jornal Valor Econômico informou que a Queiroz Galvão, controlador da Enauta, com 63% do capital social, negocia com credores para evitar que ações da companhia, que deu como garantia para alongamento de sua dívida, em 2019, sejam convertidas em participação acionária.

A situação pode resultar em uma troca de controle da Enauta. Sobre o tema, Oddone diz que não tem informações a respeito do assunto e reforça que a companhia está bem posicionada para ir ao mercado.

Segundo ele, a situação financeira ganha um reforço com os investimentos para aumentar a produção em Atlanta. Com o novo sistema de exploração sendo instalado, a Enauta vai conseguir explorar seis poços, aproveitando os três atuais e perfurando outros três.

No fim de março, a companhia anunciou a conclusão da fase de ramp-up de produção de um novo poço do Campo de Atlanta. E em 20 de abril, a Enauta anunciou ter atingido a marca de 32 mil barris de óleo equivalente produzidos por dia, graças a Atlanta, onde a produção superou a marca de 25 mil barris de óleo por dia.

Para Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, o mercado está em compasso de espera para ver a Enauta colocar em prática o plano de expansão de produção em Atlanta e os resultados que vai obter. Com valor de mercado de R$ 3 bilhões, as ações da Enauta registram queda de 43% em 12 meses.

“Não é fácil fazer um aumento de produção como a companhia está propondo”, diz Arbetman. “Vai ser preciso estabilizar a produção dos três novos poços, uma tarefa que não é fácil para qualquer companhia.”

Além da execução operacional, Arbetman diz que os investidores querem também ter um pouco mais de clareza a respeito de quem será o controlador.

“O mercado vai conseguir destravar valor no papel quando tiver uma certeza maior quanto ao status da governança da companhia, saber se vai ser diluído e quais os planos daqui para frente”, afirma.