A Minerva alcançou R$ 2,5 bilhões de geração de caixa livre no terceiro trimestre deste ano, principalmente pela redução de R$ 1,6 bilhão em estoques no período. O número é resultado de uma estratégia adotada no início deste ano que foi considerada arriscada por uma parte dos analistas.
O maior exportador de carne bovina in natura da América do Sul ouviu sua área de business intelligence e decidiu formar estoque nos Estados Unidos. Esse movimento consumiu R$ 709,2 milhões do caixa da empresa no primeiro trimestre. A projeção era reverter, com uma maior rentabilidade das operações, nos dois trimestres seguintes.
“Víamos uma curva de preços ascendente lá por causa da queda do rebanho americano”, diz Edison Ticle, CFO da Minerva, em entrevista ao NeoFeed. “O rebanho estava no menor nível dos últimos 75 anos e o consumo seguia resiliente. Faltaria oferta, os preços subiriam.”
Os dados da Minerva estavam no timing correto tanto na leitura sobre o mercado americano como acabaram antecipando um problema geopolítico. Quando o governo Trump anunciou um tarifaço de 50% sobre a carne brasileira, a companhia já tinha estocado carne sob a tarifa antiga.
A companhia conseguiu vender a preços melhores, preservando margens e transformando o que poderia ser um golpe em vantagem competitiva. No terceiro trimestre, aproximadamente 61% da receita bruta consolidada de R$ 16,3 bilhões - expansão de 80,1% sobre o mesmo período do ano anterior - teve origem no mercado externo.
“Temos cada vez mais presença no mercado internacional. O Brasil e a América do Sul estão, cada vez mais, acessando diferentes mercados”, afirma Fernando Galletti de Queiroz, CEO da Minerva. “A grande razão disso é a competitividade que nós temos no hemisfério Sul e, principalmente, a mudança da plataforma de produção no hemisfério Norte.”
Entre julho e setembro deste ano, a empresa registrou receita líquida recorde de R$ 15,5 bilhões, Ebitda de R$ 1,4 bilhão e um lucro líquido de R$ 120 milhões (no acumulado do ano totaliza R$ 763,3 milhões).
O efeito dessa estratégia da gestão foi direto no caixa e, como consequência, houve uma redução de dívida líquida em R$ 2,4 bilhões, para R$ 11,7 bilhões. A alavancagem caiu para 2,5 vezes, o menor nível desde 2022 e abaixo do patamar pré-aquisição dos ativos da Marfrig.
“Do ponto de vista de sustentabilidade [financeira], não precisamos reduzir mais a alavancagem. Mas com juros altos, quanto menor a dívida, menor a despesa financeira. E isso deixa a companhia ainda mais saudável”, afirma o CFO.
Cerca de 12 meses após o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovar, com restrições, a aquisição de 11 unidades de abate e desossa de bovinos no Brasil, uma unidade na Argentina e outra no Chile da Marfrig, a Minerva concluiu a integração dos ativos seis meses antes da projeção inicial de 18 meses.
“O Cade demorou quase um ano para aprovar a transação [o negócio foi fechado em agosto de 2023]. Mas não ficamos parados. Aproveitamos o tempo para planejar cada detalhe da integração. Quando as equipes entraram nas fábricas, já sabiam exatamente o que fazer”, afirma Ticle.
Em 25 de setembro, no entanto, a autoridade concorrencial uruguaia vetou a aquisição de três unidades da Marfrig pela Minerva, que tinha cerca de R$ 750 milhões em uma conta de contingência para esse negócio. Como decidiu não recorrer da decisão, esse montante será liberado no próximo balanço da empresa.
Com isso, a Minerva encerrou o trimestre com 39 unidades de abate na América do Sul - Brasil, Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai -, além de quatro na Austrália. E três fábricas de processados.
“A gente redireciona as exportações conforme o cenário. Estarmos geograficamente diversificados nos permite mitigar riscos sanitários, cambiais e agora, também, políticos”, afirma o CEO.
No mesmo 5 de novembro da publicação do balanço, a Minerva anunciou a recompra e o cancelamento de US$ 75,7 milhões relativos ao Bond 2031 da companhia. Desde o início deste ano, a empresa já recomprou e cancelou um total de US$ 384,8 milhões (aproximadamente R$ 2,3 bilhões) em bonds de 2028 e 2031.
A ação BEEF3 acumula alta de 73,9% neste ano na B3. O valor de mercado da Minerva é de R$ 7,4 bilhões.