Comprada em 2013, a Seara foi um dos atalhos da JBS para alcançar o status de maior empresa de proteína animal do mundo, avaliada em R$ 41,6 bilhões. Ali, o grupo ganhou tração em aves e suínos e se consolidou na cola da BRF e de suas marcas, como Sadia e Perdigão.
A partir da injeção de recursos, a Seara apertou o passo para assumir a dianteira em algumas categorias, como alimentos congelados. E, dando sequência a essa estratégia, está abrindo novamente o cofre de olho em um outro front dessa disputa.
Com um aporte de R$ 1 bilhão em uma nova fábrica em Rolândia (PR), a empresa está consolidando o maior investimento em produção da sua história. A unidade traduz o seu apetite pelo mercado de empanados de frango, em um menu que inclui ainda uma nova linha de produtos.
Com o desembolso bilionário, a Seara concretiza mais uma etapa de um plano anunciado no fim de 2019, quando divulgou a intenção de investir R$ 8 bilhões em um prazo de cinco anos.
“Esse projeto é estratégico para crescermos em uma categoria pouco desenvolvida no Brasil”, diz João Campos, CEO da Seara, ao NeoFeed. “Mas que, ao mesmo tempo, já movimenta R$ 2,9 bilhões por ano."
Campos traz outros números à mesa para reforçar esse potencial. Apesar de os empanados processados já serem consumidos em 33% dos lares do País, o índice ainda está abaixo do de outros mercados, como Reino Unido, com 66%, e Estados Unidos, com 56%.
O aporte em Rolândia amplia o mapa de produção de 60 unidades da Seara no Brasil e no exterior. Três delas estão centradas em empanados. Com 54 mil metros quadrados de área construída, a unidade está instalada ao lado de um frigorífico da marca e prevê contratar mais de 680 funcionários.
A fábrica entrou em operação há cerca de 15 dias produzindo o cardápio atual da Seara em empanados, que inclui opções como Tekitos, Rezende e LeBon. Até o fim do ano, uma outra linha, de salsichas, passará a rodar na instalação.
O grande mote, porém, é a linha dedicada ao novo portfólio, que entra em operação em abril. Na contramão de itens processados a partir de pedaços de frango, ela será centrada em empanados feitos de 100% de peito ou de coxas de frango.
O desenvolvimento desses produtos teve início há cerca de dois anos. Esse esforço envolveu a área de P&D e estudos com consumidores para entender as razões por trás da baixa penetração.
“Queremos ressignificar a categoria, que está sem inovações há muito tempo”, diz Gabriela Pontin, diretora de negócios da Seara. “O consumidor está buscando conveniência e praticidade, mas com o gosto e a textura do frango empanado em casa.”
Para chegar nessa receita, a fábrica tem um grau elevado de automatização, com tecnologias trazidas de fora do País. Os sistemas controlam processos como temperatura, cozimento e o próprio empanamento.
Ao ressaltar a inovação dos lançamentos, Pontin diz que ainda não há dados de mercado sobre empanados produzidos a partir de cortes íntegros de frango. “Hoje, nós temos um terço de participação da categoria como um todo, seja de moldados ou de steaks”.
A nova linha tem previsão de chegar ao varejo entre abril e maio, trazendo mais de 10 produtos. Com esse reforço, o portfólio da Seara na categoria passará a contar com 30 opções.
Além do e-commerce próprio, a Seara vem reforçando as parceiras no varejo. Em suínos, um exemplo é o Açougue Nota 10, com a consultoria para açougues de redes como o Assaí. Outra iniciativa é o Empório de Frios, espaço em que a marca tem acordos nas lojas de players como GPA e Zaffari.
Dos empanados ao plant based
“Nosso foco está em produtos de alto valor agregado”, diz Campos. “A ideia é provocar mudanças em categorias que estão paradas há muito tempo.”
Ele não revela o valor já investido dentro do aporte total previsto para ser cumprido até 2024. Mas outras categorias também estão entre os destinos desses aportes. Uma delas á e de plant based, na qual a empresa atua por meio da marca Incrível, lançada no fim de 2019.
Em 2022, a Seara fez o spin-off da operação, cujo portfólio traz de margarinas e iscas de peixe a hambúrgueres, pernis e almôndegas. “Reformulamos os produtos e repaginamos a marca”, diz Pontin. “Estamos pegando as referências de cada categoria e criando alternativas análogas de origem vegetal.”
Os lançamentos mais recentes foram massas como penne e lasanha a bolonhesa. Em breve, esse portfólio ganhará opções como pizzas de pepperoni e de frango com “cajupiry”. Se o plant based está ganhando espaço na Seara, a empresa já tem um bom peso na JBS.
No terceiro trimestre de 2022, a receita líquida da operação cresceu 22,3%, para R$ 11,7 bilhões. A receita da JBS avançou 6,8%, para R$ 98,9 bilhões. O Ebitda ajustado da Seara ficou em R$ 1,78 bilhão, alta de 80,9%. Já a margem Ebitda ajustada evoluiu 4,9 pontos percentuais, para 15,1%.
A Seara faturou R$ 11,7 bilhões no terceiro trimestre de 2022, alta anual de 22,3%
Head de agro, alimentos e bebidas da XP, Leonardo Alencar destaca os ganhos de market share registrados pela Seara nos últimos anos. E vê potencial para a empresa seguir nessa toada, enquanto sua principal concorrente, a BRF, vive dias menos favoráveis.
“A BRF vem falhando há alguns anos na execução, com projetos erráticos e que o mercado não comprou”, diz. “Enquanto isso, a Seara vem executando uma estratégia consistente, com a vantagem de ter por trás um grupo com um bolso quase infinito.”