A Sequoia Capital é tida como uma das principais gestoras de venture capital do mundo. A fama veio por ter apostado de forma certeira em empresas como Atari, Apple, Electronic Arts e Google quando essas ainda eram negócios de garagem. O momento atual, no entanto, está distante dos tempos áureos.
Nos últimos meses, a gestora convive com a pressão dos sócios que injetaram dinheiro na operação por conta de investimentos ruins realizados e que estão desvalorizados. Há também quem não esteja contente com a aposta da companhia em FTX, Twitter e ByteDance.
Quando assumiu a Sequoia no ano passado, Roelof Botha encontrou uma companhia que parecia financeiramente confortável. Empresas como DoorDash, Unity e Nubank haviam acabado de realizar suas aberturas de capital e negócios como Stripe, Reddit e Instacart estavam prontos para serem desinvestidos pela gestora. O problema foi o timing.
Em 2022, com a alta na taxa de juros e um maior conservadorismo dos investidores, a captação para startups caiu consideravelmente. Quem já estava listado também sofreu. A Nasdaq registrou queda de 30% nas ações das companhias de tecnologia no ano passado.
Com isso, o valor dos ativos da Sequoia caiu de US$ 85 bilhões, quando Botha assumiu o cargo, para US$ 53,2 bilhões em março, de acordo com documentos da empresa. Agora, a Sequoia tem uma carteira no mesmo valor de uma de suas principais rivais, a Andreessen Horowitz, segundo o The Information.
Na tentativa de virar a página, nos últimos meses o managing partner propôs a sócios e parceiros uma missão em especial: buscar startups de inteligência artificial (IA). A partir dessa busca, a gestora realizou cerca de 10 investimentos em empresas do setor somente neste ano.
Entre elas está a Harvey, que usa IA para auxiliar profissionais do setor jurídico e que levantou US$ 21 milhões em uma rodada de série A liderado pela Sequoia Capital. A LangChain foi outra aposta. No mês passado, o Business Insider reportou que a startup que trabalha com IA para desenvolvedores estava negociando um round de até US$ 25 milhões.
Mas esses novos investimentos não foram suficientes para que Botha desviasse o foco dos problemas que a gestora de 51 anos vem enfrentando. Sob sua gestão, a companhia viu o valor de algumas de suas investidas derreter. O maior exemplo é a Stripe, cujo valor de mercado caiu pela metade para US$ 50 bilhões.
Sequoia recolhe os cacos
Startups do portfólio que têm ações listadas na bolsa de valores também apresentaram um desempenho bem longe do esperado pela gestora. Desde o pico de seu valor de mercado, em novembro de 2021, a plataforma de entrega de pedidos DoorDash, por exemplo, viu o valuation diminuir mais de 74%. A companhia agora vale pouco mais de US$ 24,6 bilhões.
A Sequoia também recolhe os cacos de seu investimento na FTX, a exchange de criptomoedas que viu seu negócio implodir no ano passado. A investidora alocou pelo menos US$ 200 milhões na operação. Em novembro do ano passado, a gestora pediu desculpa aos investidores de seu fundo e afirmou que reforçaria o rigor do due diligence.
Outro tiro na água parece ter sido o Twitter. Junto a outras gestoras como Andreessen Horowitz, Brookfield, a Sequoia ajudou a financiar a compra da rede social por Elon Musk. Segundo o TechCrunch, os investidores injetaram US$ 7,1 bilhões – sendo US$ 800 milhões da Sequoia – na compra do negócio que custou no total US$ 44 bilhões.
Menos de um ano após a compra, o bilionário sul-africano já deu sinais de que pagou mais do que deveria pela empresa que comanda o principal microblog da internet. Em março, Musk estabeleceu como política o oferecimento de opções de ações para funcionários da empresa. Quando fez isso, ele reduziu a avaliação privada da rede social para US$ 20 bilhões.
A ByteDance é outro problema. A Sequoia detém uma participação de 10% na companhia que detém o TikTok. No preço atual, essas ações valem cerca de US$ 22 bilhões. Contudo, a empresa chinesa está em rota de colisão com legisladores americanos e pode ter que se desfazer de sua rede social para permitir que o serviço continue operando no país.
Com receio de que o negócio possa se desvalorizar, a Sequoia vem tomando medidas para se proteger. No ano passado, a companhia contratou a Beacon Global Strategies, consultoria especializada em relações governamentais com a China, para aconselhar a gestora em relação a sua posição.