A reestruturação promovida pela Natura &Co em sua operação, depois de ver a iniciativa de criar uma plataforma global de marcas de beleza não decolar, parece estar sendo cada vez mais bem aceita pelos analistas do mercado.

Num espaço de dois dias, dois bancos publicaram relatórios elevando o preço-alvo para as ações da companhia. É uma demonstração de otimismo no processo de turnaround na empresa comandada por Fabio Barbosa, especialmente os efeitos que a integração das operações da rede Natura e Avon na América Latina pode ter nas finanças.

O resultado dessas visões positivas é que as ações da Natura registram a maior alta entre os papéis do Ibovespa na quinta-feira, 20 de julho. Por volta de 14h, os papéis subiam 4,27%, a R$ 16,16. No ano, eles acumulam alta de 39,2%, levando o valor de mercado a R$ 22,9 bilhões.

Os elogios mais recentes vieram do Bradesco BBI, que elevou o preço-alvo das ações da empresa de cosméticos de R$ 16 para R$ 24, indicando um potencial de alta de 45,3% em relação aos patamares atuais da cotação. A recomendação foi mantida em compra.

O analista Felipe Cassimiro diz estar mais construtivo em relação à integração entre Natura e Avon na América Latina. Ele destaca que a principal força da empresa “está no canal de vendas diretas, que é mais competitivo nos mercados emergentes, especialmente na América Latina”.

A companhia entrou no final do primeiro trimestre na chamada Onda 2, que prevê a integração da rede Natura e Avon, com o processo sendo iniciado pelo Peru. Os primeiros resultados devem ser apresentados em 16 de agosto, e as expectativas são altas.

Para o Itaú BBA, a integração que está sendo conduzida vai tornar a unidade da América Latina a principal geradora de valor para a Natura &Co, com a combinação do crescimento esperado para a marca Natura, a melhora das margens da Avon e os ganhos de eficiência puxando o desempenho em geral da companhia.

Em relatório divulgado na quarta, 19 de julho, os analistas Thiago Macruz, Victor Rogatis, Maria Clara Infantozzi e Clara Lustosa elevaram o preço-alvo das ações de R$ 18 para R$ 21, com recomendação de compra.

O BBA já tinha dado um upgrade nos papéis da Natura. Em fevereiro, eles elevaram o valor de R$ 16 para R$ 18, também com uma recomendação de compra. A justificativa eram as evoluções no processo de reestruturação da companhia.

“Embora a Natura seja uma marca líder em várias categorias de produtos na América Latina, acreditamos que após o fim da Onda 2, ela pode se beneficiar da presença estabelecida da marca Avon em países como México, Peru e Colômbia para aumentar seu market share”, diz trecho do relatório.

Venda da The Body Shop?

Os relatórios do Bradesco BBI e do Itaú BBA também trataram do potencial ganho que a Natura pode ter caso queira vender a The Body Shop, marca que vem enfrentando dificuldades por conta do cenário macroeconômico, vendo um crescimento abaixo do esperado.

Embora a companhia já tenha informado que a venda não está em seus planos, os analistas avaliam que, se mudar de ideia, a operação pode simplificar a estrutura corporativa, além de destravar valor aos acionistas.

Considerando um EV/Ebitda conservador de seis vezes, quando comparado com a concorrência, o relatório do Itaú BBA aponta que a The Body Shop pode render cerca de R$ 3,4 bilhões. O Bradesco BBI estima que, excluindo o ativo, o valor justo da ação poderia ser R$ 2 maior.

Além desses fatores, os analistas das duas casas veem as ações da Natura bastante descontadas. Segundo o Bradesco BBI, elas estão sendo negociadas a um EV/Ebitda para 2024 de 5,6 vezes, um desconto de 65% para os pares globais.

“Vemos uma avaliação descontada, dado a taxa de crescimento anual composta (CAGR, na sigla em inglês) do Ebitda de 15,2% e Roic de 7,3 pontos percentuais no período de 2023 a 2026, apoiado por ganhos contínuos em sua margem Ebitda”, diz trecho do relatório.