A Natura & Co anunciou a venda da marca australiana Aesop para a L’Oréal na noite de segunda-feira, 3 de abril. Na manhã seguinte, Fabio Barbosa, o CEO do grupo brasileiro, e Guilherme Castellan, o CFO, realizaram duas teleconferências para explicar a transação. Em ambas, a frase mais repetida foi: “disciplina na alocação de capital”.

Com uma dívida bruta em crescimento ao longo de 2022, para R$ 13,4 bilhões, e um aumento de 85,1% na despesa líquida financeira em 12 meses de pouco mais de R$ 1 bilhão para R$ 1,9 bilhão, o nível de alavancagem da companhia passou de 1,52x a geração de caixa para 3,49x.

“Não conseguiríamos manter esse endividamento. Ficou impossível. Era preciso sair dessa taxa de juros. Felizmente tínhamos esse ativo para monetizar”, diz Barbosa.

A gestão do passivo e a desalavancagem do balanço eram a obsessão da Natura & Co em 2023. A Aesop era o ativo mais valioso da empresa. Com a venda por US$ 2,525 bilhões (R$ 12,8 bilhões), que será concluída no terceiro trimestre deste ano, a empresa reequilibra os passivos.

O CEO da Natura afirma que o momento é de refletir sobre o melhor uso para a alocação desse capital. Nem toda dívida será paga, apenas aquelas com taxas de juros elevadas e prazos apertados. Embora o vencimento médio do endividamento seja de 6,5 anos, no fim do ano passado o pagamento desses juros foi de R$ 809 milhões.

“Não vamos vender outros ativos. O foco é disciplina financeira a alocação desse capital”, diz Barbosa. E Castellan completou: “Os dois pontos principais são o fluxo de caixa e o custo da dívida. Deveremos ver resultados imediatos com o menor impacto dos juros”

Após encontrar a solução para reduzir drasticamente a alavancagem, Barbosa passa a ter uma segunda preocupação: não fazer mau uso do dinheiro que entrará no caixa. A preocupação do executivo é não relaxar e desperdiçar essa oportunidade de ajuste financeiro da Natura.

Fusão Natura e Avon

Por isso, a companhia tem como prioridade concluir a integração entre as marcas Natura e Avon na América Latina. A sinergia administrativa, como backoffice e finanças, já ocorreu na região. Neste momento, está sendo feita uma mudança na força de venda e entrega. A fusão entre as marcas já está em curso no Peru e na Colômbia. No Brasil, essa união deve acontecer a partir de setembro. “Não queremos nos distanciar do foco”, enfatizou Barbosa.

Sobre a Avon International, existem 10 mercados em crescimento e com boas margens. A ideia é se consolidar nesses locais. Mas outros, como a Índia, a decisão do grupo é trocar o modelo próprio pelas franquias. Uma coisa é certa: não está no mapa abrir lojas em novos países no médio prazo.

Para a The Body Shop, o turnaround iniciado no ano passado continuará ao longo de 2023. A reestruturação é uma tentativa de recuperar as margens do negócio e a atratividade da marca, que foi se perdendo nos últimos anos. Segundo Barbosa, a renovação das lojas, que estão com um aspecto mais clean, assim como os produtos, já tem dado resultado conforme pesquisas internas.

“Temos três marcas valiosas no portfólio que estão passando por momentos diferentes e estamos trabalhando em cada uma delas de modo diferente, com grande foco no curto prazo”, afirma o CEO da Natural & Co.

Segundo negócio com a L’Oréal

Essa não é a primeira negociação entre L’Oréal e Natura. Em 2017, o grupo brasileiro adquiriu a The Body Shop da multinacional francesa por US$ 1 bilhão. Segundo Barbosa, a Natura procurava alguém que poderia “tomar conta da empresa que não nasceu aqui, mas que cresceu aqui”.

Ao longo de 10 anos comandando a Aesop, a Natura & Co conseguiu expandir em 20 vezes as vendas líquidas da marca de luxo australiana, chegando a 595 lojas, ampliando a presença de oito para 29 mercados, inclusive com a entrada no cobiçado mercado chinês, além de ter inserido a empresa em novas categorias, como as fragrâncias.