Em outubro de 2022, a Natura &Co comunicou ao mercado que seu Conselho de Administração havia autorizado a realização de um estudo para avaliar o destino da marca de cosméticos australiana Aesop, parte do seu portfólio: um IPO ou um spin-off da operação.
Quase seis meses depois, o martelo foi batido. Na noite desta segunda-feira, 3 de abril, o grupo brasileiro anunciou que assinou um acordo vinculante para a venda da marca para a L’Oréal, em uma transação avaliada em US$ 2,5 bilhões.
“A transação irá suportar a desalavancagem financeira da Natura &Co e posicioná-la para focar em suas prioridades estratégicas, especialmente na integração na América Latina, assim como na otimização geográfica da Avon Internacional e melhora contínua da The Body Shop, com rígida disciplina financeira”, informou a companhia, em fato relevante.
Nos termos da transação, que foi antecipada pelo portal Capital Reset, o valor em questão será pago no fechamento do acordo, que ainda está sujeito a aprovações regulatórias e está previsto para acontecer no terceiro trimestre de 2023.
Primeiro passo fora do País na estratégia de construção de uma plataforma global de marcas de cosméticos, a Aesop entrou no radar do Natura em 2012, com a compra de uma fatia minoritária, por US$ 71,6 milhões. Quatro anos depois, o grupo exerceu a opção de compra e assumiu 100% da marca.
Nos anos seguintes, com novos M&As, a Natura adicionou a The Body Shop e a Avon a esse guarda-chuva. No entanto, a dificuldade para integrar esses ativos e a demora para obter resultados com essa abordagem começou a se refletir na piora dos resultados da companhia.
Esse desafio e a deterioração de alguns indicadores no balanço da companhia só foram agravados com fatores como a piora nas condições do cenário macroeconômico global. Assim, a busca por um novo destino para a Aesop passou a ser vista como uma das principais opções para recuperar e destravar o valor das ações da Natura.
Como um exemplo do potencial visto na separação do ativo, em outubro, quando a Natura anunciou a intenção de buscar alternativas para o negócio, o BTG Pactual estimou que a Aesop poderia valer R$ 9 bilhões. Esse montante representava mais do que a metade do valor do grupo na época, de R$ 17,8 bilhões.
Em outro sinal da importância do movimento divulgado nessa segunda-feira, há três semanas, quando a Natura divulgou seu balanço do quarto trimestre e do ano de 2022, a falta de novidades sobre o destino da Aesop foi um dos fatores que ajudaram a reforçar a desconfiança dos investidores no grupo.
Além do silêncio sobre avanços nessa frente, outros indicadores contribuíram para ampliar esse mau humor. Entre eles, a queda de 29% no Ebitda ajustado do quarto trimestre, na comparação com igual período, um ano antes, para R$ 1,09 bilhão.
A dívida líquida, que evoluiu de R$ 5,9 bilhões para R$ 7,4 bilhões nesse intervalo, foi mais um componente que desagradou o mercado. Assim como a alavancagem da operação, que foi de 1,25 vezes para 3,49 vezes. E o prejuízo líquido de R$ 890,4 milhões, contra um lucro líquido de R$ 695,5 milhões no mesmo intervalo de 2021.
Como resultado, no último dia 14 de março, no primeiro pregão após a divulgação do balanço, as ações da Natura &Co desabaram mais de 17% na B3.
Já nessa segunda-feira, os papéis do grupo fecharam o pregão na bolsa de valores brasileira com alta de 2,8%, cotados em R$ 13,57. No ano, as ações da empresa, avaliada em R$ 18,6 bilhões, acumulam uma valorização de 16,8%.