As perspectivas de retomada do mercado de capitais no País tem gerado otimismo no Citi. Com um pipeline de operações montado desde o ano passado, o banco conta com elas para fortalecer a última linha de seu balanço, que apresentou queda no ano passado.

“Estamos com um pipeline muito sólido. Então, se as operações acontecerem, há uma possibilidade de um aumento substancial de receita em nosso banco de investimentos”, diz Marcelo Marangon, presidente do Citi Brasil, ao NeoFeed. “Vemos um potencial de geração de fees bem maior que em 2023, e isso também deve contribuir para um lucro líquido mais robusto.”

A contração na atividade do mercado de capitais em 2023 foi um dos fatores que fez com que o banco fechasse o ano passado com um lucro de R$ 2,4 bilhões, queda de 6,4% em relação a 2022.

Embora otimista quanto à retomada do mercado de capitais e seus possíveis efeitos sobre os resultados, Marangon também é cauteloso. Segundo ele, diferentemente do esperado, o ano começou um pouco mais lento em termos de operações, diante dos conflitos geopolíticos e da falta de definição em relação às taxas de juros nos Estados Unidos.

Enquanto o mercado de dívida já demonstra maior atividade, equity ainda deve demorar um pouco para engrenar. A expectativa é de que ele comece a sair do marasmo a partir do segundo semestre. “Acho que este ano tende a ser bem melhor que 2023, mas ainda não tão bom quanto os anos recordes de operações”, diz Marangon.

A falta de operações no mercado de capitais não foi a única, nem a maior responsável pela queda do lucro do Citi em 2023. O banco fez investimentos robustos em pessoal e tecnologia, que resultou em investimento incremental de R$ 500 milhões, parte do plano apresentado em 2022 de aumentar em 50% sua receita em três anos.

Os investimentos do Citi Brasil vem num momento em que a matriz promove uma reorganização das operações no mundo, o que envolverá o corte de 20 mil pessoas pelo mundo até 2026. Segundo Marangon, o plano não afetou os investimentos em 2023. O executivo disse que está acompanhando o desenrolar do plano para ver quais ajustes terá de fazer. “Não tem nenhuma decisão, nenhuma ação específica para o Brasil”, afirma Marangon.

Negócios recorrentes

O Citi também aposta na concessão de crédito e nos chamados negócios recorrentes, como gestão de liquidez, câmbio e serviços de custódia, para sustentar os resultados em 2024, fatores que ajudaram a segurar a queda do lucro no ano passado.

A carteira de crédito expandida cresceu 15,5% no ano passado, para R$ 52 bilhões, com o banco atribuindo o resultado à recuperação no mercado, principalmente no segundo semestre de 2024.

O índice de provisionamento passou de 0,7% para 0,9%, com Marangon dizendo que se tratou de um conservadorismo por parte do banco, considerando o aumento das operações e reestruturação de algumas operações.

Marangon destaca que os pagamentos com atraso superior a 90 dias somaram R$ 12 milhões, o que representa apenas 0,02% da carteira de crédito expandida. “É uma carteira muito sólida, com performance boa, que nos dá segurança para continuar crescendo em 2024”, afirma.

Já a margem financeira recuou 7,7%, em 2023, para R$ 4,9 bilhões, em função dos efeitos de várias operações estruturadas de derivativos em 2022 que não foram repetidas em 2023.

Diante do cenário esperado para 2024, a expectativa é de que o retorno sobre o patrimônio líquido médio (ROAE) permaneça na casa dos 18%. O indicador recuou 3,7 pontos percentuais em relação a 2022, para 18,7%, mas Marangon destacou que esse patamar está mais em linha com o perfil do Citi, um banco de atacado “nichado” que trabalha com empresas de grande porte, com faturamento anual superior a R$ 500 milhões.

O patrimônio líquido aumentou em 4,2%, para R$ 12,3 bilhões, enquanto os ativos do banco cresceram em 7,4%, para R$ 182 bilhões. O índice de Basileia fechou o ano em 14,9%, 1,1 ponto porcentual acima de 2022.