A Prumo Logística encontrou um caminho improvável para expandir sua receita. Controladora do Porto do Açu, no Rio de Janeiro, maior complexo portuário e industrial privado da América Latina, a empresa, que tem como foco a exportação de petróleo e gás, passou a movimentar grãos, que tradicionalmente têm como destino os portos de Paranaguá (PR) e Santos (SP).
Pela primeira vez, no início de setembro, a companhia recebeu uma carga de 25 mil toneladas de milho não transgênico, do estado do Mato Grosso. A empresa já movimentava grãos vindos de Minas Gerais e Goiás, mas ter no portfólio a produção do estado do Centro-Oeste, que lidera o ranking no Brasil, possui um simbolismo importante para a Prumo.
“Mesmo essa carga vinda de caminhão até o Açu, valeu muito a pena. Na conta do custo logístico, que entra o período de espera dos navios para atracar e serem carregados, a demora é de 60 dias em alguns portos. No nosso caso, são três dias”, diz Rogério Zampronha, CEO da Prumo, em entrevista ao NeoFeed.
O volume total de grãos movimentado é próximo a um milhão de toneladas. Ele ainda é pequeno e representa 1% do total das cargas movimentadas no complexo portuário. Mas o plano é de triplicar em um cenário de curto a médio prazo e alcançar três milhões de toneladas em até dois anos.
Essa projeção não considera a construção de uma ferrovia, a EF-118, em fase de projeto na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), com perspectiva de leilão de concessão até o fim do ano, e que deve ligar o porto fluminense ao município de Santa Leopoldina (ES).
A partir do fim da construção, que deve durar pelo menos quatro anos, a expectativa é que a movimentação de grãos suba para 12 milhões a 15 milhões de toneladas por ano.
“Os corredores de Santos e do Paraná são competitivos e muito bem estabelecidos. Por isso, estamos avançando pelas franjas, crescendo pelas beiradas. E, aos poucos, vamos aumentando o nosso volume de cargas de grãos. Há muito caminho para crescer”, diz Zampronha.
Para dar apoio a essa perspectiva de crescimento, a empresa realizou investimentos da ordem de R$ 100 milhões, com geração própria de caixa, para a construção de dois cais primordialmente voltados para grãos, que serão inaugurados em outubro deste ano.
Com eles, será possível receber dois navios do tipo Panamax - navios graneleiros de médio porte - simultaneamente, com capacidade de 75 mil toneladas cada.
Hoje, o Porto do Açu tem cerca de 30 cais para todas as movimentações, mas há espaço para erguer, pelo menos, mais 40, segundo o presidente da companhia.
Mesmo com a perspectiva de triplicar o volume de exportação de grãos, Zampronha afirma que não há risco de estrangulamento logístico, problema hoje muito presente no terminal santista, por causa do acesso de caminhões.
“Ao contrário de muitos portos, temos dois caminhos de chegada. Um somente para petróleo e minério e o outro para as demais cargas. Portanto, não há concorrência no acesso ao canal. Essa é uma das razões pelas quais a gente tenha um tempo de espera muito menor”, afirma o CEO da Prumo.
A carga que saiu do Mato Grosso tem como destino a Europa, embora essa não seja a rota principal dos grãos exportados pela Prumo. Segundo o executivo, os principais destinos dos grãos brasileiros a partir do Açu são Ásia e Oriente Médio.
Dívida bilionária
Em paralelo aos desafios de diversificação de receita, a Prumo ainda tem de lidar com o retorno do grande volume de investimentos ao longo dos anos. Desde o início da operação, há 11 anos, a empresa já aportou R$ 22 bilhões em infraestrutura e instalações.
No fim do primeiro semestre, o balanço da Prumo apontava um total de R$ 14,1 bilhões de dívidas financeiras de terceiros, com emissão de títulos no mercado local e no internacional. Desse total, R$ 845 milhões vencem em até 12 meses.
Além disso, há R$ 2,3 bilhões de mútuos com partes relacionadas - veículos de investimento do controlador EIG e subsidiárias, como Prumo Participações, Vast e NFX.
As dívidas em reais estão indexadas ao CDI ou ao IPCA e têm prazos entre 2026 e 2035. O spread médio ponderado é 15,60% ao ano. Já as dívidas em dólares estão atreladas às receitas operacionais também em dólar - a Prumo faz um hedge natural das receitas para esse endividamento em moeda estrangeira.
Após acordo com os credores, a alavancagem da Prumo passará a ser medida este ano e precisará cair nos próximos sete anos. A relação dívida líquida sobre o Ebitda terá de ser menor que 11 vezes em 2025, até chegar a menos de 3,5x em 2032.
Ainda segundo o balanço, a companhia registrou Ebitda de R$ 814 milhões, alta de 29% sobre a mesma base do ano anterior. A receita foi de R$ 950,7 milhões, alta de 28,2% sobre os R$ 741,4 milhões do primeiro semestre de 2024. No entanto, a empresa registrou prejuízo de R$ 142,7 milhões nos primeiros seis meses do ano.
“É fato que qualquer empresa busca opções melhores para sua estrutura de capital, com fontes mais baratas, mas a gente está equacionado para os próximos anos. Em quatro anos, nossa proporção da dívida sobre Ebitda caiu quatro vezes”, diz Zampronha.
“Sobre a última linha do balanço (que aufere lucro ou prejuízo), é normal que isso ocorra em uma empresa que se financiou para construir um projeto que se paga ao longo dos anos. Se não tivéssemos investido nos novos cais, talvez a última linha fosse diferente. Mas é desejo de nossos acionistas que a gente continue crescendo”, complementa.
A LLX Logística (que depois passaria a se chamar Prumo Logística) foi criada em 2007 pelo empresário Eike Batista, e listada na Bolsa de Valores. Em 2013, o grupo americano EIG assumiu o controle da empresa e rebatizou a companhia. No ano seguinte, o fundo soberano Mubadala comprou as ações de Batista e também passou a ser sócio.
Em 2018, os controladores realizaram uma oferta pública de aquisição (OPA) para fechar o capital da companhia. A operação do Porto do Açu teve início em outubro de 2014.
Distante do tarifaço de Trump
A exemplo do que ocorreu em Santos nas semanas anteriores ao tarifaço de 50% imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, às importações brasileiras, no caso do Porto do Açu houve um crescimento de volume de matéria-prima para a produção do aço, por parte de empresas americanas.
De qualquer forma, o impacto não foi grande entre os produtos exportados, já que os Estados Unidos não representam mais do que 6% do volume da carga que sai do porto do Rio de Janeiro.
“Aqueles que têm grande volume e impacto grande na nossa receita, que são petróleo e minério, não vão para os Estados Unidos. Mas, se fossem, estariam isentos”, afirma o CEO. “Passamos incólumes. Mas é claro que se o Brasil for prejudicado, isso nos afeta. Não somos uma ilha. A gente olha com muita atenção o que está acontecendo.”
Somando as movimentações dos mais de 20 tipos de cargas (com exceção de petróleo), o Terminal Multicargas (T-Multi) do Porto do Açu movimentou 1,2 milhão de toneladas no primeiro semestre deste ano, volume 45% maior do que o mesmo período do ano passado.
A empresa deve alcançar, até o fim do ano, o volume total de 100 milhões de toneladas de cargas movimentadas, das quais cerca de 75% são de petróleo e minério de ferro.
O complexo portuário está localizado em uma área de 130 km², dos quais 40 km² são destinados à Reserva Caruara, maior reserva particular de restinga do Brasil. Ao todo, são 11 terminais, com 28 empresas instaladas na área privada.