Em uma atuação totalmente fora do script, as ações das varejistas brasileiras apresentaram performances estelares no mercado de capitais neste primeiro trimestre. Apesar da surpresa, uma pesquisa da XP mostra que a preferência do mercado no setor segue com velhos favoritos.

O relatório, elaborado a partir de conversas entre analistas e clientes, classificou as ações do Mercado Livre como um “consenso claro” entre investidores estrangeiros. A qualidade do ativo e o histórico sólido têm garantido a preferência pela empresa, cujas ações acumulam alta de 15% desde o início do ano.

O desempenho positivo do Mercado Livre, entretanto, não foi suficiente para acompanhar o ritmo acelerado do rali das demais varejistas: o Magazine Luiza subiu 57% no período e a Casas Bahia disparou 219%. Apesar de favorita entre os estrangeiros, os investidores locais têm reduzido exposição ao Mercado Livre por preocupações com margens potencialmente pressionadas por investimentos estratégicos.

Os investidores internacionais também depositam maior confiança na RD Saúde, que se desvalorizou 9% desde o início do ano, mas permanece presente nas carteiras dos clientes estrangeiros da XP. Os investidores locais, por outro lado, têm concentrado suas apostas em ações que tiveram um melhor início de ano.

Entre as varejistas de alimentos, as ações do Assaí, que subiram 36% no primeiro trimestre, são as preferidas entre os investidores brasileiros. A posição é sustentada principalmente por uma perspectiva operacional relativamente segura e um cenário mais favorável para taxas de juros. O Assaí teve o melhor desempenho entre as distribuidoras de alimentos no início deste ano. GPA e Carrefour subiram 21% e 33,5%, respectivamente, e o Grupo Mateus caiu 2%.

Os analistas da XP destacam que a tese não chega a ser consenso no mercado local, mas percebem também um maior posicionamento do investidor brasileiro nas ações da Smart Fit. Nas conversas, os clientes mencionaram que a pressão exercida pelo Pátria limita uma exposição maior ao papel.

A gestora, que é um dos controladores da empresa, tem reduzido gradualmente sua posição na Smart Fit nos últimos anos. De 2021 para cá, o Pátria se desfez de 10% da empresa, diminuindo de 41% para 31% sua participação no negócio. Investidores estrangeiros, em conversa com a XP, disseram ver a ação como uma “história interessante na região. .

Na ponta oposta, os analistas da XP notaram "quase nenhum interesse" dos investidores pelas ações da Azzas 2154. Um fator decisivo para o desinteresse é a disputa entre os controladores Alexandre Birman e Roberto Jatahy. No início do mês, a administração negou que a empresa estivesse negociando uma cisão, conforme noticiado pelo Pipeline. Para investidores, contudo, essa possibilidade continua sendo considerada.

“Alguns investidores (tanto no Brasil quanto no exterior) veem a desintegração da fusão como a melhor alternativa a longo prazo, enquanto a possível saída de Roberto levantaria preocupações sobre outros diretores criativos também seguirem esse caminho”, afirma o relatório da XP.

Enquanto a história não tem uma solução clara, os ruídos em torno da Azzas continuam incomodando o mercado. No ano, as ações da empresa resultante da fusão entre Arezzo e Soma acumulam queda de 17%.