Desde que anunciou que viria ao Brasil, em 2019, a trajetória do banco digital alemão N26 tem sido repleta de percalços. Primeiro, interrompeu os planos iniciais à espera da autorização do Banco Central para operar como Sociedade de Crédito Direto. Só conseguiu, de fato, iniciar suas operações em novembro de 2022. E, agora, segundo apurou o NeoFeed, pode sair do Brasil.

Alguns fatores contribuem para isso. Primeiro porque sua operação é pequena e, segundo, porque para tracionar no País é preciso capital intensivo e a fintech não conseguiu captar no mercado.

De acordo com duas fontes ouvidas pelo NeoFeed, a companhia está colocando a operação à venda e oferecendo para players do mercado. Procurada pela reportagem, a fintech disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que "não está negociando a venda de suas operações no Brasil".

"A empresa vive um momento de excelentes resultados no País e tem mantido conversas constantes, tanto com possíveis investidores quanto com parceiros de mercado", afirmou a companhia em nota.

A operação do N26 por aqui é minúscula se comparada aos players digitais que tomaram o mercado brasileiro. Apesar de não revelar os números, o NeoFeed apurou que a companhia, que se autodenomina uma fincare, conta com pouco mais de 200 mil clientes e um faturamento médio mensal, de janeiro a maio, que não ultrapassa R$ 1,2 milhão. A carteira de crédito, por sua vez, é de R$ 40 milhões.

“O jogo no mercado bancário está cada vez mais difícil para novos entrantes”, diz o conselheiro de um grande banco. Além dos quatro incumbentes, Banco do Brasil, Itaú, Bradesco, Santander, no campo digital o mercado foi tomado por Nubank, Inter, Mercado Pago e PicPay. Cada um com dezenas de milhões de clientes e ecossistemas mais robustos.

Outros bancos digitais que tentaram tomar o mercado focado em pessoas físicas não tiveram sucesso. O BS2, por exemplo, converteu sua operação para o mercado PJ; O Original acabou sendo tombado para o PicPay; o Next, criado para ser a marca digital do Bradesco, foi incorporado pelo banco da Cidade de Deus. E até varejistas, como Via e Magazine Luiza, que tentaram replicar o modelo Mercado Pago com suas fintechs têm sofrido.

Para operar no Brasil, diz um conhecido banqueiro, um banco digital precisa de, no mínimo, um Patrimônio Líquido de R$ 1 bilhão e R$ 600 milhões de capital. “Agora, se for para ser um banco de nicho, andar de lado, não precisa de muito”, afirma. A questão é que o N26 chegou com a intenção de desbancar os grandes e com o pedigree de uma empresa que já recebeu mais de US$ 1,8 bilhão em aportes e tem um valuation de US$ 9 bilhões.

Um banqueiro ouvido pelo NeoFeed diz que a fase de entrar no País como SCD ou IP ficou para trás. Hoje, a barra regulatória subiu muito e as fintechs estão se convertendo cada vez mais em plataformas com muitos produtos. E, para trazer mais produtos, é necessário cada vez mais capital.

Com presença em 25 países, o N26 ainda sofre para escalar globalmente. Ele conta com uma base total de 9 milhões de usuários. No ano passado, a fintech deixou os Estados Unidos depois de dois anos de operação e 500 mil usuários. Para efeito de comparação, o Nubank tem mais de 80 milhões de clientes no Brasil, México e Colômbia, e o Mercado Pago tem uma base de 45 milhões.

“A primeira geração de fintechs fez com que os brasileiros usassem serviços bancários no celular, melhorando a relação com os bancos", disse Eduardo Prota, CEO do banco digital no Brasil, na época do lançamento do N26 por aqui. E complementou. "Já nós queremos ajudar a melhorar a relação do cliente com o dinheiro, para que tomem melhores decisões financeiras." A questão que fica é: o N26 terá fôlego para isso?

Um dos principais executivos do mercado é enfático ao analisar o ambiente das fintechs e bancos digitais no Brasil. “Eles chegaram tarde e em um momento difícil para todos, tanto nas questões macroeconômicas como na captação junto a fundos”, diz ele. “Quem não tiver escala, pode esquecer.”