Dois anos após lançar a primeira rodada tokenizada da Asaas, o Mercado Bitcoin marcou uma valorização de 183% no ativo, multiplicando por quase três o capital investido. O desempenho é um dos destaques da frente de investment banking da empresa, que passou a ser liderada por André Gouvinhas, CFO e COO da companhia desde 2021.
A reprecificação foi feita com base no valuation da rodada liderada pela Vivo Ventures, que aportou R$ 35 milhões na fintech de gestão financeira. O valor equivale a 2,82 vezes o preço pago pelos clientes do Mercado Bitcoin que investiram na tese em 2023.
Como não houve rodada secundária, os investidores não tiveram a opção de vender suas participações tokenizadas, como na rodada anterior, liderada pela Bond Capital. Segundo o Mercado Bitcoin, porém, a plataforma auxilia na negociação privada entre os 53 clientes que participaram da operação.
“Essa é uma unidade de negócios que queremos reforçar. Estamos tentando colocar mais foco e energia sênior, porque entendemos que é de onde vai vir muito do nosso crescimento futuro”, diz André Gouvinhas, vice-presidente de Investment & Banking do Mercado Bitcoin, ao NeoFeed.
A distribuição do investimento tokenizado na Asaas foi feita a partir da aquisição, pelo Mercado Bitcoin, de uma fatia de R$ 32 milhões detida pela Scala, uma das investidoras da rodada série B liderada pelo Bradesco.
A operação, estruturada de forma privada, marcou a primeira experiência do MB em conectar investidores pessoa física a uma rodada de venture capital.
Desde então, foram feitas outras três distribuições de investimentos tokenizados em startups em modelos semelhantes: na Gringo, Demand e numa rodada pré-IPO na OranjeBTC, que recentemente se listou na B3. Nesse modelo, foram emitidos R$ 180 milhões em participação tokenizada.
“Trazemos apenas empresas que passaram por uma fase de MVP, em rodadas que contam com investidores de primeira linha. Não são investimentos baseados exclusivamente em uma avaliação nossa. Esses investidores profissionais validam tecnicamente a tese e o preço”, afirma o executivo.
O próximo passo, segundo Gouvinhas, é ampliar o acesso a tokens de empresas privadas internacionais, em especial companhias de tecnologia e inteligência artificial que ainda não abriram capital, como OpenAI e SpaceX.
A ideia é firmar parcerias com plataformas estrangeiras que já operam nesse mercado e permitir que investidores brasileiros participem dessas teses antes do IPO. “Queremos pegar essas oportunidades por meio de um parceiro no exterior e distribuir localmente. Estamos procurando esse parceiro.”
O poder da renda fixa
Apesar do potencial multiplicador dos investimentos em empresas de capital fechado, essa área ainda representa apenas uma fração da divisão de renda fixa tokenizada do Mercado Bitcoin. Só em 2025, a companhia distribuiu R$ 1,3 bilhão em ativos desse tipo, dentro de um total histórico que ultrapassa R$ 2,1 bilhões desde o início e mais de 400 operações.
“Demoramos cinco anos para atingir o nosso primeiro bilhão [em tokenização]. E somente neste ano, em 11 meses, já estamos em R$ 1,2 bilhão. Hoje, estamos distribuindo mais ou menos R$ 150 milhões por mês em ativos”, afirma Gouvinhas. Na plataforma, 40 mil clientes possuem algum ativo digital de renda fixa.
O executivo afirma que a vantagem da renda fixa tokenizada está na estrutura mais simples e eficiente de distribuição. Ao eliminar intermediários tradicionais — como bancos e custodiante —, o Mercado Bitcoin consegue reduzir custos e, com isso, aumentar o retorno líquido ao investidor.
O emissor, por sua vez, se beneficia de um custo de captação menor e de um processo mais ágil, já que toda a negociação e liquidação ocorrem dentro da própria plataforma, em reais e com registro automatizado em blockchain.

No cenário global, a tokenização de crédito privado vem ganhando tração acelerada. Desde o início do ano, o volume de empréstimos tokenizados cresceu 94%, alcançando US$ 18,74 bilhões em ativos, segundo dados da plataforma RWA.xyz.
Nesse ranking, o Mercado Bitcoin aparece como o sétimo maior player do mundo, enquanto a líder é a americana Figure, responsável por cerca de 70% de todo o mercado global de crédito tokenizado.
No Brasil, as emissões de renda fixa tokenizada do Mercado Bitcoin são estruturadas com base na Resolução CVM 88, de 2022, que regulamentou as ofertas públicas de investimento por plataformas digitais no país. “É um framework regulatório mais propício para esse tipo de operação”, diz Gouvinhas.
São diversos os tipos de produtos disponíveis nessa frente. Na plataforma, há operações que vão desde títulos de dívida corporativa de empresas conhecidas, como Ripio, Chilli Beans e Multiplique, até ativos lastreados em recebíveis de cartão de crédito, precatórios e direitos judiciais.
Em processo de consolidação no mercado local de renda fixa digital, Gouvinhas planeja expandir a oferta desses ativos para fora do país. “Já oferecemos para nossos clientes em Portugal, por meio da operação que temos no país, que dá acesso à Europa. Mas queremos intensificar essa internacionalização.”
Essa estratégia, segundo o executivo, pode ajudar a reduzir o custo de captação das empresas locais e, ao mesmo tempo, ampliar o alcance internacional da plataforma. “Vamos exportar os juros brasileiros.”