Ainda que o mercado brasileiro de startups tenha crescido fortemente nos últimos anos, gerando um robusto ecossistema de fintechs e outras tantas techs com reconhecimento do grande público, elas ainda são muito tímidas no mercado internacional.

Isso é algo que Daniela Binatti, cofundadora e CTO da Pismo, fintech comprada por US$ 1 bilhão pela Visa, e Júlio Vasconcellos, managing partner do fundo de venture capital Atlantico e cofundador da Peixe Urbano, esperam que mude nos próximos anos. Para eles, os empreendedores brasileiros podem e devem ter uma visão mais global para os negócios que estão montando.

“Quando se falava em empreender, há dez anos, atuar no exterior era uma conversa que não tinha; se criava soluções para o mercado interno ou se copiava algo de fora”, disse Vasconcellos, durante painel do Itaú Future Day, na terça-feira, 26 de setembro, em São Paulo. “Mas estamos vendo as primeiras empresas que estão dando certo em escala global.”

Apesar desse pouco tempo, algumas empresas conseguiram se destacar no cenário internacional, como foi o caso da Pismo. Fundada em 2016, a plataforma de serviços bancários e pagamentos em nuvem conseguiu ultrapassar as fronteiras brasileiras a partir de 2021, oferecendo suas soluções nos Estados Unidos, Europa e Ásia-Pacífico, para nomes como Citi e a Falabella, maior varejista chilena, além de brasileiros, como o Itaú.

Com capacidade de processar um volume de US$ 40 bilhões em transações anuais, tendo 80 milhões de contas e mais de 40 milhões de cartões emitidos, a fintech, além da Visa, já tinha atraído como investidores nomes como Softbank, Accel, Amazon e Redpoint.

Para Binatti, o exemplo da Pismo mostra que o País tem capacidade de ser um player relevante dentro do mercado global de tecnologia, desde que tenha diferenciais para oferecer. “A tecnologia que estamos exportando se tornou core para instituições de peso no mercado”, afirmou.

Antes de sair pelo mundo, a Pismo precisou se reinventar. Segundo Binatti, em um primeiro momento, os planos ainda eram acanhados, voltados para empresas menores. Com a ajuda dos primeiros investidores, a empresa decidiu partir para o mundo das enterprises, buscando atender grandes companhias. E foi aí que a Pismo começou a se diferenciar, abrindo portas para chegar em grandes nomes, como o Itaú.

O desafio agora, segundo Binatti, é fazer com que todos os escritórios estejam alinhados em termos de prática e cultura. “É complexo, porque tem time na Califórnia e em Londres, tem a questão do fuso horário, é difícil fazer a gestão quando se tem escritórios em vários lugares, como na Índia”, disse ela.

Vencida a barreira psicológica de que não se pode produzir tecnologia capaz de ter escala global, a expectativa é de que novas empresas brasileiras passem a considerar o mercado internacional como parte central de seus negócios, o que deve levar a aportes mais robustos e apostas maiores dos fundos de venture capital, segundo Vasconcellos.

“Venture capital é um jogo de pouco acerto e muitas tentativas, e a probabilidade de sucesso em escala global é pequena”, afirmou o managing partner do Atlantico. “Quando se começa a pensar no que precisa para isso acontecer, a gente precisa de mais tempo, porque o ecossistema atual ainda é muito recente.”