Foi em novembro do ano passado, em uma reunião com os líderes do site de notícias InfoMoney e os fundadores da consolidadora de carteira de investimentos Fliper, na qual desenhavam o futuro de cada operação, que Karel Luketic, sócio da XP Inc., jogou uma pergunta na mesa. Por que não juntar as duas empresas?
A indagação acabou virando um projeto que vinha sendo desenhado internamente, em extremo sigilo. Até ontem. Hoje, a companhia lança no mercado o IM+. “Estamos transformando a InfoMoney em muito mais do que só uma empresa de mídia e a Fliper em muito mais do que só uma ferramenta”, diz Luketic, que vai comandar o projeto, ao NeoFeed.
O IM+, que significa InfoMoney plus, é uma plataforma digital que vai mesclar conteúdo jornalístico, influenciadores digitais, educação, ferramentas de consolidação de carteira, análise de investimentos, dados fundamentalistas, entre outras funcionalidades que serão plugadas em etapas nos próximos meses.
“Vimos que era possível criar uma plataforma que ninguém tem em termos de abrangência de funcionalidades para, de fato, trazer ao investidor brasileiro um one stop shop ancorado em conteúdo e tecnologia”, diz Luketic. Em um primeiro momento, o IM+ estará em um app. Depois, terá um website.
O InfoMoney continuará operando como um site de mídia e a marca Fliper vai desaparecer. O IM+ pretende alcançar 2,5 milhões de usuários até o fim de 2022. Para isso, a empresa fará alguns movimentos. O primeiro é atualizar o app da Fliper para o IM+.
Com isso, os 500 mil usuários da consolidadora de carteira, que contam com um patrimônio de R$ 80 bilhões, virarão usuários do IM+ automaticamente. O segundo passo é “tombar” o app do Infomoney, que segundo Luketic, tem 400 mil usuários, para o IM+.
O grupo também deverá movimentar todo o seu ecossistema de marcas e influenciadores para trazer mais downloads. Só o InfoMoney, por exemplo, tem 10 milhões de usuários únicos e 18 milhões de sessões por mês.
Ao unir as duas empresas na criação do IM+, Luketic afirma que a companhia acaba criando uma empresa de conteúdo, mas muito focada em tecnologia. Dos 150 funcionários, metade é da área de tech. E o movimento é bem claro: se antecipar à avalanche que deve acontecer com o avanço do open banking.
“O conteúdo é o elo central dessa equação. Queremos que o usuário venha para dentro da nossa plataforma cada vez mais pelo conteúdo”, diz Luketic. Nesse início, o IM+ vai começar com o material do InfoMoney e de influenciadores da XP, como Pablo Spyer, conhecido como “Tourinho”, e Stock Pickers.
O IM+ pretende alcançar 2,5 milhões de usuários até o fim de 2022
O segundo pilar da estratégia é baseado na ferramenta da Fliper, que tem consolidação de carteira de investimentos e de cash flow, dados fundamentalistas e, nas próximas semanas, dados de mercado. O projeto é, de fato, ambicioso. Mas cabe uma pergunta: como monetizar se o acesso será gratuito?
Indagado se a intenção é fazer com que os usuários movimentem o dinheiro dentro da plataforma, Luketic afirma diz que “está estudando os melhores caminhos”. E prossegue. “Acreditamos que estrategicamente faz muito sentido que isso aconteça em um futuro não tão distante”, afirma.
Mas há outras avenidas de monetização que poderão ganhar espaço nesse primeiro momento. Entre elas, os infoprodutos baseados em cursos, relatórios e assinaturas. Produtos financeiros não são descartados e o IM+ também poderá trazer mais clientes, gerando mais aberturas de contas nas empresas do grupo.
Nos próximos meses, a companhia embarcará no aplicativo os materiais de suas casas de análise. A XP é acionista da Expert, da Levante, da Ohmresearch e da Riconnect. “E teremos outras no futuro”, afirma Luketic.
Os produtos de educação, como os cursos da XPeed e outros disponíveis no InfoMoney, também serão vendidos por lá. Por último, a empresa planeja criar uma ferramenta de inteligência artificial para a gestão das finanças. Seria uma gestão por objetivos.
O que é necessário, por exemplo, para pagar a faculdade do filho no futuro? Quanto precisa investir para atingir o seu primeiro R$ 1 milhão? A ideia é responder essas perguntas, automaticamente, com base no histórico do usuário.
Concorrentes bem estabelecidos
O IM+ bate de frente com plataformas que surgiram nos últimos anos, juntando milhões de usuários e conectando produtos e serviços num só ambiente – criando, de certa forma, marketplaces financeiros.
Entre eles, estão o TC (antigo TradersClub) e o Trademap. Os dois são os exemplos mais bem-sucedidos desse novo mercado que está surgindo ao redor dos investidores. O TC, que nasceu a partir de uma comunidade de investidores no WhatsApp, hoje conta com 502 mil usuários, dos quais 88 mil pagantes.
A empresa, fundada em 2017, abriu seu capital na bolsa, em julho, quando levantou R$ 607 milhões e, desde então, fez uma série de aquisições focadas em tecnologia e serviços financeiros. Avaliada em R$ 2,27 bilhões, a companhia comprou recentemente a Economatica, uma das principais empresas de dados do setor econômico por R$ 40 milhões.
Outro competidor que tem ganhado muita tração e que, por enquanto tem caminhado com dinheiro de investidores privados, como a consultoria Visagio e a gestora Dynamo, é o Trademap, da empresa de tecnologia Valemobi. São mais de 3,5 milhões de investidores cadastrados.
Com uma base de 85% dos CPFs cadastrados na B3, o Trademap tem uma ampla área de notícias, vende cursos e assinaturas, tem parceria com influenciadores, casas de análise, consolidadora de carteira, dispõe de um marketplace financeiro com várias corretoras plugadas e o usuário pode emitir uma ordem de compra na plataforma. A briga da XP Inc. para ganhar espaço nesse mercado, definitivamente, não será fácil.