Se a bolsa brasileira fosse um aluno, ela passaria raspando de ano no quesito de atratividade aos investidores, com a falta de uma resolução para os problemas fiscais pesando significativamente no humor dos alocadores e, por consequência, no desempenho da renda variável.

Essa é a conclusão de um levantamento feito pelo Itaú BBA com 139 gestores locais e estrangeiros, obtido com exclusividade pelo NeoFeed, que revelou ainda a predileção por nomes do setor de utilities e os grandes bancos.

Segundo o estudo feito pela equipe de estratégia de equities entre os dias 17 e 25 de outubro, numa escala de zero a dez, em que zero indica um sentimento bearish (pessimista) e dez, bullish (otimista), o sentimento em relação à bolsa brasileira recebeu uma nota média de 5,83.

A nota veio piorando ao longo do ano, em meio à deterioração do cenário, com o fiscal e os juros nos Estados Unidos azedando o humor. No primeiro levantamento, relativo a janeiro e fevereiro, a nota média para a Bolsa foi de 7,24. Depois, caiu para 6,54 na pesquisa relativa a abril e maio, chegando a 6,31 em julho e agosto.

As notas corroboram o desânimo apontado por outros levantamentos com o Ibovespa, que acumula queda de 1,48% no ano. Em junho, um levantamento feito pelo Bank of America (BofA) apontou que o otimismo com o Ibovespa recuou ao menor patamar desde setembro de 2023.

E a expectativa é de que este mau humor não passe tão cedo, considerando a falta de clareza sobre se e como o governo vai colocar as contas em ordem e a dívida em trajetória descendente, abrindo caminho para a retomada dos cortes da Selic.

“Quase dois terços dos investidores escolheram as perspectivas fiscais como o principal ponto para o mercado de ações nos próximos seis meses, acima dos 56% em nossa pesquisa anterior, seguida pelas taxas de juros globais (55%), tema que registrou a maior queda em relação à edição anterior (55% agora, versus 79% naquela época)”, diz trecho do levantamento do Itaú BBA.

O que pode destravar o mercado é justamente a queda da Selic, se o fiscal permitir. Para 52% dos entrevistados, uma volta consistente de recursos para fundos de ações ocorreria se o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduzir a taxa básica de juros para 9% ao ano – atualmente, a taxa está em 10,75% ao ano e a previsão é de que suba nos próximos meses.

No entanto, levando em conta o momento atual, as esperanças com um rally de fim de ano são baixas, segundo o levantamento do Itaú BBA, com metade dos entrevistados esperando que o Ibovespa feche o ano entre 130 mil e 140 mil pontos – o índice fechou o pregão desta terça-feira, 29 de outubro, em 130.729 pontos, queda de 0,37%.

Enquanto não há visibilidade quanto ao que o futuro reserva, quase dois terços dos gestores pretendem, no mínimo, manter sua exposição ao mercado local nos próximos seis meses.

Dentre os setores que mais atraem os gestores neste cenário estão utilities e bancos, algo que foi visto nos últimos três levantamentos, com o primeiro grupo sendo o preferido por investidores locais e o segundo pelos estrangeiros. Na contramão ficaram os setores de siderurgia e mineração, seguido por educação e varejo.

Na parte de bancos, a principal escolha foi o Itaú, ainda que o sentimento em relação ao Bradesco tenha melhorado. Pelo lado das utilities, a Sabesp ficou com o primeiro lugar, seguido por Eletrobras e Equatorial.

“Em comparação com a pesquisa anterior, destacamos as respostas de overweight para grandes bancos, que oscilaram entre 40% e 45% nas pesquisas anteriores, e agora estão em 56%”, diz trecho do estudo.