A emissão de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) está prestes a alcançar R$ 1 bilhão dentro da corretora catarinense EQI Investimentos. Com esse volume, a empresa decidiu criar uma nova vertical de negócios. Até o início de 2026, a EQI pretende estabelecer uma originadora de crédito, permitindo que ofereça financiamento a clientes, sejam eles pessoas físicas ou jurídicas.
“Quero aprender bem a originar crédito para clientes e para os meus FIDCs. Agora nos tornamos os gestores principais dessas emissões e queremos avançar nesse trabalho”, afirma Juliano Custódio, fundador e CEO da EQI, em entrevista ao NeoFeed. “Sabemos vender e escalar muito bem. O que precisamos é estruturar esse sistema para ampliar nossa oferta financeira. Quero, cada vez mais, verticalizar os nossos negócios. Vamos deixar de ser apenas vendedores.”
O caminho escolhido por Custódio será por meio de M&A, aproveitando a expertise de uma empresa já atuante no setor. Para isso, ele reservou R$ 50 milhões para a aquisição.
Com a originadora estruturada, o foco inicial será os empréstimos consignados, tanto do setor público quanto do privado. Na visão do CEO, a melhor estratégia é priorizar o crédito consignado federal, seguido pelos consignados de estados bons pagadores. “Vamos buscar adquirir uma empresa que já realize esse trabalho com servidores do governo federal”, explica.
Dependendo do cenário macroeconômico brasileiro, Custódio avalia a possibilidade de abrir uma financeira até o fim do próximo ano. Os próximos movimentos da EQI caminham na direção de transformar a empresa em uma instituição bancária em um prazo de até cinco anos.
“Para conseguir montar um banco, é necessário desenvolver uma grande esteira de crédito. Nossa visão é estar muito sólidos nesse momento”, destaca o CEO.
No volume de FIDCs, a EQI projeta alcançar a marca de R$ 1,4 bilhão em emissões até dezembro deste ano, representando um crescimento de quase 40% sobre o cenário atual.
As primeiras emissões foram realizadas em parceria com fintechs, ainda em cogestão com a Milenio Capital. Entre as empresas que contaram com a EQI na gestão de FIDCs estão Kovi, Turbi, TerraMagna e RecargaPay.
Do total emitido até agora, a EQI atuou como gestora líder em R$ 300 milhões, enquanto os R$ 700 milhões restantes foram geridos em parceria com outros gestores. “Vamos crescer, mas precisamos considerar o cenário econômico e as iniciativas do governo federal em adotar políticas com mais austeridade”, pondera Custódio.
Essa mesma estratégia de diversificação será aplicada aos consórcios. No momento, o serviço é oferecido por meio de parcerias, mas a ideia é adquirir uma empresa pequena já atuante no setor e deixar de vender produtos de terceiros para se tornar a administradora dos próprios pacotes.
“Tanto no caso da originadora quanto da administradora, queremos usar a expertise de quem já trabalha nesse mercado para consolidar nossa atuação. Mas, primeiro, vamos adquirir uma originadora de crédito e, posteriormente, avançar para a administradora”, explica Custódio.
Expansão europeia
Com R$ 42 bilhões sob custódia, o CEO da EQI projeta que a empresa encerrará este ano com cerca de R$ 52 bilhões, acima do guidance de R$ 50 bilhões para 2025.
Em março, a empresa completou um ano de operação financeira nos Estados Unidos, com a implementação de um escritório em Miami. No exterior, alcançou um volume de R$ 2,2 bilhões sob custódia.
O próximo passo é atravessar o Oceano Atlântico e estabelecer presença no continente europeu em, no máximo, dois anos. O destino provável é Portugal. “Há muitos brasileiros morando lá, o que garante facilidade de comunicação. Do ponto de vista tributário, o mercado português é atrativo. É um bom lugar para iniciar nossa atuação na Europa”, destaca.
No volume geral, a EQI registrou crescimento de 32% em 2024. No entanto, para Custódio, o cenário poderia ter sido ainda melhor, não fossem as turbulências políticas e econômicas. “Estamos em uma indústria acostumada a crescer mais. Mas não esperávamos que a taxa de juros subisse tanto”, observa. Para este ano, a previsão é de crescimento de 35%.
Com o plano de expansão em andamento, Custódio entende que será necessário ampliar, em curto prazo, o número de assessores financeiros para sustentar esse novo volume e a diversificação de produtos financeiros.
Com 600 agentes (de um total de 1.180 funcionários), a companhia pretende contratar mais 500 profissionais, a maioria deles por meio do programa de formação da empresa.
“Durante seis a nove meses, eles realizam um trabalho pré-operacional de retenção de clientes. Ensino a eles como se comunicar e compreender os produtos de investimento. Enquanto isso, realizam funções de assistência”, explica Custódio. Atualmente, 95% dos contratados vieram desse modelo.
A maior parte desses novos profissionais ficará em Balneário Camboriú (onde a EQI foi fundada) e Florianópolis, de onde a empresa realiza o atendimento para cidades onde não possui unidade física.
Com 14 escritórios próprios no Brasil e 42 unidades B2B operando em parceria, a EQI planeja abrir novas sedes em Recife, Salvador e Sinop, no Mato Grosso.