O processo de fusão entre Arezzo &Co e o Grupo Soma mal começou e já provocou sua primeira grande transformação, com o anúncio na quinta-feira, 29 de agosto, da saída dos fundadores da marca de roupas Reserva da companhia.

Segundo o comunicado da Azzas 2154, Rony Meisler, Fernando Sigal, Jayme Nigri Moszkowicz e José Alberto da Silva deixarão suas posições executivas na AR&Co, unidade de vestuário masculino lifestyle da Arezzo, em dezembro, com o término de seus respectivos contratos de trabalho celebrados em 2020, quando a Reserva foi adquirida, por R$ 715 milhões.

A compra da Reserva, conhecida pela marca do pica-pau, foi um movimento estratégico da Arezzo, de Alexandre Birman, para entrar no mercado de roupas, especialmente masculina, e para se tornar uma house of brands do mundo da moda. Até então, o portfólio da companhia era concentrado em sapatos e acessórios.

Um investidor da companhia disse ao NeoFeed que havia um desgaste na relação entre Meisler e Birman. Essa mesma fonte também diz que Meisler teria pedido uma remuneração alta para continuar na operação e que Birman não teria topado.

Inesperado, o movimento traz dúvidas sobre essa frente de negócios, diante dos efeitos que a saída dos fundadores e executivos, vistos como a “alma do negócio”, pode ter na AR&Co, que abriga as marcas criadas pela Reserva – Reserva, Reserva Mini, Oficina, Reserva Ink, Reserva Go, Reversa, Simples – além da Baw e da Foxton.

No comunicado, a Azzas 2154 aponta que o movimento não implicará em alterações na essência das marcas, afirmando que a AR&Co possui “equipe longeva formada por grandes talentos que sustentam a identidade das marcas e continuarão na companhia” e que os fundadores da Reserva vão apoiar a transição.

Para o lugar de Meisler, que esteve à frente dessa unidade, a Azzas 2154 escolheu Ruy Kameyama, atual conselheiro da companhia e ex-CEO da BRMalls, que se fundiu com a Aliansce Sonae no ano passado para formar a Allos, com a missão de manter o crescimento da unidade.

“Junto com o atual time da AR&Co, Ruy terá como objetivo manter o forte histórico de crescimento e desenvolvimento de marcas da AR&Co, além de participar ativamente na integração com o Azzas 2154, inclusive no início do projeto de produção de algumas linhas da AR&Co na planta da Hering”, diz trecho do comunicado assinado pelo CFO, Rafael Sachete.

Apesar de ser um executivo tarimbado, Kameyama tem um histórico em operação de shopping e não em marcas de moda. "Óbvio que ninguém é insubstituível, mas a saída do Rony e os sócios nesse momento da companhia, que deveria ser de união, não é nada bom", diz um gestor que conhece a operação e saiu do papel recentemente. "A operação é muito complexa e o Birman está concentrando atenção em fazer um turnaround na Hering", afirma.

Segundo a companhia, entre 2019 e junho de 2024 (últimos doze meses) a AR&Co atingiu um crescimento de 297% na receita, saindo de aproximadamente R$ 400 milhões para R$ 1,6 bilhão de faturamento. No segundo trimestre, somente a Arezzo &Co registrou uma receita líquida de R$ 1,3 bilhão, alta de 9% em base anual.

Anunciada em janeiro, a fusão da Arezzo &Co com o Grupo Soma, revelada com exclusividade pelo NeoFeed, criou um gigante com faturamento de mais de R$ 12 bilhões. As duas empresas, somadas, têm 34 marcas, mais de 500 lojas, 1,5 mil franquias e mais de 21 mil funcionários.

A integração, porém, vem apresentando sinais de fricção. O NeoFeed apurou que Paulo Kruglensky, contratado para tocar a integração, estava deixando a companhia, mas depois informou que ficaria. A decisão de sair estava tomada e foi revertida após a publicação da reportagem. Até agora, a Azzas não disse o que Kruglensky fará.

Um investidor que esteve no Investor Day da companhia, em Blumenau, no início do mês, disse que "achou muito estranho nem Rony e nem o Paulo (Kruglensky), figuras importantes da operação, não estarem lá". E acrescenta. "Foi um sinal muito ruim", diz o gestor que preferiu não se identificar.

As ações da Azzas 2154 fecharam o pregão de quarta-feira, 28 de agosto, com queda de 1,56%, a R$ 52,96. Desde que os papéis estrearam na Bolsa, em 1º de agosto, eles acumulam alta de 5,1%, com valor de mercado de R$ 5,88 bilhões.