Alexandre Birman, CEO da Arezzo&Co, o maior grupo de moda da América Latina, “mudou de liga”. Quem diz é o próprio. Nesta semana, depois de ser agraciado com a premiação de Person of the Year, ele se viu no meio do PIB brasileiro e percebeu uma transformação. “Não é um prêmio de chegada, é um ponto de partida”, diz Birman ao NeoFeed.
“A partir de agora, é game on. O Alexandre Birman foi lançado ao mundo. Por mais que tivéssemos feito o IPO há 13 anos, agora realmente é para o meio empresarial de altíssimo nível”, afirma Birman.
Ele cita o almoço restrito que teve com André Esteves (chairman do banco BTG Pactual), a equipe da instituição financeira e os empresários que fazem o PIB do Brasil, no qual foi chamado para dar sua visão de Brasil, macroeconomia, Banco Central, entre outros temas.
“Não imaginava que seria chamado, um almoço com os caras que fazem o PIB do Brasil e eu era o mais novo disparado da mesa. Eu era da geração dos filhos”, afirma ele. “Para mim, é mudar de liga.” Nesse novo ponto de partida depois do Person of the Year, Birman diz que terá uma nova forma de atuação, "muito mais estratégica, muito mais pela influência do que pela execução".
Aliás, na semana de eventos dos bancos em Nova York, a chamada Brazil Week, Birman soube exercer o papel de influência. Na segunda-feira, 13 de maio, iniciou seu périplo na Nyse que se estendeu para jantares como o do Esfera Brasil e conferências nas quais aglutinou o PIB ao seu redor com um tema fundamental: a tragédia que assola o Rio Grande do Sul e sua reconstrução.
Agradeceu seu assessor de comunicação Alexandre Loures por ter “alertado sobre a gravidade das enchentes logo no início da crise”; mencionou Duda Melzer, da EB Capital, que o aconselhou antes de sua ida a Nova York para aproveitar o palco e falar do Rio Grande do Sul; e citou Pedro Bartelle, da Vulcabrás, pelas iniciativas que estão desenhando junto da Abicalçados.
O empresário, que se diz um “mineirucho”, um mineiro que tem profundas raízes de um gaúcho, com a sua base na cidade de Campo Bom (RS), conseguiu arrecadar R$ 10 milhões com a sua iniciativa. Mas sabe que precisará de mais, muito mais para reconstruir as moradias dos trabalhadores da cadeia calçadista.
Na entrevista que segue, Birman fala sobre sua conquista; os desafios que virão pela frente; de seu pai, Anderson Birman; das conversas com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite; e da união da família na companhia. Acompanhe os principais trechos:
O que a premiação representou para você?
Não vou ser hipócrita em dizer que eu não tenho um sentimento de uma conquista. É inegável, né? Entretanto, junto com essa conquista, vem compromisso, então aumenta o meu compromisso e aumenta minha exposição. Todos os presidentes de banco estavam lá. Praticamente todos estavam lá. Bota todos os nomes aí. Vou citar só os mais próximos. O Milton (Milton Maluhy Filho, do Itaú), o Mário (Mário Leão, do Santander), o André (André Esteves, do BTG Pactual), o Trabuco (Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do conselho do Bradesco), o Zé Olympio (José Olympio, do J.Safra), o Bettamio (Alexandre Bettamio, do BofA), o Bassan (Daniel Bassan, próximo presidente do UBS). Fora os empresários que você vê só nos jornais como o Ometto (Rubens Ometto, da Cosan), o Molina (Marcos Molina, da Marfrig)... É gente de todos os setores. É um compromisso também com a minha família. Meus irmãos, que é um legado do meu pai, e minhas filhas verem o Alexandre Birman, com tanto reconhecimento e exposição, vão me cobrar mais.
Você acha que vai ser mais cobrado pelos funcionários também?
Por todo mundo. E não foi novidade para mim, entendeu? Eu confesso que eu não sabia exatamente do mailing list, de quem estaria presente, mas eu sabia que ia ser algo com muita exposição. E eu acho que isso faz parte de quem está no jogo. Você não pode se furtar, né? Quem está liderando um setor, que vai além de liderar uma empresa, obviamente tem de estar disposto a ter o reconhecimento, que é muito bacana. Então, não é um ponto de chegada. Isso aqui vai ser o ponto de partida.
O que isso quer dizer?
A partir de agora, é game on. O Alexandre Birman foi lançado ao mundo. Por mais que tivéssemos feito o IPO há 13 anos, agora realmente é para o meio empresarial de altíssimo nível. A conversa que eu tive no almoço restrito que o André Esteves fez nesta semana é de gente muito grande. Não imaginava que eu ia ser chamado a colocar minha visão sobre a macroeconomia brasileira do lado do Mansueto e expor como estou vendo 2024 e qual é a minha percepção em relação aos atos do governo, aos atos do Banco Central... Participar de um fórum desse nível, com os caras que realmente fazem o PIB do Brasil, é um motivo de estar mais comprometido.
"A partir de agora, é game on. O Alexandre Birman foi lançado ao mundo. Por mais que tivéssemos feito o IPO há 13 anos, agora realmente é para o meio empresarial de altíssimo nível"
Foi um game changer?
Foi mudar de liga.
Agora, sobre a Arezzo&Co, como está sendo a integração com o grupo Soma?
É uma nova forma de atuação. É uma atuação muito mais estratégica, muito mais pela influência do que pela execução. Então, da mesma forma que eu tive uma troca de liga, a Luciana (Luciana Wodzik, CEO da vertical Calçados e Acessórios) teve no Pulsar (evento do grupo que lança novas coleções e reúne lojistas de todo o Brasil). Meu pai sempre falou que ‘para você suceder, você tem que ter sucessor’. Você não imagina o que foi o desafio, nesta semana, de colocar as amostras em São Paulo. Estamos falando de mais de 5.000 SKUs de toda as marcas. Eu gostaria muito de agradecer a todos os colaboradores que não mediram esforços, mesmo perante a todos os desafios das enchentes, para entregar. Eu tive essa mudança de liga e a Luciana teve esse desafio enorme.
Isso te traz mais tranquilidade?
Exatamente. A Luciana fincou a bandeira dela como uma líder 360, com a liderança dela, coisa que eu fazia e todo mundo sabe que eu sou super hands on. Em um evento dessa magnitude, eu teria ido lá, teria acompanhado a montagem, aprovado o cenário, a edição da coleção, a precificação de cada produto. Mas é lógico que, se eu estou podendo fazer mais com a cabeça do que com as pernas e com o braço, eu gero mais valor. Então, é uma nova empresa e um novo volume.
Você fala muito sempre de seu pai e sua família. Faz um ano que o seu pai doou as ações dele para os filhos. O que isso significou?
Foi muito marcante para mim ter aqui minhas filhas me entregando a premiação, poder dar isso para o meu pai. Todos os filhos dele ali. Faz exatamente um ano que o meu pai doou as ações para os filhos, no dia 11 de maio de 2023. Agora, eu e meus irmãos estamos aqui solidificando essa nossa sociedade familiar, que, em tantas famílias, dá um problemão uma sucessão dessa.
Em todos os seus discursos, em Nova York, você citou a sensação de ambiguidade. De um lado a felicidade da conquista e, de outro, a tristeza com o que acontece com o Rio Grande do Sul...
Na segunda-feira (13 de maio), recebi uma mensagem de um amigo e deu o tom do que eu penso. Não falava com ele desde abril. Do nada, ele me manda. Vou ler para você (Alexandre pega o celular para ler): ‘Meu hermano, pensa pelo lado bom. Justo você, que tem uma ligação empresarial gigantesca com o Rio Grande do Sul, será homenageado no Person of the Year. Deus escreve certo por linhas tortas, porque ninguém melhor do que você para trazer a real gravidade e o que o Estado precisa. E essa semana o palanque é todo seu para passar isso. Deus está te usando como veículo. Acordei com isso na cabeça e decidi te mandar. Abraço, hermano’. Quando ele mandou isso, só concretizou o que tinha sentido na semana anterior.
"As pessoas falam enchente, mas é muito mais do que uma enchente, é uma transformação ecológica. É a criação de um lago de dimensões de uma cidade em cima de uma cidade da noite para o dia"
Você esteve lá no Rio Grande do Sul?
Estive lá, sobrevoei a região toda. Devastador. Só quem vai lá para entender. A gente tem que fazer um entendimento geográfico. A grande Porto Alegre é a mais afetada. As pessoas falam enchente, mas é muito mais do que uma enchente, é uma transformação ecológica. É a criação de um lago de dimensões de uma cidade em cima de uma cidade da noite para o dia. E isso quer dizer que vai demorar.
E quais foram as suas ações?
Sou sempre muito do copo meio cheio, sabe? Sempre crio muito rápido um plano B, C e D. Pratico o triathlon, já fiz 25 provas em 12 anos, e ele é feito para dar problema. É muita variável para administrar, tem que ter uma concentração absurda. Você tem que nadar, tirar a roupa, botar a sapatilha, botar o capacete, botar os óculos, fazer a nutrição e andar 180 km ou 90 km numa estrada esburacada. Então, ao longo dos anos, meu cérebro foi sendo automatizado para, na hora do problema, já pensar na solução, entendeu? Então, rapidamente vou trocando as engrenagens cerebrais para focar a solução. Primeiro, eu tinha que saber qual era o problema e eu não estava aguentando mais as notícias que eu recebia.
Como foi?
Consegui uma logística para ir para o Estado. Fiquei até muito tarde conversando com muitas pessoas, com o governador, e entendi o problema. Há centenas de milhares de pessoas que estão sem casa. É uma cidade que está inteira debaixo d'água e para ser reconstruída vai demorar muito tempo. Então, eu falei, ‘olha, não dá pra cancelar tudo (a premiação em Nova York), a gente tem que transformar como palco, levar atenção’. Conversei com o Eduardo Leite e ele apoiou, conversei com o Duda Melzer e ele também disse que tinha de fazer isso. O balanço é que foi positivo, mas tem que manter essa atenção. A solução do problema é de longo prazo.
Qual é o balanço que você faz dessa sua atuação em Nova York, em termos financeiros?
Eu cheguei exatamente na meta que tinha colocado. Mas isso é para focar na reconstrução dos lares dos operários das indústrias de calçados.