O CEO da SPX Capital, Rogério Xavier, fez um alerta bastante duro a respeito da situação fiscal brasileira. Para ele, se não for feito um ajuste de fato nas contas públicas, o País pode acabar revivendo o que ocorreu na década de 1980, quando a inflação bateu patamar recorde e a economia estagnou, levando a uma década perdida.

“O Brasil é um país que está com uma dívida em aceleração forte e que precisa conter gastos para que a dívida não exploda de vez”, disse ele durante participação no Macro Vision, evento do Itaú BBA, em São Paulo, na segunda-feira, 14 de outubro. “Se explodir, vamos ver o que se viu na década de 1980.”

Não apenas a dívida sairá de controle. Segundo o sócio-fundador e principal executivo da SPX, que conta com cerca de R$ 60 bilhões em ativos sob gestão, a falta de equilíbrio das contas públicas também está empurrando para cima o câmbio.

E o cenário internacional não vai ajudar. Xavier afirmou que a China, principal parceiro comercial do Brasil, está enfrentando seus próprios problemas econômicos e não se sabe o que vai sair da eleição dos Estados Unidos, com o programa do ex-presidente Donald Trump, de aplicação de tarifas, tendo bastante peso sobre a moeda americana. “Estou com uma visão bem negativa do real”, disse.

O possível aumento da inflação também foi destacado por Xavier, que afirmou que a alta dos preços é a “coitada consequência do desatino fiscal”.

Uma das principais questões são as chamadas contas parafiscais. Segundo Xavier, quase R$ 100 bilhões estão fora da conta do primário e são esses recursos que estão impulsionando a economia, apesar dos juros elevados.

Entre esses gastos estão o programa Pé de Meia, programa do governo federal que repassa R$ 200 por mês a estudantes de baixa renda durante o ensino médio, para incentivar a permanência deles e a conclusão dos estudos.

Sem entrar nos méritos do programa, Xavier destacou que o programa tem sido feito através de fundos da Caixa, sem passar pela contabilidade do primário, sendo considerado uma despesa financeira em vez de gasto.

Esse e outros programas estão burlando o resultado fiscal, que fica com uma figura melhor do que de fato está, jogando por terra o discurso da equipe econômica de controle dos gastos.

“A gente fica se preocupando com superávit, arcabouço, mas tem um parafiscal de R$ 100 bilhões, por isso a economia cresce mais que espera”, disse. “Uma coisa é o discurso oficial, outra é a realidade que vemos nos dados, isso quando dá para ver nos dados.”

Xavier foi bastante duro com a equipe econômica, dizendo que há muito mais discurso sobre controle das contas públicas do que medidas concretas e efetivas, ainda que tenha ressaltado que o controle fiscal não é prioridade dos políticos de maneira geral.

“O ministro [Fernando Haddad] esteve aqui hoje de manhã [no Macro Vision]. Qual medida que o ministro encaminhou para lidar com o fiscal? Só temos intenções, porque de concreto não saiu nada”, afirmou.

Diante deste cenário, ainda que não quis passar a impressão de que está short em relação ao País, Xavier não conseguiu terminar a sua participação no Macro Vision num tom otimista. Quando questionado sobre oportunidades de investimentos, ele disse que é preciso acompanhar o desenvolvimento fiscal do Brasil e ficar atento com as variáveis nominais.

“Às vezes o pior acontecem e precisamos estar preparados para isso”, afirmou Xavier.