A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), divulgada na manhã de terça-feira, 27 de junho, deixou aberta a possibilidade de redução da taxa básica de juros, a Selic, no próximo encontro em agosto. Essa sinalização, divulgada pouco tempo antes do início da Febraban Tech 2023, repercutiu bem entre os presidentes dos principais bancos brasileiros.
No painel de abertura, Milton Maluhy Filho, presidente do Itaú Unibanco; Octavio de Lazari Júnior, diretor-presidente do Bradesco; Tarciana Medeiros, presidente do Banco do Brasil; Maria Rita Serrano, presidente da Caixa; Roberto Sallouti, CEO do BTG Pactual; e Mario Leão, CEO do Santander Brasil, que participou via videoconferência, da Espanha, defenderam que o governo precisa continuar avançando nas reformas e no controle dos gastos públicos para que o custo do crédito possa cair.
Os executivos do setor bancário destacaram que o País está em um bom momento para tomar as medidas corretas na melhoria das condições de crédito. Além da aprovação do arcabouço fiscal, eles destacaram a importância de avançar com a reforma tributária.
“A reforma tributária está no forno e temos a melhor oportunidade dos últimos 20, 30 anos de aprovar uma mudança que ajuste o custo do crédito para as empresas e pessoas, além de gerir o lado fiscal e tributário”, disse Lazari Júnior, do Bradesco.
Segundo ele, o avanço da reforma tributária também é fundamental para colocar o Brasil na rota de investimentos internacionais, num momento em que os investidores buscam alternativas de alocação, considerando que algumas das principais economias avançadas estão em recessão.
Para que de fato tenha os efeitos desejados, Maluhy Filho, do Itaú Unibanco, afirmou que a reforma tributária precisa ter uma “visão coletiva” da situação tributária do País. “É preciso olhar para além dos interesses sociais”, disse.
A maioria dos participantes destacou a questão da estabilidade e previsibilidade fiscal como aspectos para deixar o BC confortável para reduzir os juros, evitando críticas a atual atuação da autoridade monetária, que vem sendo cobrada para já iniciar a redução da Selic.
“A ata [do Copom] deixou claro que, se mantido o arcabouço fiscal, a meta de inflação continuando a convergir, tem tudo para ter um movimento de queda de juros”, disse Sallouti, do BTG, após o painel de abertura.
Quem também foi pela linha de defender reformas para abrir caminho para a queda dos juros foi o presidente da Febraban, Isaac Sidney. Segundo ele, os juros altos são consequências de problemas na economia e que o País precisa criar as condições para começar a reduzir a Selic e criar uma “estrutura econômica” para deixá-los em patamares baixos por mais tempo.
“O Brasil precisa voltar a ter uma trajetória de sustentabilidade de sua dívida, uma ferramenta importante para a política monetária”, afirmou. “A política monetária precisa estar harmonizada com a política fiscal.”
Já a presidente da Caixa fez uma defesa enfática da queda dos juros. A jornalistas após o painel de abertura, Serrano criticou a manutenção dos juros nos atuais patamares, afirmando que isso coloca o banco público em uma situação muito difícil.
Segundo ela, a maior carteira do banco é a do crédito habitacional, que depende de recursos da poupança. Os juros elevados drenaram R$ 70 bilhões em depósitos da caderneta, que perdeu a atratividade.
“Essa taxa de juros tem impacto direto no crédito, no financiamento”, afirmou Serrano. “O crédito ficou mais caro, vamos ter problemas com alguns fundings, como a habitação, e o País vai ficando impedido de voltar a crescer.”
Defesa da categoria
O painel de abertura da feira da Febraban também serviu de oportunidade para os presidentes dos bancos destacarem a importância das grandes instituições, abaladas pela concorrência aberta pela chegada dos bancos digitais e fintechs.
Sallouti afirmou que são eles o “óleo da engrenagem” do motor da economia, via concessão de crédito e possibilitando as transações para pequenas e grandes empresas, além da população. Serrano, por sua vez, citou o trabalho realizado pela Caixa na pandemia para viabilizar os pagamentos do auxílio emergencial e manter a concessão de crédito.
Para Sidney, da Febraban, diferentemente dos novos entrantes, os grandes bancos tem história e base, e estão investindo na modernização dos serviços e ferramentas para continuarem perenes e seguros para os clientes. “Podem nos provocar mas somos transformacionais e geracionais”, afirmou.