Após perder relevância por não conseguir acompanhar a evolução da indústria rumo aos chips de inteligência artificial, a Intel está ganhando um aliado de peso para entrar de vez nesse circuito e recuperar seu status no setor.
Seu novo reforço nessa trincheira é o Softbank está colocando a "Intel inside" de seu portfólio, com um investimento de US$ 2 bilhões na compra de aproximadamente 87 milhões de ações ordinárias da companhia americana, o equivalente a uma participação de cerca de 2% e torna o grupo japonês o sexto maior acionista da empresa.
“Esse investimento estratégico reflete nossa crença de que a fabricação e o fornecimento de semicondutores avançados se expandirão ainda mais nos Estados Unidos, com a Intel desempenhando um papel fundamental”, afirmou, em nota, Masayoshi Son, fundador e CEO do Softbank.
O grupo ressaltou ainda que o investimento se baseia em sua visão de longo prazo de possibilitar a “revolução da inteligência artificial”, acelerando o acesso a tecnologias avançadas que dão suporte à transformação digital, computação em nuvem e infraestrutura de última geração.
CEO da Intel, Lip-Bu Tan também destacou o compromisso compartilhado de promover a liderança tecnológica e industrial dos Estados Unidos e acrescentou: “Masa e eu trabalhamos juntos há décadas e agradeço a confiança que ele depositou na Intel com esse investimento.”
Com esse cheque, Son dá um passo adiante na aproximação com a Intel, algo que já vinha em curso há mais tempo, como parte de uma estratégia do Softbank para criar uma alternativa à Nvidia, companhia americana que tomou a dianteira no design de chips para a IA. E, na qual, o grupo também investe.
Segundo o jornal britânico Financial Times, o Softbank manteve conversas para uma parceria com a Intel em 2024. Son teria, inclusive, apresentado seus planos de produzir chips e software de IA para big techs como Meta e Google, cujos eventuais pedidos antecipados bancariam a associação entre a dupla.
Ao mesmo tempo, um acordo ajudaria a Intel a ganhar terreno na produção de semicondutores para inteligência artificial, um espaço hoje amplamente dominado, por meio da fabricação para terceiros, pela Taiwan Semiconductor Manufacturing Co. (TSMC).
Ao mesmo tempo, a parceria ajudaria posicionar o Softbank nessa onda. Mas, após meses de negociação, acabou não se concretizando. Muito em função da incapacidade da Intel - na época, bastante afetada por cortes de custos, demissões e resultados negativos - de atender a essa demanda.
As conversas foram retomadas, porém, em março deste ano, quando Tan, um veterano da indústria e ex-vice-presidente do conselho de administração da Intel, foi nomeado como CEO da companhia, o quarto em sete anos, em um sinal da longa crise vivida pela empresa.
Sob a ótica do Softbank, o aporte se conecta com outros recursos bilionários anunciados no front da IA. Entre eles, a rodada de US$ 40 bilhões liderada pelo grupo na OpenAI, nesse ano, e a compra da Ampere Computing, empresa americana de chips, por US$ 6,5 bilhões.
Em um terceiro movimento, o conglomerado de Son também anunciou uma joint venture com a OpenAI e a Oracle, batizada de Startgate, com a promessa de investir até US$ 500 bilhões em infraestrutura de inteligência artificial, em uma iniciativa costurada com Donald Trump, o presidente dos Estados Unidos.
Nessa direção, o investimento anunciado hoje também se alinha com o que parecem ser os planos de Trump para a Intel. Segundo a agência Bloomberg, o governo americano está negociando a compra de uma fatia de cerca de 10% na empresa, o que o tornaria o maior acionista da companhia.
Caso se concretize, a iniciativa tornaria o governo dos Estados Unidos o maior acionista da companhia. E, para viabilizar esse plano, o caminho seria converter parte ou todos os subsídios concedidos para a Intel dentro do US Chips and Science Act, também conhecido como a Lei de Chips, em capital próprio.
A partir da lei, criada em 2022, ainda no governo de Joe Biden, a Intel deve receber um volume total de US$ 10,9 bilhões em subvenções. Além de um montante adicional de até US$ 11 bilhões em empréstimos.
Com um total de US$ 39 bilhões reservados para a indústria, excluindo dessa conta os empréstimos e créditos fiscais, a Lei dos Chips tem US$ 39 bilhões reservados em subsídios para a indústria. E essa cifra também tem beneficiado empresas de fora dos EUA, como a própria TSMC e a Samsung.
Nesse contexto, ao converter esses recursos em uma fatia da Intel, o governo dos EUA injetaria um volume maior de recursos na operação e em um prazo menor. E fortaleceria uma empresa americana nessa disputa, com produção local, o que tem sido uma das bandeiras de Trump.
Antes, o governo de Joe Biden já havia colocado na mesa uma proposta para que companhias como a Nvidia e AMD produzissem seus chips com a Intel. Além de buscar uma fusão entre a empresa e a GlobalFoundries.
Já a relação da Intel com Trump teve um princípio de rusgas no início deste mês, quando o mandatário americano pediu a renúncia de Tan, citando seus laços com a China. Após uma visita do executivo, porém, o “conflito” foi, a princípio, solucionado.
Em meio a esses novos movimentos de resgate, a grande questão, porém, é se a Intel será capaz de consolidar uma recuperação. Desde que assumiu o comando da empresa, Tan tem concentrado boa parte dos seus esforços na redução de custos e do quadro da companhia.
Nos números mais recentes, relativos ao segundo trimestre, a Intel reportou um prejuízo líquido de US$ 2,9 bilhões, contra a perda de US$ 1,6 bilhão registrada em igual período um ano antes. A receita, por sua vez, ficou estacionada em US$ 12,9 bilhões.
Tan acendeu ainda mais esse alerta em julho, ao afirmar que a Intel só ampliará sua capacidade de produção em larga escala quando os clientes se comprometerem a usar suas técnicas de produção mais avançadas. O que foi visto como um sinal de que a companhia está desistindo dessa disputa.
A injeção de recurso do Softbank e o aceno do governo dos EUA, no entanto, parecem ter renovado a confiança na operação. As ações da Intel sobem mais de 5% no pre-market dessa terça-feira na Nasdaq.
No ano, os papéis têm alta de 18%, dando à empresa um valor de mercado de US$ 103,5 bilhões.