No fim de 2022, a Superlógica, de softwares de gestão (ERP) e ofertas financeiras para condomínios, administradoras e imobiliárias, antecipou ao NeoFeed que estava adicionando mais um tentáculo ao seu portfólio: o Gruvi, um superapp, com viés B2B2C, em parceria com a Cyrela e a Intelbras.

Seis meses depois, essa empreitada está ganhando um reforço na figura de uma velha conhecida da empresa. A Warburg Pincus anuncia nesta terça-feira, 6 de junho, um investimento de R$ 150 milhões na Superlógica.

Esse é o segundo aporte feito pela gestora americana de private equity na empresa. Em março de 2020, a Warburg já havia injetado R$ 300 milhões na companhia brasileira que, agora, está elegendo o Gruvi como principal destino desse novo cheque.

“Nós estimamos uma oportunidade de R$ 35 bilhões com o Gruvi”, diz Carlos Cêra, cofundador e CEO da Superlógica, ao NeoFeed. “Mas precisávamos ter um reforço de caixa para construir esse modelo com tranquilidade, sem ter que buscar lucratividade no aplicativo de forma prematura.”

Sócio da Warburg Pincus, Henrique Muramoto ressalta que a Superlógica se consolidou como um dos principais players de ERP para condomínios. O que abre uma boa perspectiva para que a companhia plugue outras ofertas, ampliando sua presença e a barreira de entrada nesse espaço.

“A Superlógica está muito bem posicionada para ser o superapp da vida do condomínio”, observa Muramoto. “Ainda não chegamos lá, mas a empresa pode alcançar múltiplas vezes o tamanho que tem hoje e com um custo de aquisição de clientes muito baixo.”

A Superlógica já tem, de fato, um bom universo para começar a escalar a nova plataforma. Sem que, para isso, tenha que desembolsar altas cifras. Hoje, com sua oferta tradicional, via administradoras, a companhia atende uma base de 100 mil condomínios, que somam 30 milhões de moradores.

Com o “colchão” do novo aporte, não há pressa, porém, nesse processo. Hoje, o app é usado por 12 mil condomínios e a meta é chegar a 35 mil até o fim de 2023. Quando essa marca superar 50 mil prédios – ainda não há um prazo para que isso aconteça - a plataforma será estendida para toda a base.

“Escolhemos, nesse momento, trabalhar com um grupo restrito de fornecedores”, afirma Cêra. “Agora, nossa maior preocupação é ter poucos serviços e oferecer uma boa experiência. E não monetizar a plataforma.”

Hoje, com sua oferta tradicional, a Superlógica atende uma base de 100 mil condomínios, que soma 30 milhões de moradores

Atualmente, o app já conta com opções de terceiros em áreas como portaria, especialmente no que diz respeito à segurança; empresas de energia solar; e seguradoras. Além, é claro, de ofertas das três parceiras responsáveis pelo projeto.

A ideia é que, gradativamente, o Gruvi abra espaço para diversos serviços, inclusive de rivais. Dividido em três categorias – Minha Casa, Vizinhança e Condomínio, ele trará desde opções para centralizar as contas de consumo do imóvel até comparativos dos gastos de energia com vizinhos.

Entre outros recursos, o pacote também irá incluir serviços de manutenção, gestão de locação, gestão de encomendas nas portarias, agendar o uso de espaços comuns e ferramentas para organizar desde assembleias virtuais até grupos por interesse, em uma espécie de “WhatsApp dos prédios”.

“Nosso conceito é como se fosse o iPhone, com uma loja na qual você pode customizar o seu aparelho, no caso, o condomínio”, explica Cêra. “Quem vai fazer essa customização são as administradoras. Elas vão ser as responsáveis por arquitetar essa experiência para cada condomínio.”

Ele não descarta buscar aquisições para encorpar essa oferta, em particular, em segmentos como soluções para portaria e outras ferramentas com maior nível de utilização no aplicativo. A empresa já tem um histórico de crescimento inorgânico. Desde 2020, foram seis acordos firmados.

A Superlógica não é o único player a recorrer a uma analogia com uma gigante de tecnologia para traduzir seu modelo de equipar prédios e condomínios com uma série de produtos e serviços. A Housi, por exemplo, tem buscado consolidar sua proposta batizada de “Windows do Real Estate”.

Até pouco tempo, esse conceito era focado em lançamentos. Agora, a Housi está estendendo esse leque para prédios em operação e, nesse percurso, um dos atalhos é uma parceria firmada com a Lello, gestora de condomínios que tem 3,5 mil prédios sob administração.

Novos produtos e fintech

No passo para ganhar musculatura para essa disputa, a Superlógica quer seguir fortalecendo, em paralelo, seu portfólio mais conhecido, responsável pelo crescimento de 50% na operação em 2022.

“Nossa receita está na casa de R$ 330 milhões e a projeção é crescer 40% nesse ano”, afirma Cêra. “Nos próximos três anos, boa parte do nosso resultado permanecerá vindo desse portfólio. Mas, daí para frente, o Gruvi será, com certeza, nossa maior fonte de crescimento.”

Enquanto isso não acontece, em seu negócio tradicional, a Superlógica vai lançar oficialmente duas soluções que, até então, tinham status de projetos-pilotos. Turbinadas com inteligência artificial, as ferramentas automatizam processos como contas a pagar e o atendimento a síndicos e condôminos.

Outra frente que não está diretamente ligada à nova rodada, mas que, como reflexo, terá mais fôlego é o braço de fintech. Com um volume total de pagamentos (TPV) de R$ 30 bilhões por ano, esse portfólio já inclui opções como conta digital para condomínios e administradoras.

Há também produtos como a Inadimplência Zero, em que o condomínio recebe, todos os meses, o valor integral das cotas condominiais, sem se preocupar com inadimplentes, além da concessão de créditos para a realização de obras. Essas ofertas são financiadas com recursos próprios.

“Já estamos reestruturando essa oferta e devemos tirar esse funding do nosso balanço nos próximos meses”, conta Cêra. “Como estamos no sistema de gestão desses clientes, temos dados para precificar esses produtos da melhor forma. Vemos uma oportunidade de R$ 5 bilhões apenas nessa esfera.”