O resultado da Gerdau no terceiro trimestre deste ano reflete diretamente a fotografia do momento econômico em relação ao tarifaço. Com operações nos Estados Unidos, o mercado americano já responde por 64,6% de participação no Ebitda ajustado da empresa.

“Essa medida tem impactado de forma bastante positiva nosso negócio. Foi um conjunto de demanda sólida dos segmentos onde a gente atua, aliado a uma operação de excelência das nossas unidades na América do Norte”, disse Gustavo Werneck, CEO da Gerdau, em resposta ao NeoFeed durante coletiva de imprensa na sexta-feira, 31 de outubro.

No período, a multinacional brasileira registrou receita líquida total de R$ 18 bilhões, alta de 3% sobre a mesma base de 2024. O Ebitda ajustado alcançou R$ 2,7 bilhões, 7% superior ao resultado alcançado no terceiro trimestre do ano passado.

Também há, na visão de Werneck, o impacto do efeito da Seção 232, mecanismo de defesa comercial implementada na primeira gestão de Donald Trump e que garantiu a redução da presença do aço importado no país.

“Agora, nesta administração, ele vem implementando medidas ainda mais robustas para impedir a entrada desleal de aço nos Estados Unidos”, afirma o CEO.

A participação do mercado dos Estados Unidos no resultado financeiro da companhia siderúrgica vem crescendo ao longo dos meses. No trimestre anterior, representava 61% do Ebitda total da empresa.

Na outra ponta, o Brasil vem perdendo sistematicamente share na receita da Gerdau. No terceiro trimestre, o país-sede da empresa responde por 27,1%, com R$ 763 milhões de Ebitda. No mesmo período do ano passado, o montante era quase o dobro, quando registrou R$ 1,59 bilhão.

Ainda que protegido a partir da presença industrial em solo americano, a Gerdau também pode ser beneficiada com um possível acordo entre Trump e o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva para, no mínimo, reduzir as tarifas de importação de 50% sobre os produtos brasileiros.

Os dois se encontraram pela primeira vez em 26 de setembro, durante a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) e fizeram uma reunião de trabalho no domingo, 26 de outubro. Ainda não há definição clara sobre os pontos de um possível acordo, mas há otimismo por parte do setor produtivo brasileiro.

Diretamente, a Gerdau não seria beneficiada, já que não exporta aço brasileiro para os Estados Unidos, onde produz localmente. O impacto seria em relação às empresas nacionais que foram afetadas pelo tarifaço e que perderam parte do mercado exportador.

“Vemos esse possível acordo de forma positiva. O efeito seria positivo para alguns clientes importantes nossos que produzem máquinas e equipamentos e exportam para o mercado americano. Então, há possibilidade de a gente ver mais aço para esses clientes”, afirma Werneck.

A empresa, no entanto, ainda não consegue traduzir em números qual seria esse benefício na receita da operação brasileira. Esse fechamento temporário de porta no mercado americano para setores produtivos brasileiros justifica em parte a queda de 2,6% na receita líquida no Brasil, passando de R$ 7,9 bilhões, no terceiro trimestre de 2024, para os atuais R$ 7,7 bilhões.

“Enfrentamos esse desafio adicional, que foi a redução dos pedidos destes clientes que exportam para lá”, diz Werneck. O setor de autopeças, por exemplo, onde a Gerdau tem forte presença, destina 20% aos Estados Unidos de tudo que é exportado pelas empresas nacionais.

De qualquer forma, o CEO avalia que ainda há mais demanda para uma janela de crescimento no mercado dos Estados Unidos, endereçado principalmente pelo segmento de data centers, muito em alta a partir dos investimentos anunciados pelas principais empresas de tecnologia.

“Para construir esses equipamentos, há a necessidade de muito aço. Só a quantidade de data centers que estão previstos para serem construídos nos Estados Unidos seria o suficiente para construir 800 estádios de futebol”, diz o CEO.

“Com o avanço da inteligência artificial, e dos incentivos que existem para a construção de parques solares, isso nos levar a acreditar na solidez do nosso negócio em 2026”, complementa.

Menos investimentos

Werneck também confirmou a prometida queda de investimentos, a partir do aumento significativo da presença de aço importado, principalmente chinês, no mercado nacional. A empresa anunciou um guidance de R$ 4,7 bilhões em capex, que representa uma queda de 22% sobre o volume investido em 2025.

Nos primeiros nove meses do ano, a presença do aço estrangeiro no Brasil alcançou patamar de 25% de penetração. A perspectiva é que chegue ao fim do ano com um índice perto de 30%, e um volume de 6 milhões de toneladas de aço.

“Não tem sentido para nós continuar com investimentos tão elevados como temos feito ao longo dos anos se a gente não encontrar um ambiente adequado de competição. A empresa só investe se tiver cliente, se tiver mercado para vender”, afirma ele.

Desde o início do ano, a Gerdau tem apontado para a necessidade de uma solução, por parte do governo federal, para garantir o espaço das companhias brasileiras frente a esta competição, segundo Werneck, desleal.

“Estamos confiante que, ao longo dos próximos meses, mecanismos mais robustos serão implementados para trazer esta competição para um patamar de isonomia, para que a gente não fique no prejuízo, como está acontecendo em muitas usinas da Gerdau no Brasil”, diz o CEO.

No acumulado de 2025, as ações da Gerdau na B3 registram valorização de 5%. A companhia está avaliada em R$ 35,9 bilhões.