O caminho percorrido pela Tesla nos últimos dias tem sido tortuoso, o que se refletiu numa derrapada das suas ações na Nasdaq. E um novo obstáculo pode tornar o roteiro da montadora comandada pelo bilionário Elon Musk ainda mais acidentado.

Órgão regulador de segurança automotiva dos Estados Unidos, a National Highway Traffic Safety Administration (NHTSA) divulgou nesta sexta-feira, 18 de outubro, a abertura de uma investigação sobre o Full Self-Driving (FSD), software de direção autônoma da empresa, após relatos de quatro colisões.

A investigação de caráter preliminar vai envolver inicialmente 2,4 milhões de veículos da Tesla, o que representa uma grande parcela dos carros elétricos da companhia que rodam nas ruas e rodovias americanas, segundo informações da agência Reuters.

Segundo a NHTSA, o processo foi motivado por relatos de quatro colisões, sendo um dos acidentes fatais. E, entre outras questões, vai avaliar a capacidade do sistema de direção autônoma de identificar e responder adequadamente a condições de visibilidade reduzida.

De acordo com especialistas consultados pela Reuters, a abordagem baseada unicamente em câmeras do software pode causar problemas em condições de baixa visibilidade, já que os veículos não têm um conjunto de sensores de backup.

“Esse pode ser um dos maiores obstáculos para o lançamento no curto prazo dessa tecnologia e desses produtos”, afirmou Jeff Schuster, vice-presidente da consultoria britânica GlobalData.

Em dezembro de 2023, a Tesla convocou um recall de mais de 2 milhões de carros nos Estados Unidos para instalar novas proteções em seu sistema de direção assistida, batizado de Autopilot. Já em abril, a NHTSA informou que estava investigando se o recall e os novos recursos eram adequados.

No mesmo mês, a Tesla foi a julgamento em um caso envolvendo um acidente que vitimou Walter Huang, em 2018, na Califórnia. O engenheiro morreu quando seu carro, um Model X, da montadora, colidiu com uma barreira na Highway 101, enquanto ele usava justamente o Autopilot.

No julgamento, a montadora e a família de Huang chegaram um acordo, cujos valores foram mantidos em segredo. O Autopilot segue, porém, na mira de investigações de outros órgãos, como o Departamento de Justiça americano.

Agora, a abertura da investigação da NHTSA surge exatamente sete dias depois de Musk apresentar os robôtáxis autônomos da marca, a mais nova aposta da companhia diante do crescimento da concorrência em carros elétricos e da queda na demanda dessa categoria.

Anunciado em abril e cercado de expectativas - bastante infladas pelo bilionário nesse intervalo -, o evento que marcou o lançamento do conceito e a apresentação de protótipos não entregou, porém, o que os investidores esperavam.

Em uma apresentação de menos de 30 minutos, Musk deu poucos detalhes sobre o projeto e não trouxe evidências do progresso da Tesla em recursos de direção autônoma, justamente uma das grandes questões do mercado para a categoria, dado o escrutínio crescente dos órgãos reguladores.

Musk também não quantificou quantos veículos planeja produzir sob esse conceito. Ele compartilhou apenas que a produção dos robotáxis pode ter início em 2026 e que os modelos podem custar menos de US$ 30 mil. Mas alertou que tende a ser “excessivamente otimista”.

O saldo da apresentação foi bastante negativo. As ações da Tesla encerraram o pregão da sexta-feira, 11 de outubro, o dia do evento, em queda de 8,78%, cotadas a US$ 217,80. No ano, os papéis acumulam uma desvalorização de 11,1%, dando à empresa um valor de mercado de R$ 705,6 bilhões.