Buscando recompor sua margem bruta e garantir rentabilidade, a MRV&CO manteve no terceiro trimestre a estratégia de aumentar os preços dos imóveis lançados, algo normalmente apreciado pelos investidores. 

Mas o resultados abaixo do esperado das vendas líquidas e a surpresa com a queima de caixa nas operações no Brasil e nos Estados Unidos no período ofuscaram a estratégia da incorporadora, fazendo as ações recuarem mais de 10% nesta segunda-feira, dia 17 de outubro, e perderem a recomendação de compra do Itaú BBA

Por volta das 13h33, as ações da MRV&Co caíam 11,89%, a R$ 9,26. No ano, elas acumulam queda de 21%, levando o valor de mercado a R$ 4,5 bilhões.

No terceiro trimestre, a MRV&Co apresentou uma queima de caixa de R$ 1,2 bilhão. O valor é elevado, considerando que no segundo trimestre houve geração de R$ 343 milhões e, no mesmo período de 2021, a geração de caixa atingiu R$ 10,3 milhões. 

O resultado foi provocado principalmente pela Resia, a operação nos Estados Unidos, que no terceiro trimestre consumiu R$ 969 milhões. No período, houve um descasamento temporal de caixa, diante da falta de venda de empreendimentos, enquanto a empresa seguiu comprando terrenos e construindo. 

“Isto resultou, como esperado, no consumo de caixa da Resia”, diz a MRV&Co, em comunicado. “No quarto trimestre, haverá a venda de um empreendimento, impactando positivamente na geração de caixa.”

Ainda que a Resia tenha sido o destaque negativo na questão do caixa, o analista Ygor Altero, da XP Investimentos, afirma que o problema não ficou restrito à operação americana. 

“As operações core da MRV, as operações no Brasil, continuaram com tendência de queima de caixa negativa, atingindo R$ 142 milhões, aumento de 30,4% em base anual e 121,1% na trimestral, negativamente impactadas pelo menor nível de repasses [crédito imobiliário], atingindo 7,1 mil unidades, recuo de 7,4% em base anual e 9,4% em relação ao segundo trimestre”, diz um trecho de relatório.

As vendas líquidas pesaram no resultado. Considerando todas as linhas de negócios, as vendas alcançaram R$ 1,4 bilhão no terceiro trimestre, uma queda de 27,3% em relação ao mesmo período de 2021 e de 44% ante o segundo trimestre deste ano. A velocidade de vendas também deteriorou, desacelerando em relação ao mesmo período do ano passado, de 14% para 12%. 

O resultado de vendas ficou abaixo do esperado por analistas que acompanham a empresa – o valor veio 7,4% menor que o projetado pela XP e 17% inferior à projeção do BTG Pactual – por conta da diminuição do volume de lançamentos e a falta de vendas da Resia. 

No caso dos lançamentos, a MRV&Co informou que eles seguiram a estratégia de priorizar a recomposição de margem bruta, com a rentabilidade sendo mais importante no momento que volume.

A empresa informou que a estratégia resultou em um aumento de 5,7% no preço médio de venda dos produtos da MRV e de 23,3% nos produtos da Sensia, marca de médio padrão. 

Apesar da explicação, o Itaú BBA decidiu rebaixar a recomendação para as ações da empresa de compra para neutro e o preço-alvo de R$ 15,00 para R$ 12,00. 

Para os analistas Daniel Gasparete, André Dibe e Alejandro Fuchs, as ações não apresentam potencial de alta sustentável no curto prazo, mesmo com o rally previsto para depois das eleições. Eles afirmam que os investidores devem aproveitar para capturar os ganhos obtidos desde julho, de alta de 30%, quando começaram a cobrir os papéis.

“Vemos agora a assimetria menos favorável para ação, considerando os riscos envolvidos nas operações de uso intensivo de capital nos Estados Unidos, que enfrenta um dos piores mercados imobiliários em 15 anos, e a recuperação abaixo do esperado das operações no Brasil, que pesam sobre o momento positivo do segmento de baixa renda”, diz trecho do relatório. 

Já os analistas Gustavo Cambauva, Elvis Credendio e Bruno Tomazetto, do BTG Pactual, mantiveram a recomendação para as ações em compra e o preço-alvo em R$ 23,00. Para eles, a Resia é um ponto de geração de valor que não está precificado nas ações e há boas perspectivas para programas de habitação do governo federal para baixa renda, com mais subsídios sendo disponibilizados.