Aos 44 anos, o economista Augusto Cruz Neto é um sujeito fascinado pelo comportamento humano. Foi o que o motivou, depois de três anos no mercado financeiro, a se aventurar no universo da publicidade. Ele começou como estagiário na Lew’lara e chegou a ter sua própria agência, a Mood, vendida, em 2014, para a TBWA, da gigante americana Omnicon.

Ligado em saúde e bem-estar, o economista foi estudar o mercado da prevenção e entender por que os brasileiros não consomem vitaminas e suplementos alimentares. Em 2021, nasceu a Vitamine-se.

No início, a marca era, predominantemente, um e-commerce de produtos personalizados. Agora, a Vitamine-se está desembarcando com tudo no mundo físico, por meio de uma uma parceria com o grupo raia drogasil (RD), a maior rede de farmácias do País.

“Esse é o grande momento da empresa”, afirma Cruz Neto, em entrevista ao NeoFeed. Com o acordo, a empresa chegará a mil lojas da RD, rede conhecida por abrir unidades exclusivamente em esquinas de ruas com grande fluxo de consumidores.

Até então, a Vitamine-se já tinha presença em 500 pontos de venda de redes de menor porte, como Drogaria Iguatemi, Bio Mundo, Tapajós e Cia da Saúde. No ano, a expectativa é adicionar mais 700 pontos a esse mapa de distribuição por meio de novas parcerias.

Tendência em praticamente em todos os setores da economia, a personalização é um forte diferencial da empresa de Cruz Neto. E essa vantagem não foi perdida no comércio físico. Os displays da Vitamine-se dispõem de um QR Code, por meio do qual o consumidor terá acesso a um questionário mais enxuto do que o oferecido no site.

Elaborado com a assessoria de nutrólogos e nutricionistas, no digital, o quiz tem 21 perguntas. A partir das respostas dos clientes, um sistema de inteligência artificial e ciência de dados fornece a eles uma espécie de receita adequada às necessidades de cada um. Cerca de 100 mil pessoas já participaram da enquete.

“O resultado que eu fiz em 2022 eu praticamente já atingi em 2023”, diz Cruz Neto, sobre a evolução da operação. Em 2022, a Vitamine-se faturou R$ 3 milhões e, para esse ano, a meta é chegar a R$ 20 milhões. Com 33 produtos no portfólio, a expectativa é a de que a companhia alcance o breakeven no último trimestre de 2023.

Em abril do ano passado, a empresa levantou R$ 8 milhões em uma rodada seed. O aporte contou com as participações do fundo Green Rock, focado em saúde; do Monte Bravo, o escritório de agentes autônomos da XP que vai se tornar corretora, como adiantou o NeoFeed; e de Luiz Fernando Figueiredo, fundador da Mauá Capital e ex-diretor do Banco Central, entre outros investidores.

Um mercado fortalecido

Cruz Neto está entrando em um setor de crescimento acelerado, sobretudo depois da pandemia do novo coronavírus. Globalmente, o consumo de vitaminas e suplementos alimentares está projetado para movimentar US$ 98,6 bilhões, em 2031, com uma taxa de crescimento anual composta de 7,6%, segundo a consultoria Allied Market Research.

No Brasil, o potencial é enorme. Nos estudos feitos para o lançamento da Vitamine-se, Cruz Net encontrou um levantamento da IQVIA, multinacional americana de pesquisa e informação em saúde, segundo o qual, 80 milhões de brasileiros estariam aptos a consumir suplementos dietéticos, mas apenas 20 milhões o faziam.

Cruz Neto quis entender o porquê. Descobriu que a maioria de nós ainda considera tais produtos remédios. Algumas pessoas, mais céticas, não acreditam nos benefícios da suplementação. Outros não usam com receio de engordar. E há ainda aqueles que dizem não ter dinheiro para adotar o hábito. Tem mais. Sete entre dez consumidores fazem suas compras em lojas físicas.

Com a Vitamine-se, o economista quer derrubar estigma de medicamento das vitaminas e suplementos dietéticos. Afinal, remédio é usado para combater doenças e sintomas. Cruz Neto quer levar o conceito da prevenção e bem-estar –ainda que os médicos e nutricionistas mais ortodoxos defendam o consumo apenas no caso comprovado de falta desses nutrientes.

“Queremos fazer a ruptura do setor”, diz o fundador. “Queremos mudar o pote dos produtos para deixá-los mais parecidos com embalagens de cosméticos e joias. Vamos deixar a marca sexy.” A estratégia, em sua opinião, é revigorar o ecossistema das vitaminas e suplementos alimentares frente o envelhecimento dos canais físicos e digitais.

De olho em um mercado avaliado em R$ 6,6 bilhões, segundo o Euromonitor, Cruz Neto não está sozinho. Com proposta semelhante de personalização, outro exemplo é a SetYou. Em junho do ano passado, a healthtech levantou R$ 3,5 milhões, com a DOMO Invest, IKJ Capital, The Next Company e Plataforma Capital, além de investidores anjo da Universidade de Chicago.