Depois da tempestade provocada pela pandemia de Covid-19 no setor aéreo e o malfadado acordo com a Boeing, a Embraer tem pela frente um céu azul para alçar voos altos em 2023 e adiante. Mas para a XP Investimentos, as boas perspectivas não estão sendo precificadas pelos investidores.

Na revisão da tese de investimento para a empresa, os analistas Lucas Laghi, Pedro Bruno e Matheus Sant’anna acreditam que o mercado não está considerando adequadamente as expectativas de recuperação da divisão comercial, deprimindo o múltiplo EV/Ebitda da empresa como um todo.

A projeção de Ebitda para este ano está 6% acima do consenso do mercado. No entanto, para a XP, os níveis atuais de valuation desconsideram o potencial de crescimento da empresa.

“Nossa análise de correlação dos múltiplos EV/Ebitda com o crescimento embutido nessas estimativas de Ebitda implica um múltiplo EV/Ebitda alvo consolidado de 6,9 vezes, acima dos múltiplos atuais de 6,3 vezes, o que implica que as perspectivas de crescimento não estejam adequadamente refletidas nos múltiplos atuais”, diz trecho do relatório.

Vendo que o cenário é mais positivo do que a maioria pensa, e também levando em conta as “opcionalidades” que a companhia possui, como o avanço da Eve e as perspectivas de ganhos com a arbitragem contra a Boeing, os analistas da XP reiteraram a recomendação de compra para as ações da Embraer.

O preço-alvo passou de R$ 27,50 para R$ 22,50. No valor antigo estava incluída a Eve, hoje considerada como opcionalidade da tese. Se as opcionalidades forem incluídas, o preço-alvo alcança R$ 32.

“Esperamos que 2023 continue refletindo uma melhoria operacional à medida que as entregas forem retomadas e a lucratividade aumente, com espaço limitado para um não atingimento do guidance este ano”, diz trecho do relatório.

Os analistas da XP avaliam que o ano para a divisão comercial, responsável por cerca de 38% do valor da Embraer, pode ser positivo diante da demanda apresentada pelas companhias aéreas e a redução dos problemas na cadeia de fornecimento de peças e equipamentos.

Em meio à retomada das viagens, o setor aéreo também apresenta uma necessidade de renovar a frota, incluindo aviões para voos regionais. A própria Embraer estima uma demanda média de 72 a 73 novos aviões de voos regionais por ano até 2028, abrindo espaço para avançar as vendas.

A XP projeta que a Embraer deve fechar 2023 entregando um total de 68 aviões comerciais, acima dos 57 de 2022. Considerando as aeronaves executivas, a estimativa alcança 178 aviões.

A Eve decola?

O relatório da XP trouxe ainda uma análise sobre dois pontos que podem ter efeitos positivos para as ações da Embraer. Lançada em 2020, a Eve está bem posicionada no mercado de veículos elétricos de pouso e decolagem vertical (eVTOL), podendo representar um impulso de R$ 7,70 por ação.

A arbitragem movida pela Embraer contra a Boeing pela rescisão do acordo para a compra da divisão comercial é outro tema que pode resultar em ganhos para a ação. A XP calcula um extra de R$ 1,80 por ação, caso a companhia seja bem sucedida em seu pleito.

Por volta das 12h45, as ações da Embraer subiam 1,87%, a R$ 16,38. Com queda acumulada de 7,66% em 12 meses, a companhia registra valor de mercado de R$ 12,1 bilhões.