A XP Inc. conseguiu driblar o cenário adverso do mercado de capitais e da economia e fechar 2024 com resultados recordes no quarto trimestre e no acumulado do ano, com direito à expansão de margem e melhor índice de eficiência de sua história.
A plataforma de investimentos encerrou o quarto trimestre com lucro líquido ajustado de R$ 1,2 bilhão, um aumento de 16% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo o balanço divulgado na terça-feira, 18 de fevereiro. Com isso, a empresa terminou 2024 com lucro de R$ 4,5 bilhões, alta de 17%.
A receita bruta superou os R$ 4,7 bilhões nos últimos três meses de 2024, um crescimento de 10% em base anual, totalizando R$ 18 bilhões no ano, avanço de 15%. O retorno sobre o patrimônio líquido médio (ROAE, na sigla em inglês) ajustado chegou a 23,4% no trimestre, aumento de 2,3 pontos percentuais em base anual, e em 23% no ano, expansão de 1,6 ponto percentual – o resultado foi calculado de acordo com as regras contábeis dos Estados Unidos, diferente do resultado dos bancos.
No balanço, a XP destacou os efeitos da reestruturação promovida nas operações, com diversificação de receita e controle de despesas, além da maior participação da renda fixa. A companhia entende que, com essa receita, está preparada para encarar 2025, que também promete ser difícil, sem risco de se desviar do cumprimento do guidance estabelecido para 2026.
“As decisões estratégicas tomadas nos últimos anos transformaram a XP”, diz o CEO da XP, Thiago Maffra, no balanço da companhia. “Tenho convicção que hoje somos uma empresa muito mais preparada, eficiente e capacitada para seguirmos nossa missão e entregarmos crescimento no longo prazo.”
No lado operacional, a XP informou que a captação líquida total fechou o quarto trimestre em R$ 25 bilhões, um aumento de 37% em base anual. O período foi novamente marcado pela pujança do varejo, que ainda demonstra forte apetite por renda fixa – a captação líquida de varejo foi de R$ 25 bilhões, alta de 63%.
Na comparação com o terceiro trimestre, porém, os números registram quedas – de 17% na captação total e de 21% no varejo, com o fim do ano sendo um período mais fraco para a XP.
No ano, a captação líquida total caiu 2%, para R$ 103 bilhões, mas o varejo registrou aumento de 34%, para R$ 81 bilhões, quando desconsiderado o efeito da captação inorgânica pela aquisição do Modal.
Em conversa com jornalistas, Victor Mansur, CFO da XP, afirmou que a companhia vem registrando captação por volta de R$ 20 bilhões no varejo e “espera que continue sendo isso ao longo de 2025”. “Estamos confortáveis com esse nível e esperamos continuar vendo isso neste ano”, disse.
O varejo apresentou uma receita de R$ 3,6 bilhões no final de 2024, alta de 13% em base anual. O balanço aponta para a manutenção do bom momento da renda fixa, que cresceu 43%, para R$ 985 milhões. A renda variável, por sua vez, teve recuo de 15%, para R$ 1 bilhão.
Mansur destacou que a XP investiu nos últimos anos para ampliar a prateleira de renda fixa, após ter sentido duramente os efeitos da reversão de cenário nos últimos anos, que resultou na saída de clientes de fundos de ações e multimercados. Com a renda fixa sendo novamente o “cavalo da vez”, a empresa se vê agora melhor posicionada.
“Sofremos muito em 2022, 2023 e 2024 com a mudança no mix de produtos no portfólio dos clientes, com o movimento que apelidamos internamente de ‘seliquization’”, disse. “Nós investimos muito na plataforma de renda fixa, nossa capacidade de fazer negócios não tem paralelo com a XP de um ano atrás.”
Ele destacou que, estudando os portfólios dos clientes, o movimento “parece estar próximo do fim, para esse nível de taxa de juros”. Isso significa que outras linhas de receita “não devem sofrer como nos últimos três anos, devem se estabilizar, e renda fixa cresce”.
Os ativos sob custódia fecharam o quarto trimestre em R$ 1,2 trilhão, alta de 9%, com o crescimento impactado pelos R$ 103 bilhões em captação líquida e R$ 2 bilhões de apreciação de mercado.
A XP fechou o ano com 4,7 milhões de clientes ativos, alta de 3%, com o take rate de 1,33%, estável contra o trimestre anterior, mas acima do 1,27% visto no quatro trimestre de 2023.
Segundo Mansur, a empresa está atualmente buscando clientes “de forma mais seleta”, buscando aqueles em que possam agregar valor, com foco em clientes assessorados, com maior ticket. “A base de clientes continua crescendo, mas vocês nunca vão nos ver com 30 milhões, 50 milhões de clientes, como alguns concorrentes”, afirmou.
Nas outras linhas de receita da parte de varejo, destaque para a parte de cartões, uma das principais apostas para diversificar as operações para além dos investimentos. A XP registrou um avanço de 9% da receita, em base anual, e de 10% ante o resultado do terceiro trimestre, para R$ 333 milhões.
O TPV (volume total de pagamentos) somou R$ 13,1 bilhões no quarto trimestre, um crescimento de 11% contra o mesmo período do ano anterior. No acumulado do ano, o TPV foi de R$ 47,9 bilhões, 17% maior que 2023.
Mansur destacou que as novas verticais estão começando a ter desempenho positivo em 2024 e devem começar a entregar resultados para a empresa. “Temos cartão de crédito no breakeven, mas tem outros produtos pegando escala, que estão em fase de investimentos”, disse.
Um dos destaques do período, o índice de eficiência, divisão entre as despesas administrativas gerais e a receita, nos últimos 12 meses alcançou 34,7% no último trimestre de 2024, menor patamar desde o IPO, feito em 2019.
As despesas somaram R$ 1,6 bilhão no quarto trimestre, alta de 2% em relação ao quarto trimestre de 2023. No ano, as despesas somaram R$5,9 bilhões, 10% maiores em comparação a 2023.
O EBT (desempenho operacional e financeiro antes da incidência de impostos) alcançou R$ 1,3 bilhão no trimestre, aumento de 30%, com margem de 28,7%, 4,13 pontos percentuais acima do quarto trimestre de 2023. No ano, a métrica somou R$ 4,974 bilhões, 26% de crescimento, e margem de 29,1%, 2,63 pontos percentuais acima do último ano.
Para 2026, a XP projeta que a margem EBT fique entre 30% e 34% e que a receita bruta fique entre R$ 22,8 bilhões e R$ 26,8 bilhões.
Listadas na Nasdaq, as ações da XP acumulam queda de 40,5% em 12 meses, levando o valor de mercado a US$ 8 bilhões.
Reportagem atualizada às 19h24 para incluir a entrevista com Victor Mansur, CFO da XP.