As pequenas e médias empresas (PMEs) são um universo enorme que ainda não digitalizaram boa parte de seus processos. Foi olhando esse mercado que Timor Espallargas e Thomas Carlsen resolveram empreender.
Eles fundaram, em 2019, a Mywork, uma startup cujo objetivo é digitalizar o departamento pessoal das pequenas e médias empresas, começando pela controle de ponto. Desde então, conquistaram 1,5 mil clientes, que somados têm 20 mil funcionários.
Agora, a Mywork está captando R$ 3,5 milhões em uma rodada seed liderada pela Domo Invest e pela ABSeed para ir além do controle de ponto. Participaram também do aporte a Bossa Nova Investimentos, a Raio Capital e executivos de empresas como Stone, Cielo, Nubank e Jusbrasil.
“O meu maior concorrente é a Tilibra”, brinca Carlsen, referindo-se à fabricante de cadernos que pertence hoje à americana MeadWestvaco. “O controle de ponto ainda é feito com papel e caneta e é um oceano azul de oportunidades.”
Com os recursos, a Mywork vai expandir a sua atuação para outras necessidades do departamento pessoal, como controle de férias, gestão de benefícios e folha de pagamento. Em uma próxima etapa, o plano é também ter produtos financeiros complementares ao RH.
A meta é conquistar 10 mil clientes até o fim de 2023. Atualmente, usam a plataforma da Mywork o clube de futebol Grêmio Novorizontino (que disputa a série C do Campeonato Brasileiro e a A do Paulista) e diversas unidades de franquias da OdontoCompany, Nutty Bavarian, Aramis, O Boticário, Amor aos Pedaços, Bolo da Madre e Imaginarium.
A startup cobra uma mensalidade com base no número de usuários que batem o ponto, no modelo de SaaS (Software as a Service). O valor médio varia de R$ 5,30 a R$ 12 por funcionários, dependendo do tamanho da empresa. O cliente típico tem em torno de 12 empregados e paga cerca de R$ 90 reais por mês pela plataforma completa.
“O sistema é 100% na nuvem e não depende de um hardware. O funcionário pode usar no desktop, smartphone ou tablet para bater o seu ponto”, diz Espallargas.
Carlsen e Espallargas se conheceram quando cursavam o MBA da Columbia Business School, em Nova Iorque, em 2016. Na ocasião, os dois compartilharam o sonho de empreender no Brasil.
Ao voltar ao País, Carlsen, que terminou o MBA um ano antes de Espallargas, foi trabalhar na Cobli, um logtech que mescla internet das coisas e inteligência artificial para fazer gestão de frotas.
Pouco tempo depois, ao reencontrar Espallargas, eles decidiram estudar mercados em que podiam empreender, seguindo o playbook que atrai os investidores de venture capital: encontrar uma dor que precisa de soluções tecnológicas e um mercado grande. “Eu queria alguma coisa com software e esbarramos no departamento pessoal”, diz Espallargas.
Esse é um mercado, segundo o cálculo da dupla, que conta com três milhões de empresas, 30 milhões de empregados e com um potencial de R$ 40 bilhões, só levando-se em conta a área de departamento pessoal, que é uma fração do segmento de RH.
“Nessa fase, o mais importante é a qualidade dos empreendedores”, diz Franco Pontillho, sócio da Domo Invest e gestor do Fundo Anjo da gestora, que tem R$ 142 milhões para investir em startups em estágios bem iniciais. A meta é apostar em 100 empresas, sendo mais de 40 até o fim deste ano.
Muita gente tentou acabar com o papel e a caneta. Até agora, ninguém conseguiu. Esse é o desafio de Carlsen e Espallargas. Pelo menos, para uma parte das pequenas e médias empresas.