A Andreessen Horowitz (a16z), uma das gestoras de venture capital mais influentes do Vale do Silício, está aumentando a sua aposta na América Latina, segundo múltiplas fontes com as quais o NeoFeed conversou.
A gestora fundada por Marc Andreessen e Ben Horowitz, que tem US$ 35 bilhões em ativos sob gestão, já fez 19 investimentos em startups da região. O portfólio inclui unicórnios como Rappi, Loft e Bitso, mas também companhias que estão dando os primeiros passos como Addi, Inventa, NG.Cash e Latitud.
A intenção agora é intensificar os investimentos na região e o alvo preferencial serão fintechs e healthtechs em estágio inicial. Os cheques podem variar de US$ 1 milhão a US$ 5 milhões, mas não há restrição de fazer aportes com valores maiores, dependendo da oportunidade.
Não há, no entanto, planos de montar um escritório em São Paulo. Por enquanto, a a16z, que ganhou fama e fortuna ao fazer os primeiros cheques para empresas como Facebook, Instagram, Lyft, Airbnb, Robinhood, Instacart e Foursquare, vai estreitar o relacionamento com fundos de venture capital locais, que a ajudarão no deal flow.
Na semana passada, executivos da gestora estiveram no Brasil, onde fizeram vários encontros com investidores e empreendedores. Foram recebidos na sede do BTG Pactual, em São Paulo. Eles participaram também de um evento com o Latitud, um hub de empreendedorismo fundado por Brian Requarth, Gina Gotthilf e Yuri Danilchenko e que ajuda a conectar empreendedores com investidores.
Estavam presentes nesses eventos Scott Kupor, que é managing partner da a16z; David Haber, general partner e que cuida da área de fintech; Jen Kha, responsável pelas relações com investidores e fundraising; e Gabriel Vasquez, um dos sócios focados em prospectar startups da América Latina.
“Eles passaram a olhar com mais carinho a região, assim como vários fundos internacionais, que começaram a investir em países emergentes”, disse uma fonte que participou do evento do BTG Pactual. “A Rússia, por conta da guerra, não rola mais investimentos; a Índia ninguém entende; e a China está fechada. Sobram o Brasil e o México.”
O banco de André Esteves ajudou também a a16z a captar recursos com investidores brasileiros no ano passado e o objetivo do encontro era dar uma satisfação a esses LPs onde o dinheiro havia sido investido. Apesar de que uma das razões do encontro fosse prestar conta aos investidores brasileiros, o BTG Pactual convidou também empreendedores e gestores de fundos de venture capital para participar da conversa.
No evento da Latitud, estavam presentes mais de 200 empreendedores e investidores. “Encorajar mais investimento internacional é importante”, disse Kupor, no encontro. “Obviamente, existem investidores e firmas de VCs incríveis aqui no ecossistema. Mas quanto mais capital puder fluir para a economia da América Latina, melhor para os investidores existentes e para fomentar a incorporação de mais companhias.”
Questionado pelo NeoFeed sobre os planos da Andreessen Horowitz para a América Latina, Requarth, que foi o anfitrião do evento, disse que não poderia falar em nome da a16z. “Mas nós somos um exemplo de startup da América Latina investida por eles”, afirmou. “Esperamos que a a16z continue a apostar ainda mais na América Latina.”
Um empreendedor que participou desse encontro, e pediu para não ser identificado, disse ao NeoFeed que antes a a16z era inacessível. “Agora, é possível acessá-los”, disse ele. “Eles estão querendo se aproximar do nosso mercado.”
A Latitud, de fato, é um bom exemplo do apetite que a gestora passou a ter na região a partir deste ano. Em março, a gestora liderou um aporte seed de US$ 11,5 milhões, em um dos maiores valores para este estágio de investimento na América Latina.
Antes, a a16z tinha apostado na Inventa, marketplace voltado para o abastecimento de estoque de pequenos lojistas, que recebeu R$ 115 milhões em uma rodada coliderada com a brasileira monashees, em janeiro deste ano. Na época, este era apenas o segundo investimento da a16z no Brasil – o primeiro havia sido na Loft, dois anos antes.
Desde então, a a16z intensificou os aportes na região, já sinalizando o seu apetite por deals na América Latina. Além da Latitud, a gestora investiu também na fintech brasileira NG.Cash.
Na Argentina, apostou na plataforma para restaurantes Fudo, em conjunto com os fundos brasileiros Maya e Atlantico. No Uruguai, investiu na Datanomik, uma plataforma de open banking B2B. Na Colômbia, trouxe para o seu portfólio a fintech Yuno.
“A região é muito pouco explorada e há ainda muitas oportunidades”, diz o gestor de um fundo de venture que já coinvestiu com a a16z, justificando o motivo de a a16z reforçar os aportes por aqui. “Ainda há pouco capital na América Latina.”
Outro sinal de que a América Latina está no radar da a16z – e as fintechs são um dos alvos – foi um artigo publicado em seu site, em 18 de outubro, em que analisa o surpreendente “vento de cauda” das startups financeiras brasileiras.
Assinado por Flora Oliveira, ex-funcionária da Loft e estagiária na a16z, e por Angela Strange, general manager da gestora, o artigo faz uma análise das mudanças regulatórias nos últimos 10 anos no Brasil, elogia o PIX, o open banking e conclui que o futuro das fintechs brasileiras é brilhante.
“A modernização contínua do regime regulatório e a ânsia dos empreendedores brasileiros em criar produtos e serviços atraentes para consumidores e empresas tornam o Brasil um lugar interessante para se estar”, escreveram Oliveira e Strange, em um trecho do artigo.
E concluem: “Se você está construindo a próxima grande fintech, com base nessas tendências ou nas novas esperadas, adoraríamos nos conectar.” Mensagem mais direta, impossível.