O drama da WeWork ainda está longe do fim, mas seu fundador, Adam Neumann, encontrou um controverso final feliz, mesmo tendo sido pivô neste enredo desastroso.
No auge de seus 40 anos, o empreendedor israelense foi do céu ao inferno com a tentativa de abertura de capital de sua startup que era avaliada em US$ 47 bilhões.
Nesta terça-feira, 22 de outubro, um capítulo deve se encerrar. O fundo japonês Softbank, que detém um terço do WeWork, deve assumir o controle da combalida empresa, avaliando-a em US$ 8 bilhões.
Neumann vai deixar a companhia que fundou. Mas levará, segundo uma reportagem do The Wall Street Journal, aproximadamente US$ 1,7 bilhão.
A proposta feita pelo Softbank, que foi aceita pelo WeWork, prevê a compra de US$ 1 bilhão em ações do empresário, que em setembro renunciou do cargo de CEO para apaziguar o ânimo dos investidores.
Neumann receberá ainda um crédito de US$ 500 milhões para liquidar um empréstimo do mesmo valor feito junto ao JP Morgan e embolsará US$ 185 milhões para consultorias.
Em troca, o Softbank pede que Adam Neumann renuncie ao cargo de chairman da We Co, a holding que controla o WeWork. Ele, no entanto, ainda manterá uma fatia da empresa e ficará como observador no board.
Esse é o mais novo capítulo da saga do WeWork, que fracassou na sua tentativa de abrir o capital devido a uma desconfiança dos investidores com o valor da empresa e a práticas de governanças corporativas heterodoxas.
A startup empregava familiares de Neumann, como a sua esposa Rebekah Paltrow Neumann, que respondia pelo cargo de chefe de marcas (chief brand), e seu cunhado, Chris Hill, que era chefe de produto. Além disso, Neumann era dono de alguns dos prédios alugados pela WeWork por mensalidades milionárias.
Outro conflito de interesse foi a troca do nome do grupo de WeWork para We Company. Descobriu-se, posteriormente, que Neumann era dono da palavra "We" e, por conta dessa mudança, ele embolsou, sozinho, US$ 5,9 milhões.
A má conduta do empresário não era nenhuma novidade aos funcionários. De acordo com uma reportagem do The Wall Street Journal, em 2016, Neumann teve de tomar a difícil decisão de dispensar 7% de sua equipe, numa tentativa de conter os gastos da companhia.
Depois de expressar seu pesar diante do cenário, pediu para que doses de tequila fossem servidas ao som de hits dos anos 1980, no que se transformou em uma verdadeira "festa".
Outro detalhe que também desagradou bastante os possíveis investidores foi o fato de Neumann obter ainda mais de US$ 740 milhões da empresa por meio de uma combinação de empréstimos e de venda de ações pouco antes da tentativa de IPO, num movimento inusitado.
Antes do WeWork, o israelense já havia tentando dois outros negócios – e fracassado em ambos, o que, na cultura do Vale do Silício não é considerado nenhum problema.
O primeiro negócio era uma linha de sapatos com saltos reversíveis para mulheres. O segundo, uma linha de roupa para bebês com joelhos acolchoados, para tirar a pressão do engatinhar.
No auge do WeWork, fundado em 2010, Neumann tornou pública sua ambição de se tornar o primeiro trilionário do mundo e de ser Primeiro Ministro de Israel. Por enquanto, parece que conseguiu US$ 1,7 bilhão.
O resgate
Sob risco de ficar sem dinheiro em caixa para manter suas operações, a WeWork tinha nas mãos uma proposta apresentada pela JPMorgan Chase com um "pacote" de financiamento de dívida no valor de US$ 5 bilhões.
Embora tenha considerado essa alternativa, a companhia especializada em escritórios compartilhados optou por seguir com a oferta de cerca de US$ 3 bilhões do Softbank, que já era seu maior investidor externo.
O fundo do bilionário japonês Masayoshi Son aportou US$ 10,5 bilhões na empresa e controlava aproximadamente um terço de suas ações.
Ainda que todos os detalhes do acordo não sejam públicos, sabe-se que a proposta feita pela Softbank avalia a WeWork em US$ 8 bilhões – uma cifra expressivamente menor que os US$ 47 bilhões que o fundo de investimento atribuía à startup em janeiro..
Um dos principais executivos do SoftBank, Marcelo Claure, deve assumir o posto de Neumann como presidente do conselho. Sua principal e mais urgente função, agora, é encontrar um novo CEO para o WeWork, que têm dois interinos (Bruce Dunlevie e Lew Frankfort) na função desde o desligamento de Neumann.
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