Ao mesmo tempo em que está desacelerando os investimentos na América Latina, o Softbank parece que vai partir para o ataque globalmente. Sofrendo perdas consideráveis nos fundos que administra, o grupo comandado por Masayoshi Son já considera o lançamento de um terceiro fundo de investimento em startups da série Vision.
O conglomerado com sede em Tóquio provavelmente usaria recursos próprios para financiar o terceiro Vision Fund, segundo o The Wall Street Journal (WSJ). A estratégia já foi utilizada para capitalizar uma parte dos dois últimos fundos globais do grupo.
O valor do novo fundo ainda não foi determinado. No Vision Fund I, lançado em 2017, o grupo japonês levantou US$ 100 bilhões para realizar investimentos em startups, sendo US$ 28 bilhões do próprio caixa e o restante de terceiros. Já o Vision Fund II, lançado em 2019, foi capitalizado em US$ 49 bilhões com caixa do Softbank e de sócios do grupo – incluindo Son.
Dinheiro não deve ser necessariamente um problema. Ao fim do último trimestre, o grupo japonês reportou que tinha mais de US$ 50 bilhões em caixa – valor que ainda foi acrescido de cerca de pelo menos US$ 10 bilhões com a venda de contratos futuros do Alibaba realizada nos últimos meses.
Para reforçar o caixa, é preciso lembrar que o grupo japonês pretende realizar a listagem pública da ARM no próximo ano. De acordo com a Bloomberg, a expectativa é de que o IPO faça a fabricante britânica de chips semicondutores ser avaliada em pelo menos US$ 60 bilhões – quase o dobro dos US$ 32 bilhões investidos pelo Softbank em 2016.
Esta não é a primeira tentativa do conglomerado de Son para tentar obter retorno com o investimento feito na ARM. Em 2020, a empresa britânica chegou a ser envolvida em uma negociação com a Nvidia, mas o acordo que foi estimado em US$ 66 bilhões foi barrado por órgãos antitruste.
A especulação sobre um novo fundo ocorre em um momento de pressão no Softbank. O grupo japonês atravessa um momento ruim por perdas significativas com seus investimentos. Em seu último balanço, do segundo trimestre deste ano, o grupo reportou prejuízo recorde de US$ 23 bilhões. Em 2021, o resultado havia sido de lucro de US$ 5,6 bilhões para o período.
O novo fundo terá a missão de conseguir algo que seus predecessores não conseguiram: taxas altas de rentabilidade. O primeiro Vision Fund registrava, em março, apenas 11% de retorno contra uma média de 38% no setor no mesmo período. Já o segundo fundo registrava percentual nulo, segundo dados da empresa de pesquisas Preqin.
Os resultados ruins vêm de apostas em empresas como WeWork e Lyft, que sofrem na bolsa de valores desde o IPO, além da Uber, em que o grupo decidiu realizar o desinvestimento recentemente.
Há também negócios que perderam muito valor de mercado. O Alibaba, por exemplo, registra queda de 44% em suas ações nos últimos 12 meses. Outro tiro que saiu pela culatra foi o investimento na fintech Klarna, que viu seu valuation privado despencar.
Ao mesmo tempo em que cogita lançar um novo fundo, o Softbank faz demissões de funcionários de seus veículos de investimento. A companhia está cortando pelo menos 20% do time responsável pela administração dos fundos, o que corresponde a cerca de 100 empregados. O conglomerado também reduziu vencimentos de seu diretor financeiro e de outros executivos.
Na América Latina, o grupo segue investindo na região, mas agora em um ritmo mais lento e com critérios mais rigorosos para avaliar as empresas para as quais vai assinar os seus cheques.
“Não é uma coisa específica do SoftBank. O ritmo de investimento em novas empresas diminuiu bastante. Acho que a barra é diferente de quando a gente olhava em 2020 e 2021″, disse Alex Szapiro, managing partner do grupo, em entrevista recente ao NeoFeed.
De acordo com o investidor, as startups estão revendo suas projeções de crescimento para ficarem mais próximas da realidade do mercado.
“Muitas empresas que estavam naquela fase de early para growth também estão ajustando um pouco. Em vez de crescer 50%, 60%, 70% ao ano, elas agora estão fazendo suas lições de casa para estarem prontas para o próximo estágio que é Série B e C.”