A onda de demissões em massa parece não estar restrita somente às startups. Um dos maiores grupos de investimento do mundo, o Softbank também vai reduzir o seu quadro de funcionários de forma agressiva. O grupo japonês pretende cortar pelo menos 20% da equipe responsável pela operação do Vision Fund. Isso significa cerca de 100 demissões.

Conforme reportado pela Bloomberg, os desligamentos devem ser feitos ainda neste mês e vão afetar principalmente trabalhadores alocados no Reino Unido, nos Estados Unidos e na China, países que concentram cerca de 400 dos 500 funcionários do Vision Fund. Há também uma operação na América Latina, mas não se sabe se esta será afetada.

De certa forma, os cortes não surpreendem. Em março, o grupo começou a desacelerar seus investimentos dando um sinal de que os tempos de bonança do SoftBank poderiam ter terminado. Dois meses depois, o fundo japonês reduziu vencimentos de seu diretor financeiro e de outros executivos. 

O sinal mais claro veio no mês passado, quando Masayoshi Son, bilionário fundador do grupo com sede em Tóquio, afirmou que planejava cortar custos da operação. “É a maior perda da nossa história e levamos isso muito a sério”, disse Son na época. “Temos que recorrer a grandes esforços no corte de custos do Vision Fund.” Esses esforços, segundo o executivo, iriam incluir demissões.

O anúncio dos cortes veio poucas semanas após o Softbank registrar um prejuízo recorde de US$ 23 bilhões no segundo trimestre deste ano. Para efeito de comparação, o fundo japonês havia registrado lucro de US$ 5,6 bilhões no mesmo período do ano passado. A maior parte das perdas vem da desvalorização cambial do iene frente ao dólar e das quedas vertiginosas de ações de empresas investidas pelo grupo. 

São os casos da coreana Coupang e da americana DoorDash. A primeira viu suas ações desvalorizarem mais de 42% desde o começo do ano e está avaliada em US$ 29,2 bilhões. Já os papéis da segunda, que vale US$ 22,6 bilhões, recuaram quase 60% no mesmo período. 

O Softbank também está perdendo o executivo Rajeev Misra, braço direito de Son e um dos responsáveis pela criação do Vision Fund, em 2017. Outros executivos de alto escalão também deixaram o grupo nos últimos meses, como o diretor de operações Marcelo Claure e o diretor de estratégia Katsunori Sago.

Para tentar dar uma resposta aos investidores, o Softbank resolveu jogar na defensiva. No mês passado, o grupo japonês afirmou que levantou mais de US$ 17 bilhões com a venda de contratos futuros do Alibaba, uma das empresas que está sofrendo no mercado neste ano. A desvalorização da companhia chinesa neste ano é de 23%. O valor de mercado atual é de pouco mais de US$ 242,6 bilhões.

Outro movimento de defesa foi a abertura de negociações para a venda da Fortress Investment Group, gestora de ativos comprada pelo grupo japonês em 2017 por US$ 3,3 bilhões. 

A postura mais cautelosa do Softbank afeta também a operação da companhia na América Latina, composta por dois fundos que, somados, tinham US$ 8 bilhões para investimentos (dos quais US$ 7,6 bilhões já estão alocados).

Conforme reportado recentemente com exclusividade pelo NeoFeed, o grupo segue investindo na região, mas agora em um ritmo mais lento e com critérios mais rigorosos para avaliar as empresas para as quais vai assinar os seus cheques.

“Não é uma coisa específica do SoftBank. O ritmo de investimento em novas empresas diminuiu bastante. Acho que a barra é diferente de quando a gente olhava em 2020 e 2021", disse Alex Szapiro, managing partner do grupo.

De acordo com o executivo, as startups estão revendo suas projeções de crescimento para ficarem mais próximas da realidade do mercado. “Muitas empresas que estavam naquela fase de early para growth também estão ajustando um pouco. Em vez de crescer 50%, 60%, 70% ao ano, elas agora estão fazendo suas lições de casa para estarem prontas para o próximo estágio que é Série B e C.”