A Facily, um ex-unicórnio que encolheu de tamanho, pode ter o seu capítulo final. A startup, que já chegou a ser avaliada em US$ 1,1 bilhão, contratou o banco BR Partners para ser vendida, fontes a par do assunto disseram ao NeoFeed.

A ideia é encontrar um comprador para a startup, que recebeu US$ 502 milhões de investidores globais como Tiger Global, Prosus, Founders Fund, Quona Capital, Alter Global, Luxor Capital, além das gestoras brasileiras Canary e Monashees.

Os investidores acreditam que uma moeda de troca que pode atrair um comprador são os créditos fiscais da companhia, estimados entre R$ 800 milhões e R$ 1 bilhão. O fato de nunca ser lucrativa poderia também ser usado para abatimento de imposto de renda.

Mas tributaristas com os quais o NeoFeed conversou acham difícil o uso dos créditos fiscais e consideram improvável uma operação para abater imposto de renda pelas restrições desse tipo de transação.

“Nessas operações, não pode haver mudança de controle, nem mudança de atividade. Além disso, a empresa com prejuízo precisa ser a adquirente. É um mercado bastante restrito”, explica um tributarista.

De acordo com uma fonte, a Facily tem hoje uma base de mais de 20 milhões de clientes (embora boa parte deles não está ativo) e conta com uma plataforma de social commerce que poderia interessar a alguma empresa.

O BR Partners, no entanto, está na fase inicial de análise da startup e fazendo uma due dillegence para entender os números e quais os ativos que poderiam ser vendidos.

Até o momento, o banco de investimento não saiu a mercado para prospectar possíveis compradores e nem estabeleceu valores que poderiam ser negociados, disse outra fonte ao NeoFeed.

Essa seria uma forma de minimizar os prejuízos da Facily, um dos símbolos da exuberância do mercado de venture capital nos anos 2020 e 2021, em que a alta liquidez fez com que dinheiro fácil abastecesse muitas startups que não tinham modelos de negócios consistentes.

A Monashees, uma das investidores da Facily, por exemplo, já deu baixa contábil no ativo. Na prática, isso significa que a gestora de venture capital não tem mais esperança em recuperar o dinheiro investido.

Fundada em 2018 por Diego Dzodan, Vitor Zaninotto e Luciano Freitas, a Facily tem um longo histórico de problemas. No início de 2022, logo após concluir a rodada série D e captar US$ 135 milhões, a empresa de social commerce deu início a uma longa e profunda reestruturação.

Em seis meses, o dinheiro captado para reforçar a operação logística entrou para a queima de caixa. Naquele momento, cerca de 30% da base de 860 funcionários foi demitida.

Naquele mesmo ano, a Facily entraria para a lista de recordista de reclamações no Procon-SP. A empresa recebeu quase 26 mil queixas em 2022 e saltou do 17º lugar para o topo da lista em 12 meses.

No ano de 2023, a empresa estava em reestruturação e Dzodan, em entrevista ao NeoFeed, admitiu que a startup esteve perto de fechar.

“Quando você projeta um crescimento baseado em acesso a capital e isso não acontece, você gasta mais dinheiro do que tem”, disse o cofundador há 12 meses. “Se a Facily não tivesse ajustado as despesas, dinheiro em caixa não teria sido o suficiente.”

Dzodan afirmou que a startup planejava atingir o breakeven em 2023, algo que não aconteceu. A empresa segue operando, mas ainda é deficitária.

O NeoFeed não conseguiu contato com a Facily para comentar a reportagem.