Enquanto muitas startups se esbaldavam com a fartura de recursos do venture capital e tornavam-se unicórnios, a Housi, fruto de um spin-off da incorporadora Vitacon, “desafiou” essa onda. Criada em 2019, a proptech recebeu, desde então, um único aporte, de R$ 50 milhões, da Redpoint eventures.

Após cumprir boa parte desse percurso com suas próprias pernas, a empresa está seguindo novamente na contramão. Em um momento de seca nos investimentos e de menor liquidez no mercado, a Housi acaba de captar uma rodada US$ 10 milhões.

Quem lidera o investimento, ao lado da Redpoint eventures, é a TM3 Capital, gestora de Marcel Malczewski, cofundador da Bematech. O aporte conta ainda com a participação do Açolab Ventures, fundo de corporate venture capital da ArcelorMittal.

“É uma rodada exclusivamente de crescimento, para ganharmos musculatura, de forma exponencial”, diz Alexandre Lafer Frankel, fundador e CEO da Housi, com exclusividade ao NeoFeed . “Vamos antecipar três anos em menos de 12 meses. E, se tudo der certo, seremos o primeiro camelo a ter um chifre na testa”, brinca.

O termo camelo ganhou força, em especial na pandemia, para se referir justamente às startups capazes de sobreviver em um mercado mais árido em recursos. E, agora, com o tanque mais cheio, a Housi quer acelerar o passo tanto no Brasil como em outras fronteiras.

A estreia internacional está programada para o segundo semestre de 2024 e terá como primeiros palcos os Estados Unidos e Portugal. A escolha desses dois mercados é justificada: essa incursão será feita com a companhia de duas incorporadoras parceiras com as quais a startup já mantém relação no Brasil.

O plano envolve quatro projetos-pilotos, divididos entre prédios já prontos e lançamentos. Esses imóveis vão embarcar o modelo que a Housi classifica como um misto de “Windows do real estate” e “App Store” do setor, o que se traduz em empreendimentos que levam a bandeira em uma série de produtos e serviços aos moradores.

“Essas incorporadoras, assim como muitos dos parceiros de produtos e serviços, já atuam também nesses países”, afirma Frankel. “Então, é uma entrada orgânica, num modelo plug and play. A ideia é começar com o pé no chão, para tatear esses mercados. Para aí sim, em 2025, começar a avançar.”

Caso esse percurso seja bem-sucedido, a próxima escala no radar é o México e, num terceiro momento, países como Canadá e Espanha. Antes de cumprir esse roteiro, porém, a Housi planeja investir em uma estrutura enxuta no exterior, a partir da nomeação, já no segundo semestre, de um executivo local.

O fato de a startup ter agora a ArcelorMittal, via Açolab Ventures, entre seus investidores é outro ponto destacado nessa nova jornada. “É uma multinacional que pode nos abrir portas globalmente e que tem tecnologias que podemos levar para toda a nossa base”, diz o CEO da Housi.

De mercados a montadoras, os prédios com a bandeira da Housi são equipados com a oferta de mais de 200 parceiros

A chegada da TM3, gestora com mais de R$ 1,4 bilhão de ativos sob o seu guarda-chuva e com uma boa parcela desses recursos no mercado de real estate, também é apontada como uma vantagem nessa nova fase. E se conecta com outro destino do novo cheque.

A cidade de Vitória, capital do Espírito Santo, onde a TM3 mantém parte dos ativos sob o seu guarda-chuva, irá sediar um centro de treinamento da Housi, tanto para funcionários do seu quadro como para parceiros, além de abrigar parte da equipe de tecnologia da startup.

Essa estrutura, que também incluirá prédios parceiros, será viabilizada ainda nesse primeiro semestre. Aqui, o plano é montar uma espécie de laboratório para o entendimento do modelo proposto pela proptech, que, nesse ano, planeja ter entre 40 e 50 profissionais nesse modelo na capital capixaba.

“Nossa ideia já era ter um centro fora de São Paulo, até mesmo para testar uma operação remota”, afirma Frankel. “E vamos usar essa base também como um polo de desenvolvimento de tecnologia, já que a região tem uma boa oferta de profissionais, com menos concorrência na contratação.”

FDIC e CVC à vista

No Brasil, uma parcela dos recursos também será aplicada para encorpar o modelo da Housi. Na prática, a empresa fecha parcerias com incorporadoras, que passam a equipar seus empreendimentos – prontos ou lançamentos – com a bandeira e o leque de produtos e serviços viabilizados pela startup.

Atualmente, na primeira ponta, a proptech tem mais de 500 prédios e mais de 100 mil unidades em sua base, sem que, para isso, tenha que investir um centavo em um metro quadrado. Com essa tese, o valor geral de vendas (VGV) da empresa, que faturou R$ 300 milhões em 2023, está próximo de R$ 25 bilhões.

Já na frente de produtos e serviços, são mais de 200 parceiros, em um leque inclui desde farmácias, mercados de bairro e comerciantes locais até montadoras, lavanderias e players como Petz, Cacau Show, Renault, Nestlé e Zé Delivery, o aplicativo de entregas da Ambev.

Nesse último elo, outro plano da Housi, também para esse ano, é estruturar um fundo de corporate venture capital, que usará justamente a “App Store” da companhia como seu aquário. Já no campo das incorporadoras, o próximo passo é começar a avançar na oferta de produtos e serviços financeiros.

Após realizar alguns projetos-pilotos no fim de 2023, a empresa está estruturando um Fundo de Investimento em Direito Creditório (FIDC) para financiar operações das incorporadoras da sua base. O valor a ser captado e o parceiro na criação desse veículo não foram revelados.

“Já temos essa demanda mapeada e vamos oferecer crédito, em especial, para incorporadoras em fases de pré-lançamentos”, diz Frankel. “A ideia é que a gente possa girar muitas vezes esse capital, já que, uma vez lançado o empreendimento, essas empresas passam a ter, rapidamente, um fluxo positivo.”

Com todas essas iniciativas na rua, a Housi tem a meta ambiciosa de fechar 2024 com uma receita de cerca de R$ 1 bilhão e superar a marca de 300 mil unidades em seu portfólio. E, atingindo esses indicadores, a próxima etapa também já está desenhada.

“Tivemos muitos feedbacks de fundos com cheques de US$ 50 milhões a US$ 100 milhões que disseram que estarão conosco quando alcançarmos esse patamar”, diz Frankel. “Então, nossa ideia é consolidar números mais robustos e buscar uma nova rodada para almejar passos ainda maiores.”