O início de 2017 não foi nada fácil para Rodrigo Mourad e Parker Treacy. À frente da recém-criada Cobli, a dupla colecionou muitos “nãos” como resposta à proposta da startup: municiar a gestão de frotas com dados e automação, a partir da aplicação de conceitos como internet das coisas e inteligência artificial.

Depois de muitas negativas, a logtech encontrou o caminho para escalar o seu modelo. E nesta quarta-feira, 21 de julho, a empresa ganha, oficialmente, uma grande chancela para seguir o seu trajeto, ao anunciar um aporte de R$ 175 milhões, liderado pelo fundo japonês Softbank.

A rodada também marca a entrada na operação da Qualcomm Ventures, braço de venture capital da companhia americana de chips Qualcomm. E tem ainda a participação dos fundos NXTP Ventures, Fifth Wall e Valor Capital, que já investiam na empresa.

“O plano era buscar recursos entre o fim do ano e o início de 2022”, diz Mourad, cofundador e CEO da Cobli, ao NeoFeed. “Mas ainda temos muito a fazer e decidimos antecipar a rodada, especialmente com a oportunidade de acessar esses investidores.”

Ofertado no formato de software como serviço, o modelo que atraiu nomes desse calibre parte da instalação de sensores nas frotas dos mais de 3 mil clientes da Cobli. Hoje, essa base é composta por empresas de todos os portes, entre as mais conhecidas, companhias de capital aberto como a Mobly.

Com o uso de recursos como inteligência artificial e sistemas disponíveis tanto para os gestores como para quem está em campo, a startup cruza os dados capturados com informações coletadas em outras fontes. E, a partir dessas análises, oferece aplicações de acordo com diferentes demandas dos clientes.

O leque pode envolver um sistema para reduzir o tempo do trajeto de uma ambulância ou definir um roteiro para que se faça mais entregas do e-commerce. Ou mesmo para identificar quais são os postos de combustíveis com preços mais acessíveis em um determinado percurso.

Sob esse desenho, um primeiro foco do novo aporte será a evolução da plataforma, para atender um escopo maior de demandas. “Nesse ano, antes da rodada, já investimos mais de R$ 20 milhões em desenvolvimento de produto”, diz Mourad.

Como parte dessa estratégia, a logtech também vai reforçar sua capacidade de análise de dados e de geração de insights. Assim, o plano é ampliar o quadro atual de 200 funcionários para 500 profissionais até 2022.

Rodrigo Mourad, cofundador e CEO da Cobli

Dentro dessa orientação, outra iniciativa, já em curso, é o uso de novos sensores, com destaque para as câmeras embarcadas, que trarão imagens de dentro e de fora dos veículos. Já em testes, o sistema combina esses equipamentos com a inteligência artificial e tem previsão de lançamento em 2022.

“Esse sistema vai permitir identificar quem está dirigindo, se a pessoa está cansada, fumando, comendo, bebendo ou tendo algum outro comportamento indevido”, explica Mourad. “E isso vale também para ações como ultrapassar o sinal vermelho ou parar na faixa de pedestre.”

O projeto se conecta com outro produto em desenvolvimento e que também será alvo do cheque de R$ 175 milhões: a criação de ofertas adjacentes à plataforma, aproveitando a base de dados que a Cobli construiu em quatro anos de operação e com a qual tem uma relação diária.

O segmento em desenvolvimento é a oferta de seguros para frotas. Mas em um modelo ainda pouco difundido no Brasil, especialmente para clientes corporativos. A ideia é precificar as apólices a partir do comportamento dos motoristas ao volante. E para isso, a Cobli já parte de uma boa base.

“Temos três mil clientes cujos motoristas já dirigiram mais de 1 bilhão de quilômetros conosco”, afirma. “Então, já estamos trabalhando em parceria com seguradoras para criar ofertas diferenciadas, seja pelo modo como o motorista dirige, por quilômetro rodado ou em linha com outras demandas do setor.”

Como o produto ainda está em fase inicial de testes e de definição do modelo de divisão de receitas, Mourad não revela o nome das seguradoras envolvidas no projeto, previsto para ser lançado também em 2022.

Líder do Dataminer, braço do hub de inovação Distrito que mapeia o ecossistema brasileiro de startups, Tiago Avila enxerga boas perspectivas no modelo proposto pela Cobli. “Eles foram um dos pioneiros no País nessa mescla de logística, internet das coisas e inteligência artificial”, afirma.

Ele faz, no entanto, uma ressalva. “A perspectiva é de que eles tenham um mercado desafiador pela frente, com cada vez mais concorrentes nesse espaço”, completa, citando RotaExata, Rabbot, Joycar e Delfos Telematics como algumas das empresas que também estão explorando esses formatos.

Ao mesmo tempo, ele destaca a perspectiva de que as logtechs atraiam cada vez mais investimentos, como reflexo de aquisições realizadas no segmento por empresas como Magazine Luiza, Sequoia, B2W, Via Varejo e mesmo startups como MadeiraMadeira.

“É um processo natural”, diz Ávila. “Com esses acordos, os fundos e investidores estão percebendo que o mercado para as logtechs está cada vez mais líquido e que há oportunidades de saída lá na frente. Por isso, estão ganhando confiança para investir no setor que, por si só, já oferece muitas oportunidades.”